Com este editorial, o JB começou a lamber as botas dos milicos logo no dia seguinte ao golpe |
Indignado, o companheiro Eduardo Lima de Medeiros me alertou: no último infeliz aniversário da entrada do País nas trevas, o blogue do Jornal do Brasil colocou no ar uma recapitulação da quartelada de 1964 segundo o mais escrachado viés golpista.
A culpa pela virada de mesa institucional parece ser não de quem virou a mesa, mas sim do presidente João Goulart ("desistiu de organizar uma estratégia de resistência ao golpe instituído contra seu governo") e do populismo ("abalado há muito tempo por suas próprias contradições internas").
Nenhuma palavra sobre:
- ter sido o desfecho de uma conspiração direitista que vinha de longa data;
- a malograda tentativa anterior (do fracasso de 1961 os conspiradores extraíram lições valiosas para obterem êxito em 1964);
- a comprovada participação estadunidense na trama (daí soar tão ridícula a frase "o governo norte americano foi o primeiro a reconhecer a nova situação" -- afinal, o que mais se poderia dele esperar?);
- o fato de que o presidente do Senado favorecia a quartelada e tudo fez para que fosse "declarado vago o cargo de presidente" e empossado a toque de caixa o presidente da Câmara.
A versão falaciosa encontra sua mais perfeita expressão num texto ruim de doer, com redundâncias ("suas próprias", "consolidando o desfecho"), erros crassos ("golpe instituído", "a guarnição... sobre o comando dos generais"), inverdades (em seu governo, que não foi propriamente "conturbado" mas sim sabotado, Goulart não esteve "sempre em conflito com frentes militares", seja lá o que o autor quis dizer com esta expressão) e meias verdades ("teve as atividades políticas suspensas" é um eufemismo ridículo, que nem de longe dimensiona a violência cometida pelos militares ao cassarem os direitos políticos dos ex-presidentes da República João Goulart, Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek).
Enfim, depois de ter sido merecidamente escorraçado das bancas, o JB continua descendo a ladeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário