Desde Carta a Meu Pai, do Kafka, eu não lia algo nessa linha que me emocionasse tanto como Meu Pai Morreu, o tributo prestado a Plínio Marcos por seu filho Léo Lama. Recomendo com entusiasmo.
Vi as primeiras peças do Plínio quando começava a dar meus primeiros passos na política revolucionária: Dois Perdidos Numa Noite Suja (1966) e Navalha na Carne (1967).
Ele colocava no palco os derrotados, os miseráveis, os marginais, os excluídos da época.
E, naquele tempo de encenações bem comportadas, ousava mostrar esse universo em toda sua crueza e com todas suas gírias e palavrões, escandalizando Deus e o mundo.
Tinha impacto, mas não fazia muito meu gênero.
Eu preferia os épicos do Teatro de Arena, as peças de Brecht, a criatividade do Oficina e do Tuca, dramas cabeça como Marat/Sade, etc.
Talvez porque, ao contrário dos típicos rebentos da classe média, eu não me surpreendesse tanto com os tipos retratados pelo Plínio.
Cresci ao lado de uma favela, jogando bola com os favelados, participando de batalhas campais contra eles.
Assisti a muitos episódios chocantes, como a de um malandro baixinho e sua mulher grandona, ambos bêbados, ambos se xingando e agredindo, ambos sangrando, enquanto umas 50 pessoas olhavam, riam, incitavam e aplaudiam.
Depois, ao longo da vida, nunca fiquei tão distante desse universo a ponto de precisar do teatro para o conhecer (embora também nunca tenha feito parte dele, ao contrário do Sérgio Ricardo, p. ex., que chegou a morar no morro carioca quando sua carreira artística foi minada pela ditadura).
O certo é que o Plínio tinha estilo, dominava as ferramentas do ofício e cumpria o papel importante de dar voz àqueles que a sociedade tratava como não-pessoas.
Também era ótimo cronista, sempre flagrando a realidade sofrida das quebradas do mundaréu. Na década de 1970, todo domingo eu lia seus textos no Folhetim.
Foi uma grande perda, quando a ditadura impôs mudanças na Folha de S. Paulo e a degola atingiu o Plínio e também o editor desse suplemento, Tarso de Castro. O tal do Mais+ nunca chegou aos pés do Folhetim.
Cansei de ver o Plínio, em épocas de vacas magras, vendendo seus textos mimeografados na porta de teatros que exibiam peças infinitamente piores que as dele. Uma figuraça.
[Lembrar-me de como ele tirava de letra suas agruras me dava forças quando, na pior crise financeira da minha vida, sobrevivi durante dois meses empurrando meu livro para amigos, conhecidos, colegas -- até do primário!-- e quem mais conseguisse laçar. Fui mascate da própria obra, como o Plínio. E, como ele, sem constrangimento nenhum, pois padecer em decorrência de virtudes não humilha ninguém.]
Acabei, finalmente, identificando-me muito com uma de suas obras, tanto que a vi umas 4 ou 5 vezes: Balada de um Palhaço (1993).
Na minha opinião, tem o que faltava nas anteriores, um pouco de poesia e esperança, pois o realismo áspero, sem contrapontos, é sufocante e claustrofóbico demais.
Vi as primeiras peças do Plínio quando começava a dar meus primeiros passos na política revolucionária: Dois Perdidos Numa Noite Suja (1966) e Navalha na Carne (1967).
Ele colocava no palco os derrotados, os miseráveis, os marginais, os excluídos da época.
E, naquele tempo de encenações bem comportadas, ousava mostrar esse universo em toda sua crueza e com todas suas gírias e palavrões, escandalizando Deus e o mundo.
Tinha impacto, mas não fazia muito meu gênero.
Eu preferia os épicos do Teatro de Arena, as peças de Brecht, a criatividade do Oficina e do Tuca, dramas cabeça como Marat/Sade, etc.
Talvez porque, ao contrário dos típicos rebentos da classe média, eu não me surpreendesse tanto com os tipos retratados pelo Plínio.
Cresci ao lado de uma favela, jogando bola com os favelados, participando de batalhas campais contra eles.
Assisti a muitos episódios chocantes, como a de um malandro baixinho e sua mulher grandona, ambos bêbados, ambos se xingando e agredindo, ambos sangrando, enquanto umas 50 pessoas olhavam, riam, incitavam e aplaudiam.
Depois, ao longo da vida, nunca fiquei tão distante desse universo a ponto de precisar do teatro para o conhecer (embora também nunca tenha feito parte dele, ao contrário do Sérgio Ricardo, p. ex., que chegou a morar no morro carioca quando sua carreira artística foi minada pela ditadura).
O certo é que o Plínio tinha estilo, dominava as ferramentas do ofício e cumpria o papel importante de dar voz àqueles que a sociedade tratava como não-pessoas.
Também era ótimo cronista, sempre flagrando a realidade sofrida das quebradas do mundaréu. Na década de 1970, todo domingo eu lia seus textos no Folhetim.
Foi uma grande perda, quando a ditadura impôs mudanças na Folha de S. Paulo e a degola atingiu o Plínio e também o editor desse suplemento, Tarso de Castro. O tal do Mais+ nunca chegou aos pés do Folhetim.
Cansei de ver o Plínio, em épocas de vacas magras, vendendo seus textos mimeografados na porta de teatros que exibiam peças infinitamente piores que as dele. Uma figuraça.
[Lembrar-me de como ele tirava de letra suas agruras me dava forças quando, na pior crise financeira da minha vida, sobrevivi durante dois meses empurrando meu livro para amigos, conhecidos, colegas -- até do primário!-- e quem mais conseguisse laçar. Fui mascate da própria obra, como o Plínio. E, como ele, sem constrangimento nenhum, pois padecer em decorrência de virtudes não humilha ninguém.]
Acabei, finalmente, identificando-me muito com uma de suas obras, tanto que a vi umas 4 ou 5 vezes: Balada de um Palhaço (1993).
Na minha opinião, tem o que faltava nas anteriores, um pouco de poesia e esperança, pois o realismo áspero, sem contrapontos, é sufocante e claustrofóbico demais.
Um comentário:
Obrigado, Celso: na luta. Abraço.
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