Um episódio emblemático da redemocratização do Brasil, verdadeiro divisor de águas, foi a missa para Vladimir Herzog na Catedral da Sé.
Geisel, que apostava numa abertura lenta, gradual e progressiva, prometeu que o ato ecumênico não seria reprimido, desde que houvesse comedimento: "Segurem seus radicais, que eu segurarei os meus".
Então, afora o enorme congestionamento de trânsito que as autoridades provocaram para atrapalhar a chegada da multidão à missa, nada houve para empanar o brilho daquela altaneira manifestação de repúdio ao arbítrio. A abertura avançou.
A repressão foi colocada na defensiva e dela não mais saiu, embora tentasse alguns golpes desesperados, como o atentado planejado para o Riocentro (que causaria milhares de vítimas, caso a bomba não tivesse explodido no colo do militar terrorista).
SEGURAR OS RADICAIS -- Eis algo que devemos ter em mente, quando se aproxima a sessão do Supremo Tribunal Federal que apreciará o Caso Battisti.
Há um nítido empenho da imprensa burguesa em vender a imagem de que o STF vai optar pela extradição. É exercício de lobby, expressão de desejo, na esperança de que se torne realidade. NÃO DEVEMOS, EM HIPÓTESE NENHUMA, DAR CRÉDITO ÀS FALÁCIAS DO INIMIGO!
O Governo Lula está comprometido com a concessão do refúgio humanitário a Battisti e sofrerá uma derrota fragorosa se o caso for decidido na contramão do que a Lei do Refúgio determina.
ENTÃO, NÃO FAZ SENTIDO NENHUM LULA HAVER AFIRMADO QUE ACATARIA A DECISÃO DA JUSTIÇA, A MENOS QUE ELE TIVESSE RAZOÁVEL ESPERANÇA DE QUE TAL DECISÃO SERÁ A CORRETA E A UNICA JURIDICAMENTE ACEITÁVEL: A CONFIRMAÇÃO DO ATO SOBERANO DO GOVERNO BRASILEIRO.
Se o STF renegar seus entendimentos anteriores em casos semelhantes e usurpar uma prerrogativa do Executivo, sem que este reaja, estará decretada a falência política e moral do Governo Lula; e a divisão do partido, a custo evitada até agora (a esquerda do PT acaba de engolir o sapo de mais uma decisão da Advocacia Geral da União pró-torturadores), acabará eclodindo de vez e colocando em risco, inclusive, a candidatura de Dilma Roussef.
DAÍ MINHA CONVICÇÃO DE QUE O GOVERNO ESTEJA MOBILIZANDO TODAS AS SUAS FORÇAS E APOIOS NO SENTIDO DE QUE SEJA MANTIDA A DECISÃO DE TARSO GENRO (MESMO PORQUE A PARADA É BEM ALTA).
É, repito, o momento de segurarmos nossos radicais. Nada de fornecermos trunfos ao inimigo, com atitudes impensadas, que se voltem contra nós como bumerangues. Não devemos, de maneira nenhuma, atacar o STF em bloco e colocar previamente em xeque sua decisão.
Há ministros do Supremo que pretendem honrar suas posições anteriores, sempre no sentido do acatamento da Lei do Refúgio. O nosso papel é ajudá-los, no sentido de que prevaleçam, ao invés de atrapalhá-los com radicalismos estéreis.
E sempre levando em conta que o Governo também está atuando, com os instrumentos de que dispõe.
NADA DE QUEIMARMOS ETAPAS. A batalha da vez é esta que logo estará sendo travada no STF. Nem de longe está antecipadamente perdida, temos mais é de lutá-la com convicção e coragem. DERROTISMO, JAMAIS!
Apenas no caso improvável de um mau resultado é que teremos de passar à etapa seguinte, centrando forças na decisão final de Lula. Apelos ao presidente só caberão se o caso voltar às suas mãos; antes disso, por respeito ao Poder Judiciário, ele não intervirá.
Numa batalha de opinião, quem perde a cabeça ajuda o inimigo.
Um comentário:
Perfeita colocação sobre o lobby da imprensa burguesa, com matérias que tentam preparar terreno para uma decisão do STF pela extradição.
Incrível como essa mídia plnata reportagens que expõe mais a vontade do órgão do que uam verdade factual.
A matéria hoje do Estadão é a mais exemplar nesse sentido, na qual afirma que os ministros já reuniram argumentos suficientes para a extradição, e afirmando ainda que até agora haveriam 5 a 3 em favor da extradição. Mas não contam o Ministro Marco Aurelio de Mello, que já afirmou em matperia no Conjur que não tem cabimento jurídico mudar a jurisprudência e a interpretação da lei.
A imprensa burguesa entrou de cabeça na guerrilha psicológica em favor da extradição. Tanto para desesperar o advversário quanto deixar o STF menos a vontade em votar a favor da liberatação de Battisti.
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