Para me poupar de intermináveis e chatíssimas discussões com cidadãos que pensam estar se comportando como revolucionários ao defenderem tiranetes atrabiliários e dinastias feudais, não dei o nome aos bois no meu artigo de ontem, embora fosse facílimo de se perceber a quem eu me referia quando lembrei que Marx, inimigo implacável do capitalismo, sempre defendeu as revoluções burguesas quando se tratava de acabar com o feudalismo.
O velho barbudo via a trajetória da humanidade como uma marcha para o progresso, não admitindo que, para combaterem o inimigo atual, seus discípulos apoiassem a brutalidade passada, o obscurantismo e as trevas cujo único lugar apropriado era -- e é -- a lata de lixo da História.
Mas, agora essa figura grotesca que é o aiatolá supremo do Irã ameaça desencadear um banho de sangue contra os que denunciam fraude eleitoral. Em nações que vivem plenamente o século XXI, essa questão se resolve de maneira simplérrima, com uma transparente recontagem dos votos. Ninguém precisa morrer por tão pouco.
Então, a coisa agora mudou de figura, pois não posso compactuar, e nunca compactuarei, com massacres e genocídios.
Afirmo, portanto, com todas as letras que a causa da verdadeira esquerda é a causa da civilização, com a qual nada tem a ver um ultraconservador como o presidente Mahmoud Ahmadinejad; e que seu antagonismo a Israel não é razão suficiente para impor-se ao povo iraniano a continuidade do intolerante e retrógrado regime dos aiatolás.
Disse e repito: só a união dos povos da região permitirá que tenham êxito no enfrentamento a Israel. E essa união jamais se dará sob o primado de mandatários feudais que priorizam sua permanência no poder e temem que, armando o povo para o combate a Israel, as armas acabem se voltando contra eles.
Então, aquilo de que o Irã mais carece é livrar-se dos aiatolás ensandecidos e dos presidentes ultraconservadores. O acerto de contas com Israel vem depois.
3 comentários:
Celso,
O problema é o absolutismo moral/político que assola essas discussões, do gênero 'você considerou o ponto de visto do fulano, então está do lado dele', presente até mesmo nos meios acadêmicos 'sérios'. A guerra fria insiste em não morrer.
Sinto que mal posso formar uma opinião 'sólida' sobre o resultado controverso das eleições iranianas, visto que as informações que chegam são contraditórias, dependendo da fonte - há interesses em jogo (como sempre).
Mas parece que haverá recontagem de votos, sabe-se lá se serão transparentes ou não.
Só espero que esse episódio não se converta em mais uma 'guerra de libertação' no oriente médio.
Abraços,
Luis Henrique
Luís Henrique,
infelizmente essa confusão é decorrente também da desorientação da esquerda.
É inadmissível que pessoas se digam seguidoras de Marx e saiam por aí defendendo esse regime dos aiatolás, sequestradores seriais e outras aberrações.
Ao tomar partido por tais figuras, embaralham a consciência dos novos discípulos e tornam nossa causa repulsiva para muitos cidadãos isentos.
Esse equívoco tem sérias consequências. Se os fundamentalistas massacrarem os iranianos que protestam, irão negar; se os aiatolás forem escorraçados, irão dizer que foi uma conspiração da CIA. E por aí vai.
Então, optei por defender sempre alguns princípios, independentemente das ideologias envolvidas em cada episódio.
Seja quem for que pratique massacres, eu sempre protestarei.
Defendo o direito de resistência à tirania em qualquer circunstância.
Defendo sempre o respeito aos direitos humanos em sua plenitude. E cobro isso mais ainda dos revolucionários, pois, quando incorrem em práticas totalitárias, estão traindo nossa herança comum, de combatentes pelo progresso da humanidade e pela plenitude da civilização.
É claro que há um preço a pagar por cada um desses posicionamentos. É claro que muitas portas se abririam para mim se eu colocasse as conveniências à frente dos princípios.
Mas, foi a sobrevivência moral que me trouxe até aqui. E eu prefiro continuar enfrentando todo tipo de dificuldades, mas tendo a certeza de estar sendo fiel às minhas crenças e aos meus valores. É daí que tiro forças para continuar lutando.
Um forte abraço!
Celso
Só de uma coisa você não abre mão: da destruição de Israel, não é mesmo?
Você não tem vergonha de se alinhar com esses ditadores do OM e vir falar em conduta moral? Qual a ética que você enxerga nas ditaduras do OM? Isso é só o velho antissemitismo que agora chamam de antissionismo e que, na verdade, não existe. Todo judeu reza voltado à Jerusalem, assim como muçulmanos se voltam à Meca. Demonizar o sionismo é para cabeças de fanáticos aos quais você se alinha.
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