sábado, 5 de junho de 2010

NEM 'ÓPIO DO POVO', NEM "PÁTRIA EM CHUTEIRAS'

Com a mobilização massacrante dos recursos de comunicação para criar o clima de Copa do Mundo, o Brasil vive a contagem regressiva para o início da mais popular competição esportiva do planeta.

Então, é um bom momento para darmos uma recapitulada nos 18 Mundiais de futebol já disputados, com destaque, claro, para os cinco vencidos pelo Brasil.


Foi o que fiz nos sete artigos da série Recuerdos dos Mundiais (que serão republicados de hoje até 6ª feira), criada para o Congresso em Foco e disponível para publicação e/ou repasse.


Agora, inclusive, conta com os vídeos dos melhores lances das finais de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002, para matar as saudades.


Trata-se, sobretudo, de um olhar alternativo ao que a mídia geralmente lança sobre o futebol, aparentado com os enfoques de João Saldanha, Nelson Rodrigues, Armando Nogueira, Alberto Helena Jr., Sócrates e mais um ou outro que ousou incursionar pelos ângulos sociológicos, políticos, econômicos, psicológicos, épicos e poéticos do esporte das massas.


Mais do que todos, entretanto, quem me mostrou o caminho das pedras foi Norman Mailer, no seu clássico sobre boxe, A Luta (1975). Aprendi com ele que se pode dizer muito sobre nossa sociedade, de forma fascinante, a partir de um grande evento esportivo.


E que, assim, podemos despertar a consciência do homem comum para aspectos que lhe passavam despercebidos, ajudando-o a compreender melhor não só um objeto de paixão, mas também o mundo no qual vive -- primeiro passo para cogitar a possibilidade de o transformar.


Tarefa da qual os elitistas e preconceituosos abdicam, ao reduzirem o futebol a um ópio do povo que não mereceria destaque nos espaços ditos engajados.


E que pode, no outro extremo, servir como antídoto ao rolo compressor da indústria cultural, que tudo faz para insuflar o espírito de pátria em chuteiras, tão vantajoso para os negócios...

2 comentários:

Haroldo Mourão Cunha / São Gonçalo / RJ. disse...

Celso, o Henfil fez uma compilação de vários textos dele e editou um livro intitulado "Cartas à mãe", ou algo assim, nos quais ele sacaneava a ditadura e seus ditadores com uma fleuma dignina de um lord inglês (argh!, nada mais sujo do que esse tipo!). E em um dos seus artigo, para a recem fundada "IstoÉ", ele escrevia algo parecidíssimo com isso. Mais, ele escrevia que os intelectuais de esquerda, quando havia jogo da seleção, torciam contra por saberem das implicações sobre esses jogos. Mas ele refletiu e viu que a seleção não pertencia aos ditadores de plantão..."ela pertecia ao povo e em nome desse povo não se pode admitir isso. A seleção nos pertence (bem, quase isso!) e não seria um bando de imbecis filhos da puta (será publicado?) que iria nos fazer torcer contra". Os brasileiros, em sua maioria, não está mais se deixando levar por essas bobagens ufanistas de patria de chuteiras, mas não precisamos renegar nossos sentimentos. Principalmente quando se refere a curtir com a cara daquele argentino vizinho, que mora no Brasil há tantos anos que nem ele mesmo sabe se torce para o time azul e branco.

celsolungaretti disse...

Haroldo,

sob a liderança marcial do Dunga, a coisa está indo muito nessa direção.

Sobram até acusações de "falta de patriotismo" para jornalistas que não se conformam com a pobreza de espírito de comandante & comandados (tipo aquela frase do Luís Fabiano, sobre jogar feio, se for preciso, para vencer).

Não sou de torcer contra, mas se o Messi repetir o feito do Maradona em cima do mesmo (limitadíssimo) Dunga em 1990, será bem feito...

Um abração!

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