Internado num hospital de Botafogo (RJ), o humorista Chico Anysio, 79 anos, vai sobrevivendo a seus males cardíacos e pulmonares. Torço por ele.
Há muito tempo deixei de acompanhar sua carreira, mas quero falar um pouco de algo que me lembro e não aparece com o devido destaque nas biografias que encontrei na web.
Quando eu tinha nove anos, fiquei fascinado por uma grande novidade na programação da TV: o Chico Anysio Show.
Estava anos-luz à frente do humorismo convencional.
Tratava-se do primeiro programa semanal gravado em videoteipe (pela TV Rio) e enviado a outros Estados. Em São Paulo, a TV Record o exibia nas noites de domingo.
A utilização inicial do VT se dera em 1958, com a apresentação de um teleteatro previamente gravado ("O Duelo", inspirado em Guimarães Rosa) no TV de Vanguarda da velha TV Tupi - Canal 3 de São Paulo, pertencente a Assis Chateaubriand.
Nem edição havia. Foi tudo registrado de uma tacada só, com a única vantagem de poder ser reprisado ou exibido também nas outras Emissoras Associadas.
Em 1960, entretanto, o diretor Carlos Manga e Chico Anysio já contavam com esse recurso.
E o aproveitaram magnificamente, para criar um show dividido em quadros, com Anysio mostrando toda sua versatilidade na composição dos vários personagens.
Era humor inteligente, em muitos casos direcionando-se para a sátira ferina da qual a TV comercial depois fugiria, para não desagradar anunciantes e audiências.
Assim, além de tipos meramente engraçados, como o barman fanho "Quem-Quem" e o torcedor de futebol "Urubolino", havia abordagens mais críticas, como a dos industriais paulistas italianados ("Comendador Vittorio") e dos latifundiários nordestinos ("Coronel João Pessoa do Limoeiro").
Na concepção desses tipos e situações, Anysio interagia com uma excelente equipe de redatores: Antonio Maria, Aloísio Silva Araujo e Max Nunes.
E o show incluía algo inimaginável num programa humorístico de hoje: uma crônica, às vezes nostálgica, sempre de muito bom gosto, que Anysio apresentava como ele próprio (ou seja, vestido normalmente), em algum ambiente carioca.
Seguramente, o Chico Anysio Show sofisticou o humor da TV brasileira, até então voltado para o povão. Algo como um Jacques Tati chegando onde só havia Três Patetas...
Infelizmente, ele foi cada vez mais se banalizando, sob o toque de Sadim da Rede Globo. É um daqueles talentos que o sistema engoliu, como Arnaldo Jabor, Pedro Bial, William Waack e tantos outros. A vênus platinada é, na verdade, uma górgona...
Então, a grande maioria dos telespectadores acabará lembrando mesmo de Chico Anysio como o Professor Raimundo da escolinha, um de seus personagens menos brilhantes, tanto que nem original era: tratava-se de uma variação de Professor Lourenço, seus bons alunos e sua aluna boa (*), quadro de um programa humorístico do final da década de 1950, da então TV Paulista - Canal 5 (SP), da Organizações Victor Costa.
* Borges de Barros intepretava o professor que tudo fazia para agradar à aluna gostosa e burrinha, inclusive elogiando suas asneiras e rejeitando as respostas corretas dos três alunos mais sabidos.
2 comentários:
Desde que Chico Anysio foi internado, fico pensando nestas coisas q diz neste post, inclusive pensei em postar um texto assim no meu blog, tmb.
Como poucos Chico é fantástico no que faz, pena q o Jô Soares parou de fazer este tipo de humor, e faziam um dupla imbatível quando juntava os coronéis, um mentia mais q o outro, um texto muito bom, sem forçar a barra, sem tanto apelo sexual como nos últimos tempos assistimos neste tipo de programa na TV brasileira, só apelação p/ fazer graça.
Cada personagem feito pelo Chico ficou gravado na minha memória como o impagável "Pantaleão", "Coronel Limoeiro", "Qualhada" e tantos outros.
Chico escreveu a história da TV brasileira!
chico
valorizava as multiplas inteligências.
Genial.
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