Notícia de 19/09/2008:
"O Governo venezuelano expulsou a delegação da Human Rigths Watch no país, um dia depois de a organização de defesa dos direitos humanos ter publicado um relatório em que denuncia a erosão da democracia na Venezuela. A ordem de expulsão visou o chileno José Miguel Vivanco, director para as Américas da HRW (...). Em comunicado o ministro dos Negócios Estrangeiros, Nicolas Maduro, explica que a decisão foi tomada depois de analisadas as declarações proferidas por Vivanco, que considera terem 'violado as leis e a Constituição da Venezuela' e 'agredido as instituições e a democracia' do país, 'imiscuindo-se ilegalmente nos assuntos internos'."
Notícia de 15/04/2009:
"A Human Rights Watch pediu que o governo brasileiro leve a julgamento os responsáveis por violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura militar (1964-1985). O anúncio foi feito ontem, após decisão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, de abrir ação contra o governo brasileiro diante da Corte Interamericana de Direitos Humanos pela detenção arbitrária, tortura e desaparecimento de 70 pessoas ligadas à guerrilha do Araguaia e camponeses que viviam naquela região. 'O Brasil não promoveu julgamentos e nem mesmo instaurou uma comissão da verdade para apurar os crimes muito graves que foram cometidos e está atrasado em relação a outros países da região no que diz respeito à responsabilização por abusos do passado', disse José Miguel Vivanco..."
Quando o HRW lança relatórios desfavoráveis à Venezuela, Cuba, Bolívia, etc., há muitos companheiros que os descartam simplesmente acusando essa conceituada ONG de estar a serviço do imperialismo. É uma saída fácil, confortável, mas que nos descredencia junto às pessoas bem informadas.
Se quisermos recuperar o prestígio que tínhamos nos tempos da redemocratização, QUANDO ÉRAMOS RESPEITADOS ATÉ MESMO PELOS QUE NÃO PERTENCIAM A NOSSAS FILEIRAS, teremos de parar de direcionar os discursos apenas para os já convertidos.
Nem todos que emitem opiniões desfavoráveis aos bolivarianos, p. ex., estão a serviço do inimigo. Há que separar-se o joio do trigo, sempre.
O HRW toma invariavelmente as mesmas posições diante dos mesmos problemas, ocorram em países sob governos de esquerda ou de direita. Existe para defender os direitos humanos e os defende.
Se o desqualificarmos num caso, não poderemos, sem sermos acusados de hipocrisia, apoiá-lo quando está certíssimo, lutando pela posição justa que nós mesmos fomos impotentes para fazer prevalecer, como é o caso da apuração do genocídio do Araguaia.
Então, seria bom colocarmos na cabeça, de uma vez por todas, que a rua é sempre de duas mãos.
Ou, como dizia a inesquecível Rosa Luxemburgo: "Liberdade é, sempre e fundamentalmente, a liberdade de quem discorda de nós".
Com os discordantes de boa fé, temos de dialogar respeitosamente. Os ataques desqualificantes devem ser reservados apenas aos de má fé. E precisamos aprender a avaliar criteriosamente em qual conjunto enquadra-se cada pessoa ou instituição, antes de sairmos disparando insultos a torto e a direito.
Dá mais trabalho? Dá. Mas o retorno que colheremos, em termos de credibilidade, será imenso.
9 comentários:
Certo, celso, sem duvida.
Me quer parecer que eles, o HRW sao
meio que ligeiros pra um lado e demorados para o outro.-Nao afirmo isto categoricamente apenas porque pode ter-me escapado ao conhecimento em muitos casos. Ainda assim, te pergunto Celso: consta alguma coisa do HRW contra o
Estado e o governo de Israel nos ultimos digamos, 9 anos? Ou aquilo tudo que ocorreu la, inclusive com 11 mil presos nas masmorras nao tem nada a ver?
(so clico o ´anonimo porque nao consigo fazer a tal conta cadastramento aqui)
Companheiro, passei na página do HWR e constatei o que já percebia por notícias esparsas publicadas na imprensa: é uma entidade que pega no pé de transgressores dos direitos humanos de esquerda, centro e direita, indistintamente.
E, respondendo à sua pergunta, eis o que encontrei em destaque, logo na página de abertura:
(Jerusalén) – Los lanzamientos de Israel de proyectiles de fósforo blanco en zonas densamente pobladas de Gaza durante su reciente campaña militar fueron indiscriminados y son evidencia de crímenes de guerra, dijo Human Rights Watch en un informe publicado hoy.
El informe de 71 páginas, "Lluvia de Fuego: El uso ilegal de Israel de fósforo blanco en Gaza", ofrece testimonios de los devastadores efectos que las municiones de fósforo blanco tuvieron contra bienes y personas civiles en Gaza. Los investigadores de Human Rights Watch en Gaza encontraron inmediatamente después las hostilidades fragmentos de conchas, restos de contenedores, y decenas de cuñas quemadas que contenían fósforo blanco en las calles de la ciudad, techos de departamentos, patios residenciales, y en una escuela de las Naciones Unidas. El informe también presenta pruebas de balística, fotografías e imágenes de satélite, así como documentos del ejército y gobierno israelís.
Companheiro Celso,
De você discordo, às vezes, nem por isso deixo de apoiá-lo. Pois o _essencial_ é o que deve valer para nos posicionarmos a favor ou contra certos ideais/interesses. Creio que concordaria com Warren Beatty no filme Reds - 'dissidência é revolução'.
Somos todos contraditórios, somos todos humanos, todos nós cometemos erros. Paciência, ninguém é detentor da 'tocha da virtude' (ainda bem!). Exemplo: o Chávez é militar, tem a lógica de militar, e além do mais é 'pavio-curto' mesmo. Foi intolerante com o relatório da HRW. Paranóico, até. Mas não renego a importância que o governo dele teve na atual conjuntura política latino-americana, extremamente benéfica pois abriu caminho para que outras forças progressistas conquistassem espaço na América Latina.
Abraços,
Luis Henrique
PS: também sigo assinando 'anônimo' por uma estranha impossibilidade de se cadastrar no seu blog!
Beleza Celso,
Sua explicação está perfeita.
A HRW não é nenhuma instituição facista como alguns insinuam.
Eu gosto muito mais da respeitadíssima Anistia Internacional, mas não podemos prescindir do HRW.
Parabéns pelo artigo.
Grande abraço.
ISMAR C. DE SOUZA
Não teve coragem de publicar não é mesmo?
Já esperava por isto.
Mas daqui do meu exílio assistirei a derrocada de vocês, que não está longe.
Um abraço
Luís Henrique,
meu objetivo neste artigo não foi criticar o Chávez. Apenas escolhi um episódio venezuelano para contrastar com o desta semana pela coincidência de o Vivanco estar envolvido em ambos.
Agora, o que eu critico mesmo são as acusações levianas ao HRW. É uma organização bem diferente daquelas que não passam de fachada para a propaganda imperialista.
Um abração!
Um daqueles eternos anônimos (quanta infantilidade, querer polemizar com alguém sem se dar a conhecer!) me recrimina por não ter publicado sua discurseira ultradireitista.
Ora, quem quer ler clichês reacionários vai ao Ternuma ou ao blogue do Reinaldo Azevedo.
Aqui é uma praia bem diferente. E eu só abro exceção para comentários mandados por adversários que sejam, pelo menos, inteligentes e originais. São raros mas, às vezes, aparece algum.
Não era o caso do enviado pelo queixoso e merecidamente deletado.
Claro, Celso.
É que alguns dilemas éticos voltaram a me incomodar quando mencionou o 'separar o joio do trigo':
1 - Até quando podemos nos dar ao luxo de fazer juízo de valor do comportamento de terceiros, especialmente quando vivem em lugares e/ou épocas distantes do nosso cotidiano?
2 - Se a crítica dos semelhantes é desejável e necessária, para a manutenção de nossos princípios, como conciliar isto com a necessidade de não dar voz aos adversários?
Talvez eu esteja divagando muito, talvez sejam questões que não tenham resposta, mas gostaria de saber sua opinião.
Luis Henrique
Luis Henrique,
aonde você quer chegar? Isso está muito vago.
Eu avalio o comportamento de terceiros a partir dos princípios e valores que professo. Se você quer sugerir que alguns direitos do cidadão sejam sacrificáveis em nome da justiça social, eu respondo que não. Toda minha luta é no sentido de provar que a revolução pode coexistir com o respeito às liberdades fundamentais.
Também não encaro "não dar voz aos adversários" como uma "necessidade" em toda e qualquer circunstância. Com adversários civilizados eu discuto respeitosamente. Já com o Ternuma ou o Grupo Guararapes não cabe discussão, mas sim o cumprimento das leis que coibem difamação, calúnia, exortações golpistas, etc.
Um abração!
Celso
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