A PM trocou o comandante do inquérito que deveria apurar as trapalhadas cometidas pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) no Caso Santo André. Resta saber se foi para produzir mais luz ou, pelo contrário, apagar a pouca que existia, mediante uma atuação mais eficaz no encobrimento da verdade dos fatos.
O coronel Eliseu Teixeira, sem isenção nenhuma, assumira a defesa incondicional do Gate.
Quando começou a ser desmascarada pela TV Globo a balela de que a invasão policial havia sido precipitada por um disparo de Lindemberg, o coronel se manteve irredutível.
Aí a sobrevivente Nayara confirmou em entrevista coletiva o que já ficara evidenciado a partir do teipe gravado no momento dos acontecimentos e das conclusões do perito independente contratado pela emissora: não houvera tiro nenhum, só uma operação de inoportunidade e incompetência extremas, que acabou provocando a morte de quem se queria salvar.
Como 2 e 2 são quatro, a opinião pública imediatamente concluiu que a verdade era a que se depreendia de teipe, perito e Nayara; e que a mentira estava do lado de sempre.
Foi quando o coronel tentou salvar a situação com uma frase patética, dizendo que o tiro não era "fator primordial" para avaliar-se se a ação do Gate fora ou não desastrosa.
Insultou a inteligência de todos que acompanhavam o caso.
Se houvera tiro, ainda se poderia desculpar uma invasão que deu todo tempo do mundo para Lindemberg atirar em Eloá.
Sem tiro, a única conclusão possível é que tal invasão foi inconsequente, sem planejamento adequado e executada da forma mais canhestra.
Segundo a PM, o coronel Eliseu Teixeira foi botinado do inquérito "devido à repercussão da coletiva" de Nayara. Por ter sido flagrado mentindo ou porque não conseguiu bolar uma mentira convincente para tapar o sol com a peneira? Eu cravaria a segunda opção, sem pestanejar...
De tudo isso, o que mais deveria preocupar o cidadão comum é: se a PM mente descaradamente num episódio que meio mundo estava acompanhando, o que não fará nos demais?
Desta vez, por acaso, havia uma poderosa emissora de TV esmiuçando o episódio. E das outras vezes, quando ninguém desmistifica as mentiras?
Quantos inocentes não terão sido abatidos por engano e depois dados como "bandidos reagindo à prisão"?
Quantos não estarão cumprindo penas imerecidas?
Quantas pessoas honestas não terão sido colhidas por fogos cruzados que uma polícia competente evitaria provocar?
Não era só o comandante do inquérito que precisava ser trocado. É a própria filosofia que norteia a truculenta atuação policial em São Paulo e aqueles que por ela respondem nos altos escalões.
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