segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ELE DESATINOU

Enquanto tanto companheiro se comporta na eleição como claque deste ou daquele candidato/partido, relevando todos os defeitos de seus favoritos e satanizando os adversários (mesmo os da esquerda), eu tento manter o chamado  distanciamento crítico: considero meus antípodas os representantes da direita, dos quais um fosso intransponível me separa; mas trato com respeito todo os expoentes do campo progressista, o que não me impede de criticá-los de forma construtiva quando se mostram incoerentes com os ideais que deveriam professar.

Até agora, vinha saudando as performances do  bravo guerreiro  Plínio de Arruda Sampaio como a única merecedora do nosso aplauso nos debates televisivos, por um motivo simples e óbvio: dos quatro, só ele marcava posição  contra o capitalismo.

Os outros três nada mais faziam/fazem do que propor diferentes formas de convivência com a exploração do homem pelo homem, quanto muito atenuando suas injustiças mais gritantes.

Agora, por questão de coerência, registro que Plínio, em péssima hora, exumou no debate da Record uma bandeira que o PSOL jamais deveria ter assumido: a do rançoso moralismo pequeno-burguês, udenista, que separa o  efeito (corrupção política) de sua  causa (o sistema fundado na prioridade absoluta da ganância e da busca do privilégio sobre a cooperação solidária entre os homens e a promoção do bem comum).

Então, vale relembrar aqui o que eu escrevi (Combate à corrupção é bandeira da direita) da última vez em que o PSOL andou atacado da mesma doença. Tudo continua não só atual como, sem falsa modéstia, irrefutável:
"...a desproporção entre o dano causado ao cidadão comum pelos ladrões de galinha da política e as atividades corriqueiras dos capitalistas é incomensurável.
"O capitalismo nos acarreta:
  • emergências ecológicas como as alterações climáticas que ameaçam a própria sobrevivência da nossa espécie;
  • recessões desnecessárias (...);
  • a condenação de parcela considerável da humanidade a vegetar em condições subumanas;
  • o desperdício criminoso do potencial ora existente para assegurar-se a cada habitante deste sofrido planeta o mínimo condizente com uma sobrevivência digna; 
  • a mobilização permanente dos homens para atividades improdutivas e desnecessárias ao invés da redução da jornada de trabalho para que todos possam desenvolver-se plenamente como seres humanos; 
  • etc. (muitos, muitos etcetera!).
"E, se quisermos ficar no confronto simplista de números, ainda assim o peso da corrupção política no orçamento de cada família continuará sendo uma fração ínfima do custo do capitalismo.

"Eis um exemplo bem didático: levantamento da Associação Nacional dos Executivos de finanças, Administração e Contabilidade, numa pesquisa de junho a agosto 2002, constatou que os gastos mensais com despesas financeiras atingiam 35,43% da renda familiar para as situadas entre 1 e 5 salários mínimos, que compram mais a prazo do que os ricos; 33,62% para famílias entre 5 e 10 salários mínimos; e 32,95% para famílias com renda familiar entre 10 e 20 salários mínimos. A média geral para todas as faixas de renda é 29,83%.

"Ou seja, apenas o ágio que nos é extorquido pelos agiotas do sistema financeiro já consome ao redor de um terço da nossa renda familiar.

"E a estratosférica desproporção entre o custo de fabricação de cada produto e seu preço final? Vejam uma interessante avaliação do economista Ladislau Dowbor sobre o preço de produtos como os Redoxons e Cebions:

"'Por caixa, em média, esses produtos têm R$ 0,03 de ácido ascórbico. Você paga R$ 7,00 a caixa, ou seja, o custo do produto é multiplicado por cerca de 200 (multiplicado, não estou falando em 200%). E, com isso, você está tirando do mercado a vitamina C, um produto sumamente importante para a saúde de dois terços da população brasileira. No entanto, o consumidor está financiando o papelzinho dourado, a embalagem, a propaganda. (ensaio Economia da Comunicação, 2002)'
"Então, interessa aos defensores do capitalismo fazer a patuléia acreditar que a razão maior de seus apuros econômicos são os impostos, que estes acabam sendo em grande parte desviados pelos políticos e que isto, só isto, impediria nosso país de deslanchar.

"Ademais, as intermináveis denúncias de corrupção acabam minando as esperanças do cidadão comum na transformação da realidade por meio da ação política. Se tudo não passa de um lodaçal, as pessoas de bem devem mesmo é cuidar de sua vida...

"De quebra, fornecem pretextos para quarteladas, sempre que os meios de  controle democráticos das massas  não estão funcionando a contento.

"Então, Paulo Francis dizia e eu assino embaixo: denúncias de corrupção política são bandeira da direita, que acaba sendo sempre sua beneficiária final, a despeito dos ganhos momentâneos que proporcionem à esquerda.

"Esta deveria, isto sim, demonstrar que o capitalismo em si causa prejuízos imensamente maiores para o cidadão comum do que os desvios de recursos dos cofres públicos; e que a moralização da política não se dará com medidas policiais, mas sim com uma transformação maior da sociedade.

"Não o faz. Desatinadamente, algumas de suas tendências reforçaram as denúncias que culminaram no suicídio de Getúlio Vargas em 1954 e as que deram pretexto à dita  redentora  de 1964 (que, claro, nada mudou exceto a relação dos beneficiários do butim).

"...Então, digo e repito: em vez de pegar carona nos temas que a imprensa burguesa prefere magnificar, cabe à esquerda definir sua própria pauta e explicá-la aos cidadãos.
"A corrupção política não é nossa prioridade, mas sim o combate ao capitalismo, verdadeira raiz dos principais males que infelicitam os brasileiros.

"Precisamos ter a coragem de assumir a posição correta diante do povo, ao invés de tentar combater o inimigo num jogo de cartas marcadas, travado no terreno que só a ele convém".

3 comentários:

JRobson disse...

E desafinou...

Anônimo disse...

Concordo: corrupção é bandeira da direita. É confundir efeito com causa. Salário também: quando boa parte da esquerda grita por bons reajustes salariais para bombeiros e professores, entre outros, enquanto parece condenar salários de políticos, eu só tenho a reparar que salário (remuneração por trabalho) é categoria capitalista. Será que os socialistas do PSOL ainda não sacaram isso, ou fazem de conta que é tudo igual? Ou será uma incipiência teórica mesmo?

PARADIGMA - Marco Magioli disse...

Pela lógica do articulista, jornalistas daqueles que sabe tudo e vira a posição de QUALQUER SEGUIMENTO DA MASSA QUE PRETENDA. Lembra-me aquele Jornalista famoso, Editor econômico que ao ser traído pela jornalista assitente, um senhor em idade provecta e a jornalista com uma distãncia, talves de uns 35 anos dele, o seu protetor no Jornal - acho que folha de São Paulo. O curioso deste jornalista foi pretender desqualificar o texto jurídico de O advogado. Foi preso, ao final. A prevalecer o argumento que o único assassinato do experiente jornalista deveria ser desconsiderado, a par que milhares de pessoas que são assassinadas e estão impune...Como seria considerada a bárbarie que então estaria estabelecida? É um argumento definitivamente hipócrita e fariseu.
Princípio é dogmática em direito. Quando acho que é inegocial a verba do erário ser apropriada para fins espúrio, em vez de cumprir a sua função relevantemente social;da mesma forma que é inegocial legitimar a mais valia como a "vaca sagrada".Tanto os ladrões e corruptos devem ir para a cadeia, quanto todos aqueles que ante as lutas populares para redução do lucro e aumento de salários são tratados como vândalos, quando lutam por maiores salários enquanto professores da rede pública são tratados como vândalos, numa inversão cínica de valores. Só que o capitalismo é um modo de produção historicamente produzido, e históricamente será terminado...O livre direito de manifestação é uma bandeira revolucionária, significando práticas coerentes e transformadoras de uma sociedade capitalista em que suas taxas de lucros devem ser sistematicamente reduzidas como marcha histórica do devir do novo modo de produção.

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