Faz muito tempo que eu disse: no episódio da Operação Satiagraha só havia bandidos, nenhum mocinho que fizesse jus aos aplausos da platéia.
Todos os detritos que vieram à tona nas últimas semanas (ou foram espalhados pelo ventilador, como vocês preferirem...) só reforçaram minha convicção.
Numa iniciativa flagrantemente motivada por choques de interesses escusos (relativos a grandes negociatas), o diretor da Abin e uma ala minoritária da Polícia Federal articularam uma operação abusiva e arbitrária contra outro vilão, um banqueiro crapuloso.
Esteve a apoiá-los um juiz que, ou tem também envolvimentos inconfessáveis, ou se vê como um personagem cinematográfico com licença para expedir mandados de prisão em série (algo assim como a licença para matar do James Bond). Um 007 togado, enfim...
Chocaram-se com o presidente do STF, que inspira as piores suspeitas e uma certeza: a de que, falando pelos cotovelos para atrair holofotes,comporta-se de forma a mais incompatível com a dignidade de sua posição.
Nenhum cidadão decente e sensato tomaria partido pelas pessoas e instituições emaranhadas nesse ninho de cobras.
Daí a minha postura de defender unicamente princípios, como o de que devem ser respeitados os habeas corpus concedidos por quem de direito (ainda que equivocados), pois a alternativa é muito pior: tiras brincando de gato e rato com a Justiça, como já fizeram em outros tempos, quando escondiam presos e os transferiam de uma unidade para outra, a fim de que os habeas corpus nunca os alcançassem.
Também me coloco visceralmente contra a bisbilhotice desenfreada, a violação generalizada e aberrante do sigilo telefônico por parte dos repulsivos arapongas.
E, claro, prego o respeito à Constituição, com todas as suas imperfeições, pois aqui também a alternativa è muito pior: o desprezo pelos direitos individuais, desembocando no estado totalitário.
Então, fiquei simplesmente pasmo ao ler as últimas declarações do 007 togado:
"A Constituição não é mais importante que o povo, os sentimentos e as aspirações do Brasil. É um modelo, nada mais que isso, contém um resumo das nossas idéias. Não é possível inverter e transformar o povo em modelo e a Constituição em representado.
"A Constituição tem o seu valor naquele documento, que não passa de um documento; nós somos os valores, e não pode ser interpretado de outra forma: nós somos a Constituição."
Sempre que pseudo-iluminados se colocaram acima da Constituição, os resultados foram desastrosos; amiúde trágicos.
E um magistrado é o último cidadão a poder referir-se à Carta Magna, depreciativamente, como "um modelo, nada mais que isso", "que não passa de um documento".
Quem lhe concedeu, afinal, autoridade para falar em nome do "povo, os sentimentos e as aspirações do Brasil"? Imagina-se um salvador da Pátria? E acredita poder conciliar tais delírios com os fartos benefícios que o sistema lhe concede?
Assim como seu desafeto que preside o STF, o 007 togado evidencia sua incompatibilidade com a função que desempenha.
Ambos deveriam ser conduzidos a afazares mais apropriados para seus talentos: um nos palcos, contracenando com as divas; e o outro nos arrabaldes, comandando justiceiros.
Um comentário:
Vem-me ao pensamento o Doutô Gilmar Mendes, com aquela cara carrancuda e feia, com sua voz empostada cantando um tango de Carlos Gardel sendo acompanhado por vedetes dançantes num programa de calouros, ou um filme de faro West com o ministro Tarso Genro numa cena de duelo no qual sai sacando sua pistola e desferindo tiros para o alto, atingindo um abutre que He cai sobre sua cabeça! Sábio era Noel Rosa que cantava: "Palpite,/palpite, nasceu do crânio de quem teve meningite”!
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