A Folha de S. Paulo noticiou no sábado retrasado (19/03):
"Uma opção de projeto da usina nuclear Fukushima 1 transformou o local em uma bomba-relógio dupla e acendeu um sinal amarelo sobre usinas nucleares: a estocagem do combustível usado no mesmo prédio do reator.
...Isso pode gerar uma explosão com efeitos trágicos, já que esse material - uma mistura de urânio, plutônio e outros elementos letais - é 1 milhão de vezes mais radioativo do que o combustível novo".
Só no 13º parágrafo aparecia a informação mais relevante para nós, brasileiros:
"Várias usinas atômicas no mundo adotam o mesmo projeto de Fukushima, de armazenar o combustível gasto no mesmo prédio do reator. Angra 2 e Angra 3 estão entre elas".
Bastou eu bater os olhos para perceber a enormidade da ameaça: de imediato, redigi o post Fukushima 1 é uma "bomba-relógio dupla". Angra 2 e Angra 3, também.
Ou não existem mais editores de verdade na grande imprensa, ou a mídia encontra-se totalmente subjugada a gigantes como a Eletrobrás, praticando a mais abjeta autocensura. Pois os enormes riscos que correm os moradores de Angra dos Reis e municípios vizinhos deveriam estar sendo noticiados e discutidos à exaustão.
Pelo contrário, tudo é escondido ou minimizado.
P. ex., um vazamento de material radioativo na usina de Angra 2, ocorrido em maio/2009, só foi comunicado à coletividade 11 dias depois!!! Esperaram que a situação estivesse sob controle, pois assim a falha despertaria menos interesse e indignação.
Só que, se a situação houvesse saído de controle, não se teria dado aos habitantes da região o direito de escolherem se queriam permanecer nos seus lares ou buscar local mais seguro.
Também perdida no noticiário (de hoje, 01/04) está a informação de que, entre as medidas sugeridas no 1º mundo para evitarem-se acidentes como o de Fukushima, está exatamente a localização -- não mais no prédio dos reatores -- das piscinas de combustíveis nucleares.
Enquanto isto, como diz a Marginália II de Gilberto Gil e Torquato Neto, "aqui, o 3º mundo pede a benção e vai dormir".
Certíssimo está o grande Dalmo de Abreu Dallari: o pesadelo de Fukushima obriga a que "se faça ampla divulgação dos aspectos básicos das opções [energéticas] existentes, informando o povo e dando-lhe a possibilidade de acompanhar as discussões e, mesmo, de participar das decisões sobre o assunto".
Evidentemente, não é o que ocorrerá enquanto continuarmos confiando cegamente nas autoridades, pedindo a benção e indo dormir.
2 comentários:
Na França, em 2010, houve cerca de 1.000 incidentes nas usinas nucleares de maior ou menor gravidade. Se os franceses continuarem nessa toada, em algum momento chegarão a alguma coisa parecida com Fukushima. É esperar para ver.
Evidentemente que à luz de estatísticas e realidades, as chances de um terremoto ou tsunami no Brasil são tão agressivamente mais improváveis que podemos quase classificá-las de nulas.
Entretanto vejo com olhos preocupados também, e principalmente depois do seu alerta a mim despercebido, que armazenar energia instável num local de energia altamente vulnerável não é de maneira alguma uma boa idéia.
Seria interessante que se resolvesse de vez onde será o cemitério desse tipo de dejeto e não vejo outra saída que depositá-los... talvez em Marte.
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