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bom Cleuber, cujos trabalhos podem ser
acessados no site Traço de Guerrilha
O Vaticano está enredando-se cada vez mais nas suas contradições.
Sem conseguir justificar o fato de que muitos sacerdotes eram pedófilos, nem a omissão da alta hierarquia católica face a essa prática, agora resolveu abrir outra frente na batalha de opinião pública (que está perdendo de goleada!).
Parece que relações públicas não são o forte da Igreja, hoje em dia. Que idéia de jerico, já estando vulnerabilizado, comprar briga com um dos lobbies mais poderosos que existem!
Falando à imprensa em Santiago, o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, zurrou:
"Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram que há entre homossexualidade e pedofilia".
Sendo ele o número dois da Igreja, não se trata de uma declaração impensada de quem estava num mato sem cachorro. É pior ainda.
Como sou um mero articulista que a grande imprensa discrimina, não me vejo na obrigação de ficar diplomaticamente pisando em ovos. Vou pegar o touro pelos chifres.
O celibato dos sacerdotes não tem nada a ver com os ensinamentos de Cristo.
Começou a ser instituído a partir do ano 300, quando o Concílio de Elvira, na Espanha, determinou sua obrigatoriedade para os padres e bispos da província. Depois, foi se generalizando.
Mas, naquele tempo a hipocrisia não ia tão longe a ponto de exigir-se que homens se comportassem como eunucos. Simplesmente, os varões de batina transavam à vontade, fecundavam as moças e deixavam crescer e multiplicarem-se os bastardos.
Pois a restrição aberrante, contrária à natureza, tinha o único e exclusivo objetivo de impedir que os filhos de sacerdotes reivindicassem bens da Igreja como herança paterna. O resto era conversa pra boi dormir.
Papas chegavam a ser temidos guerreiros. Clérigos chegavam a ser insaciáveis garanhões. Tudo era bem diferente.
Corte para nossa época.
Um amigo espanhol me garante que, durante a Guerra Civil no seu país, os republicanos andaram invadindo conventos e encontrando muitos fetos enterrados.
Isto foi por eles interpretado como uma confirmação de que, em plena década de 1930, padres e freiras não fossem tão dóceis assim às imposições descabidas. Mas, pode ter também outras explicações.
E a Igreja acabou se tornando um refúgio para homossexuais latentes ou sem coragem para assumir a opção já feita.
O celibato tem algo a ver com isto? É óbvio que sim. Tem TUDO a ver.
Qual o melhor ambiente para homossexuais no pré-1968, aqueles tempos de zombarias, perseguições e discriminação, do que um agrupamento de homens privados do envolvimento amoroso com as mulheres? Onde poderiam encontrar com mais facilidade os congêneres e oportunidades para exercer discretamente sua orientação sexual?
Quanto à grita escandalizada contra a pedofilia sacerdotal, nem tanto ao céu, nem tanto à Terra.
Freud cansou de provar que a inocência angelical das crianças é um mito. Para quem quiser aprofundar-se no assunto, recomendo seus Três ensaios sobre a sexualidade infantil (1905).
No entanto, deve ser severamente punida a intromissão de adultos nessas primícias do erotismo, pois pode causar traumas terríveis. Os impúberes têm mesmo de ficar circunscritos a seu próprio universo. E as invasões desse universo têm mesmo de ser coibidas a todo custo.
A partir da puberdade, entretanto, a coisa muda de figura.
Muitas culturas admitem que moçoilas casem logo após a primeira menstruação. Geralmente não há problemas; vez por outra o resultado é ruim, como num caso recente de hemorragia fatal.
Quanto aos adolescentes, Freud também explica que neles coexistem os impulsos heterossexuais e homossexuais. Então, nesse período de indefinição, o assédio de um sacerdote pode mesmo ser um fator decisivo para que se inclinem na segunda direção.
Se este resultado é bom ou ruim, depende dos olhos de quem vê. No nosso planeta superpovoado, os conceitos mudaram um pouco desde aquele passado no qual prole numerosa era desejada pelas famílias e pelas nações, de forma que o desvio dessa obrigação constituía praticamente um crime. O preconceito mascarava uma conveniência.
Enfim, é tudo ambíguo e ambivalente, difícil de se destrinchar, um cipoal de ideologias e interesses.
Vai daí que só chegaríamos realmente à verdade analisando em profundidade cada caso de pedofilia sacerdotal. Extrair conclusões simplistas e genéricas, como está se fazendo, constitui postura das mais irresponsáveis, tendente à demagogia.
E é aqui que entram outras iniquidades atuais: o sensacionalismo e a avidez.
Folhetim medíocre é prato cheio para uma indústria cultural que, cada vez mais, serve para desviar as atenções do fundamental, superdimensionando as ninharias.
E salta aos olhos que a grande maioria dos queixosos superou essas experiências remotas e levava vida perfeitamente normal, até vislumbrar a chance de arrancar uma grana fácil da Igreja.
Causa-me extrema repulsa perceber que há pessoas expondo-se dessa forma por um punhado de notas.
Dá para simpatizarmos com os que se apresentaram na esperança de ver castigados os sacerdotes corruptores.
Mas, aqueles para quem um cheque apaga o passado e compensa o constrangimento de fazer tais revelações, não passam de oportunistas da pior espécie.
bom Cleuber, cujos trabalhos podem ser
acessados no site Traço de Guerrilha
O Vaticano está enredando-se cada vez mais nas suas contradições.
Sem conseguir justificar o fato de que muitos sacerdotes eram pedófilos, nem a omissão da alta hierarquia católica face a essa prática, agora resolveu abrir outra frente na batalha de opinião pública (que está perdendo de goleada!).
Parece que relações públicas não são o forte da Igreja, hoje em dia. Que idéia de jerico, já estando vulnerabilizado, comprar briga com um dos lobbies mais poderosos que existem!
Falando à imprensa em Santiago, o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, zurrou:
"Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram que há entre homossexualidade e pedofilia".
Sendo ele o número dois da Igreja, não se trata de uma declaração impensada de quem estava num mato sem cachorro. É pior ainda.
Como sou um mero articulista que a grande imprensa discrimina, não me vejo na obrigação de ficar diplomaticamente pisando em ovos. Vou pegar o touro pelos chifres.
O celibato dos sacerdotes não tem nada a ver com os ensinamentos de Cristo.
Começou a ser instituído a partir do ano 300, quando o Concílio de Elvira, na Espanha, determinou sua obrigatoriedade para os padres e bispos da província. Depois, foi se generalizando.
Mas, naquele tempo a hipocrisia não ia tão longe a ponto de exigir-se que homens se comportassem como eunucos. Simplesmente, os varões de batina transavam à vontade, fecundavam as moças e deixavam crescer e multiplicarem-se os bastardos.
Pois a restrição aberrante, contrária à natureza, tinha o único e exclusivo objetivo de impedir que os filhos de sacerdotes reivindicassem bens da Igreja como herança paterna. O resto era conversa pra boi dormir.
Papas chegavam a ser temidos guerreiros. Clérigos chegavam a ser insaciáveis garanhões. Tudo era bem diferente.
Corte para nossa época.
Um amigo espanhol me garante que, durante a Guerra Civil no seu país, os republicanos andaram invadindo conventos e encontrando muitos fetos enterrados.
Isto foi por eles interpretado como uma confirmação de que, em plena década de 1930, padres e freiras não fossem tão dóceis assim às imposições descabidas. Mas, pode ter também outras explicações.
E a Igreja acabou se tornando um refúgio para homossexuais latentes ou sem coragem para assumir a opção já feita.
O celibato tem algo a ver com isto? É óbvio que sim. Tem TUDO a ver.
Qual o melhor ambiente para homossexuais no pré-1968, aqueles tempos de zombarias, perseguições e discriminação, do que um agrupamento de homens privados do envolvimento amoroso com as mulheres? Onde poderiam encontrar com mais facilidade os congêneres e oportunidades para exercer discretamente sua orientação sexual?
Quanto à grita escandalizada contra a pedofilia sacerdotal, nem tanto ao céu, nem tanto à Terra.
Freud cansou de provar que a inocência angelical das crianças é um mito. Para quem quiser aprofundar-se no assunto, recomendo seus Três ensaios sobre a sexualidade infantil (1905).
No entanto, deve ser severamente punida a intromissão de adultos nessas primícias do erotismo, pois pode causar traumas terríveis. Os impúberes têm mesmo de ficar circunscritos a seu próprio universo. E as invasões desse universo têm mesmo de ser coibidas a todo custo.
A partir da puberdade, entretanto, a coisa muda de figura.
Muitas culturas admitem que moçoilas casem logo após a primeira menstruação. Geralmente não há problemas; vez por outra o resultado é ruim, como num caso recente de hemorragia fatal.
Quanto aos adolescentes, Freud também explica que neles coexistem os impulsos heterossexuais e homossexuais. Então, nesse período de indefinição, o assédio de um sacerdote pode mesmo ser um fator decisivo para que se inclinem na segunda direção.
Se este resultado é bom ou ruim, depende dos olhos de quem vê. No nosso planeta superpovoado, os conceitos mudaram um pouco desde aquele passado no qual prole numerosa era desejada pelas famílias e pelas nações, de forma que o desvio dessa obrigação constituía praticamente um crime. O preconceito mascarava uma conveniência.
Enfim, é tudo ambíguo e ambivalente, difícil de se destrinchar, um cipoal de ideologias e interesses.
Vai daí que só chegaríamos realmente à verdade analisando em profundidade cada caso de pedofilia sacerdotal. Extrair conclusões simplistas e genéricas, como está se fazendo, constitui postura das mais irresponsáveis, tendente à demagogia.
E é aqui que entram outras iniquidades atuais: o sensacionalismo e a avidez.
Folhetim medíocre é prato cheio para uma indústria cultural que, cada vez mais, serve para desviar as atenções do fundamental, superdimensionando as ninharias.
E salta aos olhos que a grande maioria dos queixosos superou essas experiências remotas e levava vida perfeitamente normal, até vislumbrar a chance de arrancar uma grana fácil da Igreja.
Causa-me extrema repulsa perceber que há pessoas expondo-se dessa forma por um punhado de notas.
Dá para simpatizarmos com os que se apresentaram na esperança de ver castigados os sacerdotes corruptores.
Mas, aqueles para quem um cheque apaga o passado e compensa o constrangimento de fazer tais revelações, não passam de oportunistas da pior espécie.
2 comentários:
É isso aí, Celso!!!
O assunto "pedofilia" vem sendo abordado de modo extremamente distorcido no Brasil - e em momentos de quase histeria coletiva (provocada) tentar trazer o papo de volta à razão é com freqüência tomado por sinal de culpa ou cumplicidade. Por isso, apesar de me sentir no dever de escrever sobre o assunto, venho adiando tanto.
Acho, de todo modo, que não podemos nos cansar de repetir: tecnicamente (OMS) pedofilia é sexo com pessoas de até 13 (treze) anos; adolescentes e crianças são seres tão diferentes quanto, p.ex., adolescentes e velhos; o assunto "pedofilia" é um, o assunto "sexo com adolescentes" é outro; mesmo que haja abusos criminosos neste segundo campo (como há também contgra adultos), estes NÃO configuram pedofilia e não podem ser abordados com os mesmos critérios dos abusos de fato o são.
Por isso, só posso aplaudir de pé os seus últimos parágrafos: "... salta aos olhos que a grande maioria dos queixosos superou essas experiências remotas e levava vida perfeitamente normal, até vislumbrar a chance de arrancar uma grana fácil da Igreja. Causa-me extrema repulsa perceber que há pessoas expondo-se dessa forma por um punhado de notas. Dá para simpatizarmos com os que se apresentaram na esperança de ver castigados os sacerdotes corruptores. Mas, aqueles para quem um cheque apaga o passado e compensa o constrangimento de fazer tais revelações, não passam de oportunistas da pior espécie."
Desconhecia tal classificação da OMS, mas, baseado em meus conhecimentos de psicanálise, fui exatamente nessa direção, ao destacar que os impúberes têm mesmo de ser bem protegidos, mas o caso dos adolescentes não é tão simples assim.
De resto, incomodou-me o moralismo rançoso do 2º homem da Igreja: sya defesa do indefensável celibato e a instigação de ódio aos gays, alvos fáceis para quem procura bodes expiatórios.
Sou um humanista; nem pedófilo, nem homossexual. Também defendo os umbandistas atacados pelas hordas neopetencostais, os palestinos que Israel barbariza, etc., sem nada ter a ver com uns e outros.
Sou do tempo em que as pessoas se pautavam por princípios, não por afinidades ou conveniências.
Um abração!
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