domingo, 18 de abril de 2010

OS CAFAJESTES E AS CAFAJESTADAS

Tomei conhecimento com algum atraso da reparação recomendada pela Comissão de Anistia na última 4ª feira (14/04), em benefício da atriz Norma Bengell -- cuja concessão será ainda decidida pelo ministro da Justiça, a quem cabe acatar ou recusar tal sugestão.

Foi trazida à baila na comunidade Ditadura Militar do Orkut. E a munição do recórter foi um post de Lauro Jardim, um dos blogueiros da Veja.

Abaixo reproduzo a nota de Lauro Jardim e a resposta que coloquei no Orkut (postando-a, em seguida, como comentário, no blogue de LJ, para que ele tomasse conhecimento, já que não ataco ninguém pelas costas):

Norma Bengell ganha Bolsa Ditadura
A Comissão de Anistia reconheceu ontem a atriz e diretora de cinema Norma Bengell como anistiada política. No pedido, Bengell alegava ter sido perseguida durante a ditadura militar, o que a forçou a se exilar na França em 1971.

Segundo ela, sua atuação no filme
Os Cafajestes (1962), ao protaganizar a primeira cena de nu frontal do cinema brasileiro, foi fundamental para as dificuldades por que passou no regime de exceção – e para a declaração do órgão do Ministério da Justiça.Aos 75 anos, Norma ganhou direito a ter uma reparação econômica de 100 000 reais, a serem pagos em parcela única.

Com dinheiro Norma já se enrolou - sempre recursos públicos, ressalte-se. Norma chegou a ser acusada pelo TCU de desviar recursos do filme que dirigiu, O Guarani, para comprar um apartamento na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Em 1999, o Ministério da Cultura cobrou dela 4 milhões de reais por causa de irregularidades dos incentivos fiscais do filme.

Por Lauro Jardim
Obscurantistas de ontem e de hoje
É engraçada a leitura que se faz aqui de um caso como o da Norma Bengell.

Ela não foi a primeira atriz do cinema mundial a interpretar cena de nu frontal. Em países civilizados, isto não causava nenhuma comoção.

No Brasil que estava submetido ao obscurantismo e à mais crassa ignorância (por que responsabilizar a atriz, que apenas fez aquilo que o diretor mandou, e não a este ou aos produtores do filme?), a perseguição que ela sofreu foi tamanha e a insegurança era tanta que ela foi obrigada a seguir para o exílio.

Tratava-se do lado moralista no pior sentido, rançoso e medieval, da ditadura militar. Não só censurava as artes, como perseguia os atores.

Vide, p. ex., o vandalismo, as agressões e os ultrajes a que foi submetido o elenco do "Roda Viva", com a CUMPLICIDADE do regime.

O CCC não só barbarizava teatros, como matou pessoas, sem que nenhum de seus integrantes fosse jamais incomodado pela Polícia. E eram todos conhecidos e notórios, teria bastado uma ida ao Mackenzie para prenderem a maioria.

Enfim, a Norma Bengell sofreu mesmo danos morais, psicológicos e profissionais em decorrência de o Brasil estar submetido a uma ditadura. Foi estigmatizada, obrigada a deixar seu país e teve prejudicado o exercício de sua profissão.

Merece o que está recebendo: cem mil reais, em parcela única. Os transtornos e as perdas que ela sofreu justificam plenamente tal montante.

Até para que fique bem claro para os gorilas: sempre que violentarem os direitos dos cidadãos, gerarão direitos e vão aumentar as despesas do Erário.

Certos mesmos estavam os promotores que tentaram repassar aos ex-comandantes do DOI-Codi/SP a conta por tudo que o Estado foi obrigado a gastar indenizando as vítimas daquele execrável centro de torturas.

Por Celso Lungaretti

2 comentários:

CaraMela Amendola disse...

Só para agradecer a você, pela sua palavra sempre bem-vinda.

cármen.

Anônimo disse...

Celso,

Concordo plenamente com estes promotores. Eu acho que as forças armadas deveriam ficar com o ônus dos descalabros que cometeram durante a ditadura.

A justiça, além de determinar o pagamento de indenizações às vítimas das perseguições políticas, deveria obrigar os réus a pagarem os valores. Ou seja: Exército, Marinha e Aeronática deveriam desembolsar os valores pagos às suas respectivas vítimas, mesmo que para isso tivéssem que se desfazer de bens imóveis.

Ismar

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