ATO 1: A VOLTA DE DONA SOLANGE (*)
Pensei que nunca mais seria censurado...
... depois que o Brasil voltou à democracia, em 1985. Infelizmente, estava errado. Acabo de ter um texto suprimido... aqui no CMI!!!
Durante a ditadura militar, eu nem mesmo podia usar meu próprio nome para assinar os textos que escrevia. Precisava utilizar o pseudônimo de "André Mauro", para não atrair atenções indesejáveis.
Mesmo assim, lá por 1980, umas dondocas reacionárias do bairro paulistano de Santana armaram um fuzuê porque as revistas masculinas estavam exibindo os pêlos púbicos femininos.
A revista Fiesta, da qual eu era REDATOR, foi apreendida nas bancas, por atentado à moral e aos bons costumes...
Logo em seguida, fui acusado de pornografia... em razão de terem sido considerados como tais UM CONTO (que não era de minha autoria) e UM ANÚNCIO PUBLICITÁRIO (que também não era meu).
Pensei que desfaria esse equívoco logo na primeira audiência. Ledo engano. Houve a inicial, depois a das testemunhas de acusação, depois a das testemunhas da defesa e, enfim a de julgamento. Tive de estar presente em todas.
Para piorar, era convocado (juntamente com o dono da editora) para as 13 horas, mas os processos com réus presos tinham preferência, então ficávamos ambos chocando até lá pelas 17 horas... para nada!
Afora o calor, o desconforto e algumas cenas desagradáveis que éramos obrigados a presenciar.
Finalmente, quando chegou o julgamento, a ficha caiu para o promotor, que recomendou minha absolvição.
Só que isso foi mero paliativo. O certo teria sido ele reconhecer desde o início que a denúncia era descabida e revelava desconhecimento total dos procedimentos jornalísticos.
Pensei que tudo isso pertencesse a uma página deplorável e já virada da nossa História.
Agora, sou aqui surpreendido com a supressão do meu artigo sobre a injustiça que está sendo cometida com Ronaldinho Gaúcho e com as melhores tradições futebolísticas brasileiras.
Não considero inconsequente e dispensável o enfoque que eu dei, de contrastar a concepção tacanha de transformar o esporte numa guerra (em que só a vitória conta) com a descontração, a beleza e as características lúdicas tão bem corporificadas no futebol de Ronaldinho Gaúcho.
Fico pasmo em constatar que hoje continuam existindo os mesmíssimos preconceitos de 1966, quando o grande Sérgio Ricardo foi estupidamente vaiado num Festival da TV Record, porque ousou contar a história de Garrincha e tantos outros craques espremidos e jogados fora pelos gananciosos e insensíveis cartolas, expressão fiel da desumanidade capitalista.
Assim como o "Beto Bom de Bola" do amigo SR, também meu protesto foi incompreendido e rechaçado por pessoas que, no fundo, nada sabem sobre as paixões do homem das ruas (e têm raiva delas...).
Estou triste e decepcionado. (Celso Lungaretti)
Durante a ditadura militar, eu nem mesmo podia usar meu próprio nome para assinar os textos que escrevia. Precisava utilizar o pseudônimo de "André Mauro", para não atrair atenções indesejáveis.
Mesmo assim, lá por 1980, umas dondocas reacionárias do bairro paulistano de Santana armaram um fuzuê porque as revistas masculinas estavam exibindo os pêlos púbicos femininos.
A revista Fiesta, da qual eu era REDATOR, foi apreendida nas bancas, por atentado à moral e aos bons costumes...
Logo em seguida, fui acusado de pornografia... em razão de terem sido considerados como tais UM CONTO (que não era de minha autoria) e UM ANÚNCIO PUBLICITÁRIO (que também não era meu).
Pensei que desfaria esse equívoco logo na primeira audiência. Ledo engano. Houve a inicial, depois a das testemunhas de acusação, depois a das testemunhas da defesa e, enfim a de julgamento. Tive de estar presente em todas.
Para piorar, era convocado (juntamente com o dono da editora) para as 13 horas, mas os processos com réus presos tinham preferência, então ficávamos ambos chocando até lá pelas 17 horas... para nada!
Afora o calor, o desconforto e algumas cenas desagradáveis que éramos obrigados a presenciar.
Finalmente, quando chegou o julgamento, a ficha caiu para o promotor, que recomendou minha absolvição.
Só que isso foi mero paliativo. O certo teria sido ele reconhecer desde o início que a denúncia era descabida e revelava desconhecimento total dos procedimentos jornalísticos.
Pensei que tudo isso pertencesse a uma página deplorável e já virada da nossa História.
Agora, sou aqui surpreendido com a supressão do meu artigo sobre a injustiça que está sendo cometida com Ronaldinho Gaúcho e com as melhores tradições futebolísticas brasileiras.
Não considero inconsequente e dispensável o enfoque que eu dei, de contrastar a concepção tacanha de transformar o esporte numa guerra (em que só a vitória conta) com a descontração, a beleza e as características lúdicas tão bem corporificadas no futebol de Ronaldinho Gaúcho.
Fico pasmo em constatar que hoje continuam existindo os mesmíssimos preconceitos de 1966, quando o grande Sérgio Ricardo foi estupidamente vaiado num Festival da TV Record, porque ousou contar a história de Garrincha e tantos outros craques espremidos e jogados fora pelos gananciosos e insensíveis cartolas, expressão fiel da desumanidade capitalista.
Assim como o "Beto Bom de Bola" do amigo SR, também meu protesto foi incompreendido e rechaçado por pessoas que, no fundo, nada sabem sobre as paixões do homem das ruas (e têm raiva delas...).
Estou triste e decepcionado. (Celso Lungaretti)
ATO 2: A TESOURA FALANTE
Coletivo editorial
Ola Lungaretti
caso vc. não tenha percebido o processo da lista editorial é aberto vc. pode acompanhar o motivo de ter sido escondido,
como não somos perfeito, podemos errar e este é o motivo da lista ser aberta, para as pessoas poderem questionar em caso de erro, ou discordância.
Agora usufruir desse espaço este tempo todo e na primeira vez q alguém esconde um texto teu vc. já faz essas acusações É PORQUE VC. NÃO ENTENDEU NADA!
a idéia é você ajudar o coletivo, as pessoas que usam o site ajudarem a manterem e denunicar publicações maliciosas,
caso vc. tenha interesse me colaborar fique a vontade para ter um diálogo educado e construtivo com os voluntários do CMI através da lista editorial:
cmi-brasil-editorial em lists.indymedia.org
agora se vc. quer ficar reproduzindo a lógica dos grandes meios onde eles mandam e o resto obedece, foi mal, aqui não é assim!!!! só com ajuda (e acredite precismos em época de tanto ataque da direita) conseguiremos continuara oferecer este espaço para matérias e denúncias. (Voluntaris)
caso vc. não tenha percebido o processo da lista editorial é aberto vc. pode acompanhar o motivo de ter sido escondido,
como não somos perfeito, podemos errar e este é o motivo da lista ser aberta, para as pessoas poderem questionar em caso de erro, ou discordância.
Agora usufruir desse espaço este tempo todo e na primeira vez q alguém esconde um texto teu vc. já faz essas acusações É PORQUE VC. NÃO ENTENDEU NADA!
a idéia é você ajudar o coletivo, as pessoas que usam o site ajudarem a manterem e denunicar publicações maliciosas,
caso vc. tenha interesse me colaborar fique a vontade para ter um diálogo educado e construtivo com os voluntários do CMI através da lista editorial:
cmi-brasil-editorial em lists.indymedia.org
agora se vc. quer ficar reproduzindo a lógica dos grandes meios onde eles mandam e o resto obedece, foi mal, aqui não é assim!!!! só com ajuda (e acredite precismos em época de tanto ataque da direita) conseguiremos continuara oferecer este espaço para matérias e denúncias. (Voluntaris)
ATO 3: CENSURA NUNCA MAIS!
Fui obrigado a conviver com uma ditadura...
...que cerceava meus direitos fundamentais, como o de expressão.
Antes, fiz tudo que pude para dar um fim a essa ditadura.
Quando não consegui, fiquei reprimindo minha raiva e esperando ansiosamente o dia em que nunca mais tivesse de dialogar com poderes ilegítimos.
Desculpem-me, mas seria trair minhas convicções participar de um espaço em que meus textos possam ser tirados do ar sem motivos éticos ou jornalísticos, apenas em função de preconceitos.
Meu e-mail está aí. Se algum dia vocês me garantirem que não serei censurado em nenhuma circunstância, terei prazer em voltar.
Nas condições acima colocadas, não posso continuar participando. (CL)
Antes, fiz tudo que pude para dar um fim a essa ditadura.
Quando não consegui, fiquei reprimindo minha raiva e esperando ansiosamente o dia em que nunca mais tivesse de dialogar com poderes ilegítimos.
Desculpem-me, mas seria trair minhas convicções participar de um espaço em que meus textos possam ser tirados do ar sem motivos éticos ou jornalísticos, apenas em função de preconceitos.
Meu e-mail está aí. Se algum dia vocês me garantirem que não serei censurado em nenhuma circunstância, terei prazer em voltar.
Nas condições acima colocadas, não posso continuar participando. (CL)
EPÍLOGO: A LIBERDADE E SEUS COVEIROS
O Centro de Mídia Independente até que tinha uma proposta interessante, de oferecer uma alternativa à imprensa burguesa, cada vez mais parcial e tendenciosa:
Reagiu a esse desvirtuamento concedendo poderes ilimitados a censores voluntários, que passaram a policiar os textos postados.
Os artigos e comentários tirados da vitrine podem ser vistos no porão da loja: há um link discreto para tudo que foi escondido.
Por alto, calculei que na noite de 04/03/2010 havia mais de 30 mil itens censurados (833 páginas, com até 40 textos cada).
E, como diziam os antigos, o uso do cachimbo faz a boca torta. Quem exerce poderes discricionários frequentemente extrapola os limites de sua função, para impor aos demais suas idiossincrasias.
Depois de uns dois anos participando sem problemas, finalmente um artigo meu caiu nas mãos de um voluntário que ainda deve encarar o futebol como um ópio do povo, indigno até de ser analisado numa ótica de esquerda.
Protestei educadamente, recebi uma resposta típica de burocratas que vêem suas regrinhas como a tábua dos dez mandamentos e decidi sair do CMI, pois começou a me lembrar demais os soturnos tempos da ditadura militar.
A tesoura funcionou de novo: a denúncia da censura teve o mesmo destino do artigo censurado.
Por desencargo de consciência, mandei mensagem à instância de apelação do CMI, na esperança de que o coletivo não endossasse o primarismo do voluntário. Em termos civilizados, como sempre faço.
Passado um dia sem que tivessem sequer a urbanidade de dar qualquer resposta, torno público o episódio, inclusive para motivar os próprios dirigentes do CMI a refletirem sobre o mostrengo que estão criando.
Não é por aí, nunca será por caminhos como esse, que chegaremos a "uma sociedade LIVRE, igualitária e que respeite o meio ambiente". (CL)
* Diretora do Departamento de Censura Federal de 1980 a 1984, Solange Teixeira Hernandes, a Dona Solange, acabou sendo vista como a censora-mor da ditadura militar.
"O CMI Brasil é uma rede de produtores e produtoras independentes de mídia que busca oferecer ao público informação alternativa e crítica de qualidade que contribua para a construção de uma sociedade livre, igualitária e que respeite o meio ambiente.No entanto, ao permitir que qualquer cidadão postasse qualquer coisa, sem nem mesmo obrigá-lo a identificar-se, acabou sendo repositório de uma enxurrada de baixarias dos fakes de extrema-direita, com seus textos falaciosos e difamatórios, suas montagens de mau gosto e que frequentemente descambam para a pornografia, suas fichas falsas, etc.
"O CMI Brasil quer dar voz à quem não têm voz constituindo uma alternativa consistente à mídia empresarial que frequentemente distorce fatos e apresenta interpretações de acordo com os interesses das elites econômicas, sociais e culturais.
"A ênfase da cobertura é sobre os movimentos sociais, particularmente, sobre os movimentos de ação direta (os 'novos movimentos') e sobre as políticas às quais se opõem.
"A estrutura do site na internet permite que qualquer pessoa disponibilize textos, vídeos, sons e imagens tornando-se um meio democrático e descentralizado de difusão de informações."
Reagiu a esse desvirtuamento concedendo poderes ilimitados a censores voluntários, que passaram a policiar os textos postados.
Os artigos e comentários tirados da vitrine podem ser vistos no porão da loja: há um link discreto para tudo que foi escondido.
Por alto, calculei que na noite de 04/03/2010 havia mais de 30 mil itens censurados (833 páginas, com até 40 textos cada).
E, como diziam os antigos, o uso do cachimbo faz a boca torta. Quem exerce poderes discricionários frequentemente extrapola os limites de sua função, para impor aos demais suas idiossincrasias.
Depois de uns dois anos participando sem problemas, finalmente um artigo meu caiu nas mãos de um voluntário que ainda deve encarar o futebol como um ópio do povo, indigno até de ser analisado numa ótica de esquerda.
Protestei educadamente, recebi uma resposta típica de burocratas que vêem suas regrinhas como a tábua dos dez mandamentos e decidi sair do CMI, pois começou a me lembrar demais os soturnos tempos da ditadura militar.
A tesoura funcionou de novo: a denúncia da censura teve o mesmo destino do artigo censurado.
Por desencargo de consciência, mandei mensagem à instância de apelação do CMI, na esperança de que o coletivo não endossasse o primarismo do voluntário. Em termos civilizados, como sempre faço.
Passado um dia sem que tivessem sequer a urbanidade de dar qualquer resposta, torno público o episódio, inclusive para motivar os próprios dirigentes do CMI a refletirem sobre o mostrengo que estão criando.
Não é por aí, nunca será por caminhos como esse, que chegaremos a "uma sociedade LIVRE, igualitária e que respeite o meio ambiente". (CL)
* Diretora do Departamento de Censura Federal de 1980 a 1984, Solange Teixeira Hernandes, a Dona Solange, acabou sendo vista como a censora-mor da ditadura militar.
2 comentários:
Ih, Celso
Já parei de frequentar o CMI faz tempo, muita trollagem, muito xingamento, muito esgoto.
Por curiosidade, visitei por um tempo outros CMI's em língua inglesa (que domino) e espanhola (que arranho) - apenas no CMI Brasil notei tamanha baixaria. É vergonhoso constatar isso, mas o internauta brasileiro médio é mal-educado demais da conta.
O anonimato favorece esse nonsense, a gente 'esqueçe' que tem uma pessoa 'do outro lado' da rede, e escreve coisas que jamais teria coragem de dizer pessoalmente, sob risco de partir pra pancadaria.
Enfim, sobre censura e moderação de comentários na internet, saiba que eu já fui 'tesourado' por ninguém-mais-ninguém-menos que Alberto Dines, no site do Observatório de Imprensa.
Um abraço,
Luis Henrique
Luís Henrique,
o problema não é pessoal, é político: a forma como, imperceptivelmente, pessoas de esquerda resvalam para o autoritarismo.
Censores são extremamente repulsivos. É chocante vermos cidadãos presumivelmente idealistas se voluntariarem para tal papel.
E mais chocante ainda percebermos que um desses voluntários vestiu a indumentária de Grande Inquisidor e passou a perseguir posturas que lhe desagradavam.
Minha luta toda é para forjar uma esquerda libertária no Brasil. Este é mais um capítulo.
Quanto à solução para o CMI, na minha opinião seria eliminar o anonimato de quem posta artigos e comentários, em primeiro lugar.
Em segundo, exigir que que os textos respeitem as boas práticas jornalísticas. Ou seja, que saibam separar boatos de fatos, que só dêem créditos a denúncias confirmadas ao menos por uma segunda fonte, etc.
Não falo de exigir diploma, mas sim de exigir que a pessoa, mesmo não sendo jornalista, saiba fazer as vezes de um com o mínimo de critério.
Por último, escolher colaboradores, ao invés de censurar textos. Ao invés de abrir pra todo mundo, limitar o uso da tribuna a quem demonstre possuir requisitos básicos para utilizá-la de forma responsável.
É o que qualquer publicação faz: avaliar seus colaboradores.
Agora, deixar qualquer um postar e depois ficar colocando textos no index é uma aberração. Retirou da lixeira uma prática execrável.
Um forte abraço!
Postar um comentário