Se o Brasil aspira mesmo a exercer um papel de liderança mundial alternativa à das potências tradicionais, não pode aceitar resignadamente a sem cerimônia com que um mero porta-voz do Ministério do Exterior iraniano descartou o magnífico gesto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, oferecendo asilo a Sakineh Mohammadi Ashtiani:
"O presidente da Silva tem uma personalidade muito emotiva e humana, mas provavelmente não tem informação suficiente sobre o caso".
Ele e todos os brasileiros temos informações mais do que suficientes: em nome de valores caducos, cruéis e repulsivos, o Irã pretende assassinar de maneira horrível (apedrejando-a até a morte) uma mulher por algo que nem delito é considerado em nações civilizadas: adultério. Seria cômico se não fosse trágico.
O presidente da Silva sofreu uma avalanche de críticas falaciosas e injustas da mídia mundial por haver tentado evitar que o Irã seja esmagado pela aliança EUA-Israel. Ceder-lhe Sakineh é o mínimo que essa excrescência medieval poderá fazer para compensar seu desgaste naquele episódio.
Na política, nada é concedido sem contrapartida. Cabe a Lula apresentar a conta por seus serviços, da maneira mais enfática possível. É o seu prestígio e o prestígio do Brasil que estão em jogo.
Se nem do insignificante Irã obtiver uma tão ínfima concessão, jamais se ombreará aos líderes do planeta.
Isso é o que acontece com quem ajuda ingratos da pior espécie: os fanáticos religiosos.
8 comentários:
Acredito que o presidente Lula colocou-se mal nessa questão. Primeiro ao tomar essa decisão para responder a setores da oposição que usaram o caso para questionar seu relacionamento com o governo Iraniano. Também ao colocar o Mahmoud Ahmadinejad como vítima na situação. De qualquer forma já fez sua parte. Seria melhor afastar-se para não ficar alimentando manchetes tendenciosas.
É um absurdo dizer que o Lula deve se afastar do caso para "evitar alimentar manchetes tendenciosas". Falar mal sempre vão falar, mesmo quando não tiver o que se falar, Lula tem que fazer o possível para traze-la ao Brasil e tira-la dessa situação e dane-se o que falarem. É ridículo alguém ter que deixar de fazer o que é certo e "humano" só por causa do que os outros vão falar, isso sim é muito pior, é atitude de gente covarde.
Quem deve ser preservado não é Lula, nem Ahmadinejad. É Sakineh.
Imagine-se no lugar de alguém que será apedrejada até a morte por ter procurado o amor numa sociedade que impõe às mulheres casamentos de conveniência, sem levar em conta sua vontade.
Quem faz política sem compaixão, nem altruísmo, nem solidariedade, não tem nada a oferecer à revolução.
Não é por cálculos mesquinhos que nos voluntariamos a tantos transtornos e sofrimentos. É pela vontade de garantir a outros seres humanos seu direito à felicidade.
E, claro, à vida, em primeiro lugar.
Então, neste momento, a única coisa que realmente importa é evitarmos um assassinato com requintes de extrema crueldade. Todo o resto vem depois.
Essa é a questão. A maneira com que o presidente Lula colocou sua oferta foi como quisesse proteger
Ahmadinejad do "incomodo" e não por compaixão. Sem dúvida o que importa é a vida da iraniana mas não é esse o foco da mídia e sim o viés político. E também, pela natureza do fato, a decisão cabe ao aiatolá Ali Khamenei, que exerce autoridade religiosa e é
o líder supremo do Irã.
Acho que Lula fez o que se sentiu moralmente compelido a tal. Não vejo no que a negativa possa diminui-lo em nada.
Como você mesmo disse o Irã está - desde a revolução islâmica de 1979 - sujeito ao fanatismo.
O que eu queria mesmo saber - porque me custa acreditar - é se essa foto que vc usou aqui é montagem ou realidade?
É de uma crueldade se isso for verdade e se alguém - até mesmo um cachorro com raiva - for realmente morto dessa forma que eu acho que nunca vou me esquecer dessa imagem.
E digo mais, esses ayatolahs do Irã são uns perfeitos idiotas de permitir tal coisa porque a partir de hoje eu sinceramente não me revoltarei caso os EUA botem esses malucos para correr e tomem conta de mais um país no oriente médio.
NADA NO MUNDO JUSTIFICA MATAR ALGUÉM DESSA FORMA.
É simplesmente inacreditável.
Pensei que nada mais me chocasse nesse mundo.
Roberto,
essa foto deve ser real. Na busca virtual, encontrei outras parecidas.
Quanto ao calculismo político, é hora de recuperarmos aquele fogo sagrado de Marx e outros titãs.
Os burgueses encaram tudo com frieza de contadores, encarando as dores e os sofrimentos das pessoas como meras estatísticas.
Só conseguiremos personificar a esperança numa sociedade bem diferente se nos importarmos com a vida de cada ser humano, até mesmo a de uma viúva do outro lado do mundo que foi condenada a uma execução horrível.
Isso que ocorre no Irã, sem margem de dúvida, é realmente incorreto, mas não cabe ao presidente Lula, ou qualquer brasileiro intervir em algo que não está impresso na moral de outros países. Por acaso, algum outro país interferiu na impunidade que reina em nosso país, ou mesmo Lula, que em sua posição de pai divino, já poderia ter feito algo a respeito. Talvez o presidente esteja em posição de defender sua soberania.
Desculpem-me se o tom parece seco e impiedoso, é a realidade, mas torço agora para que o governo brasileiro vença o impasse e traga a moça, que não merece um sofrimento como esse por amor.
Anônimo, não vamos confundir a violência do Estado com a do particular. Enquanto esta é, de uma forma ou outra, gerada pelas violências causadas pela sociedade (os descasos, o proconceito, a desiguladade, etc.). aquela é uma política de Estado deplorável. Não existe desculpas ou moral que me faça aceitar a perda de uma vida. Lula não está assumindo posição de pai divino, ele simplesmente usa seu status de chefe de um governo que se fez democrático, soberano e legalista. Tortura de forma nenhuma pode ser comparado com usos e costumes de um povo, isso não é soberania, mas sim tirania.
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