segunda-feira, 20 de setembro de 2010

RETA DE CHEGADA: TEREMOS AINDA UM VERDADEIRO DEBATE ELEITORAL?

Preferências pessoais e torcidas à parte, a temporada de debates da eleição presidencial 2010 é, provavelmente, a mais tediosa de todos os tempos.

Os três candidatos com chance de vitória não produziram um único momento maior, limitando-se ao óbvio ululante, ao blablablá que lhes foi martelado na cabeça pelos detestáveis marqueteiros e a uma caricata guerra de tortas de lama.

Em vez de aspirantes a comandar uma grande Nação, ora parecem fedelhos xingando um ao outro de  fdp, ora aprendizes de guarda-livros (os contadores de outrora) esmiuçando irrelevâncias do livro-caixa.

Passam ao eleitor a idéia de que bom presidente seja aquele que decora mais estatísticas e consegue esclarecer, de batepronto, qualquer questiúncula administrativa.

Algo como o melhor aluno da classe no ensino fundamental, sempre interrompendo a professora para exibir seus conhecimentos. Na minha geração, quem se comportava assim era qualificado de  chato de galochas  e de  cdf.

Então, palmas para Plínio de Arruda Sampaio, que ousou admitir no ar que nada sabia sobre as compras de navios pela Petrobrás!

E você, sabe? Interessa-se por elas? Eu também não.

Plínio tem conseguido pelo menos surpreender, daí a definição hilária do humorista José Simão: "geriátrico da breca".

No entanto, sua fina ironia se choca com a muralha de indiferença dos bem ranqueados, tipo "o que vem do traço não me atinge".

Só a coitadeza da Marina Silva parece incomodada, mas ela não é adversária à altura de ninguém. Dá sempre a impressão de que deveria estar disputando o  desafio ao galo, e não a série A do Brasileirão.

Se Plínio conseguisse atrair Dilma Rousseff ou José Serra para o confronto, aí sim poderíamos ver faíscas. Mas, nenhum deles cairá nessa armadilha.

Então, às vésperas dos últimos debates -- os da Record e da Globo --, só nos resta torcer para que o improvável ainda ocorra.

Que o Serra, em desespero de causa, esqueça a decoreba e o ramerrão, improvisando falas mais interessantes, nem que seja para fazer jus ao militante estudantil de seus melhores tempos.

E que a Dilma volte a ser a companheira vibrante que conheci na VAR-Palmares, com menos encenação e mais paixão, pois o figurino de  vovó paz & amor, definitivamente, não lhe assenta.

Para matar as saudades, eis algumas reminiscências de debates dos quais sobrou algo para lembrarmos depois:
  • quando Richard Nixon, ainda sem aquilatar a importância da imagem, foi ao confronto decisivo contra John Kennedy com a barba por fazer. Mais do que os argumentos, o eleitorado dos EUA comparou o garboso Kennedy ao mal-encarado Nixon, com os resultados conhecidos;
  • quando um deputado dos mais obesos queria entregar alguns papéis a Jânio Quadros no ar e foi se arrastando grotescamente por baixo do ângulo captado pelas câmeras... sem imaginar que, maldosamente, elas se voltariam na sua direção, expondo a todos os telespectadores seu puxa-saquismo explícito;
  • quando Franco Montoro esperou sua tréplica a Jânio Quadros, no encerramento do debate, para acusá-lo de torpeza (havia sido vítima da ditadura e estava mancomunado com os antigos perseguidores), de forma que suas tentativas raivosas de dar resposta foram rechaçadas pelo mediador e a imagem final do  homem da vassoura  foi a mais negativa possível;
  • quando Boris Casoy perguntou a Fernando Henrique Cardoso se ele acreditava em Deus e FHC se queixou de que haviam combinado não tocar nesse assunto, dando ao adversário Jânio Quadros um trunfo decisivo para vencer uma eleição parelha;
  • quando Brizola e Maluf perderam as estribeiras e ficaram se xingando no ar. "Filhote da ditadura!", repetiu várias vezes o gaúcho, enquanto o outro respondia: "Desequilibrado! Desequilibrado! Passou 15 anos no estrangeiro e não aprendeu nada!";
  • quando Lula teve um apagão no debate decisivo com Collor e reagiu com apatia aos ataques do inimigo, não contestando sequer a afirmação de que seu aparelho de som era melhor que o do ricaço das Alagoas;
  • quando o mesmo Collor, tentando voltar à tona depois de merecidamente botinado do poder, foi escalado para formular uma questão ao folclórico Enéas Carneiro e, depois de pensar um pouco, desistiu: "Manda ele falar o que quiser". Enéas gastou seu tempo criticando o próprio Collor, que esnobou de novo o adversário ao ter a chance da réplica: "Manda ele continuar falando".
 

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