...só que no mau sentido.
Tudo começou com um debate na Faculdade de Direito da USP, nesta sexta-feira (6). O senador Eduardo Suplicy e eu defendemos a confirmação do refúgio humanitário para Cesare Battisti, contra um cidadão italo-brasileiro que atua no comércio entre os dois países e uma professora de Direito Penal, partidários da extradição para a Itália.
Os adversários eram qualificados, o senador Suplicy teve de ir embora antes do final das discussões e eu precisei esforçar-me muito para sustentar nossa posição.
Constatei, com satisfação, que os jovens estudantes de Direito questionam condenações lastreadas unicamente em depoimentos dos beneficiários de delações premiadas.
E fiquei particularmente emocionado quando alguns deles aplaudiram minha afirmação de que a submissão à letra da Lei às vezes conflita com um valor muito maior: o espírito de Justiça.
É uma tese que as pessoas mais vividas estão preparadas para aceitar, mas eu a lancei no debate meio ao acaso, sem grande esperança de sensibilizar a mocidade.
No entanto, existiam idealistas dentre eles! Havia quem, apesar da pouca idade, já aprendera a desconfiar dos Estados e das verdades oficiais.
Voltei para casa reconfortado.
Ovos da serpente - Mas, as horas de debate acirrado exigiram muito de minhas cordas vocais.
Como consequência, estava afônico ao discursar neste sábado (7) diante da Folha de S. Paulo, no ato de protesto contra o uso em editorial de um neologismo falacioso (ditabranda) para qualificar o regime militar de 1964/85 e as ofensas assacadas contra os professores Fábio Konder Comparato e Maria Vitória Benevides.
Tive de abreviar minha fala, para poder concluir antes que a voz me faltasse de todo. Deixei de dizer muita coisa que pretendia. Foi frustrante.
De qualquer forma, o êxito da manifestação organizada pelo Movimento dos Sem-Mídia lavou minha alma. Eduardo Guimarães está de parabéns!
Assim como merecem reconhecimento os companheiros, alguns bem veteranos, que foram manifestar sua indignação contra o falseamento da verdade histórica e chorar seus mortos queridos.
Fomos privados do coroamento de nossos esforços, quando corremos todos os riscos para extirpar o totalitarismo do País. Infelizmente, a desigualdade de forças pesou mais do que a justeza das concepções de sociedade pelas quais cada lado se batia.
Agora, tentarem, além disto, roubar-nos a indiscutível vitória moral que alcançamos, ao preço de sacrifícios terríveis, ISTO É INACEITÁVEL!
Então, o ato de hoje teve um significado inequívoco: NÃO DEIXAREMOS QUE A HISTÓRIA SEJA REESCRITA PELOS VILÃOS DO PASSADO E SEUS DISCÍPULOS PRESENTES!
Mesmo porque há sempre o risco de reincidências, se não esmagarmos os ovos da serpente.
Fazendo jus à condição de antena da raça, o artista Milton Nascimento indicou-nos a missão: "Morte, vela, sentinela sou/ Do corpo desse meu irmão que já se vai/ Revejo nessa hora tudo o que ocorreu/ Memória não morrerá" (Sentinela).
Cabe-nos zelar pelos irmãos martirizados e evitar que a memória morra, pois o amplo conhecimento das atrocidades passadas é a melhor vacina contra o totalitarismo futuro.
Ah, ia esquecendo: onde entra o Danton nesta história?
É simples: quando compareceu ao tribunal controlado pelos jacobinos que o acabaria condenando à guilhotina, Danton excedeu-se em suas falas no início do julgamento e estava afônico nos momentos culminantes.
A comparação só vai até aí. Longe de mim comparar-me, em termos de eloquência, a um dos maiores oradores revolucionários da História.
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