Quando foi anunciada a vitória de Barack Obama na eleição presidencial estadunidense, fiz um artigo que recebeu muitas críticas de pessoas ligadas aos movimentos negros, na linha de "agora é hora de festejar, não seja estraga-prazeres!".
Com o ceticismo que décadas de acompanhamento da política estadunidense me incutiram em relação aos expoentes do stablishment, escrevi:
"Há, claro, um simbolismo poderoso no fato de que um negro agora é senhor (e não serviçal) da Casa Branca.
"Mas, o poder econômico hoje se impõe de forma avassaladora, deixando pouquíssima margem de decisão para um presidente da República.
"O sistema funciona sempre do mesmo modo, a despeito da personalidade e ideologia de quem envergue a faixa presidencial, pouco mais podendo fazer do que cumprir as funções cerimoniais.
"Barack Obama é a mais nova rainha da Inglaterra. E, inegavelmente carismático, pelo menos não fará tanto mal a nossos olhos e ouvidos quanto os feios, sujos e malvados que cumprem idêntico papel na quase totalidade das nações."
Infelizmente, não é só na política econômica que Obama está decepcionando, por não promover nenhuma mudança realmente substancial. Até no capítulo dos direitos humanos ele deixa a desejar.
Começou bem, anunciando o desmantelamento da base de Guantánamo e a proibição das torturas que vinham sendo cometidas contra prisioneiros de outros países.
Mas, seu governo acaba de tomar uma decisão simplesmente escabrosa: não vai alterar a política do Governo Bush, de manter indefinidamente presos e sem acusação os afegãos capturados pelas tropas de ocupação dos EUA naquele país.
Ou seja, os estadunidenses continuarão arrogando-se o direito de atuar como força policial em outras nações. E ainda negarão aos cidadãos desses países o direito de recorrerem à Justiça dos EUA contra as prisões arbitrárias, de duração indefinida, que os invasores estrangeiros lhes impõem!
Presos por militares estadunidenses no Afeganistão, os supostos combatentes do taleban não poderão obter habeas corpus nem junto à Justiça afegã, nem junto à dos EUA. Mais kafkiano, impossível!
A legislação antiterror que os EUA adotou sob Bush e mantém sob Obama é um atentado aos mais elementares princípios de justiça, um aborto totalitário incrustrado na dita democracia.
Se a ONU continuar se mostrando impotente para coibir práticas tão grotescas, melhor extingui-la de vez. Terá se tornado uma burocracia onerosa e inútil.
E se o mundo continuar transigindo com a regressão ao absolutismo medieval, nada poderá reclamar das hordas que, cada vez mais, o assolam.
A opção continua sendo entre civilização e barbárie. E, neste melancólico início do século 21, a barbárie está ganhando terreno.
5 comentários:
Recebi agora por e-mail essa carta:
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Se você acredita que alguém sem autorização tenha modificado seu e-mail, verifique seu
Contrato de Compra.
Confira atentamente as informações contidas em seu Contrato de Compra!"
Não tenho a menor idéia do assunto e jamais efetuei tal compra. Há mais de seis anos não compro nada sem dinheiro vivo ou simples escambo.
Sr. Celso. Até aqui acreditei em Obama, e brinquei chamando-o de Osama, finalmente a dar ordens corretas de boas intenções.
Mas o senhor tem razão. Ele rendeu-se ao verdadeiro poder. O poder econômico.
O senhor, acaso, é profeta?
Companheiro,
a tal notificação é arapuca de hacker. Se você teclou em algum link, é bom fazer uma varredura com antivirus.
Eu também nunca acertei na loto ou megassena. E, com toda sinceridade, esperava apenas que Obama se sujeitasse às corporações, como todo presidente estadunidense.
Mas, dava como certo que ele anularia as políticas trogloditas de Bush. Fiquei pasmo ao constatar que ele prefere coonestar violações grotescas dos direitos humanos dos afegãos do que dar pretexto a que a direita estadunidense o acuse de frouxo com o terrorismo.
Ou seja, coloca a politicalha sórdida à frente do respeito à Declaração Universal dos Direitos dos Homens.
Que decepção! Morro de pena dos negros brasileiros, que saudaram com entusiasmo tão ingênuo a vitória desse farsante...
Imaginei, do hacker... e por isso te mostrei... A eletrônica (sou engenheiro disso) pode controlar, e o fará se nada for feito, ao ser humano indiretamente. Eu de fato aplaudi Obama. Como cheguei a quase acreditar que o Lula fosse capaz de resolver nossas mazelas.
Na verdade, Celso, é quase irresistível a gente não se deixar corromper pelo glamour do poder. Entretanto há, e poucos se dão conta disso, poder no cargo. Ou seja, acabam seduzidos por ... bobagens egoístas e pessoais, quando poderiam escolher fazer a diferença, e terem seus nomes e os de seus familiares, protegidos e amados pela quase eternidade. Os problemas existem, são simples de serem resolvidos, mas falta pulso e caráter, principalmente, em quem muda de cara ao assumir o cargo que pleiteia, e não se dá conta de que o possuiu até que seja tarde demais. O mundo, o planeta, precisa de um líder e parece que os líderes ainda não se conscientizaram disso.
O governo Obama inclusive já autorizou um aumento no efetivo das tropas estadunidenses no Afeganistão - cerca de 17.000 soldados.
E uma pergunta: será que 'civilização' e 'barbárie' são mesmo antagônicos? Não é sempre em nome da primeira que se espalha a última?
Abraços,
Luís
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