domingo, 19 de outubro de 2008

"O PT FOI ENGOLIDO PELO ATRASO"

Entrevistado pela Folha de S. Paulo, o sociólogo Francisco de Oliveira, professor aposentado da USP e um dos intelectuais historicamente mais identificados com PT, deu as seguintes razões para a provável vitória de Gilberto Kassab sobre Marta Suplicy:

"...a administração de Kassab está muito fresca na memória, enquanto a de Marta já tem quase quatro anos de distância. Isso hoje é muito importante devido à imediaticidade da mídia.

"São Paulo é uma cidade bastante conservadora. Se você retoma a história brasileira, o populismo paulista sempre foi de direita: Adhemar de Barros, Jânio Quadros, Paulo Maluf.

"...a centralidade econômica de São Paulo [como sede de sede de grandes empresas, bancos, associações empresariais, etc.] leva a cidade para a direita.

"As indústrias saíram de São Paulo. São Paulo não é mais uma cidade proletária: é uma cidade de serviços e de um setor informal imenso, cuja identificação de classe é muito ambígua, muito perpassada pelo fenômeno da sobrevivência.(...) A cidade se desproletarizou na forma clássica e ganhou um enorme exército de trabalhadores informais... (que) votam na direita devido ao imediatismo. É gente que quer benefícios imediatos, sem esperar por transformações estruturais."

DE PARTIDO DOS TRABALHADORES A PARTIDO DOS POBRES

O desalento de Francisco de Oliveira é maior ainda em relação ao partido no qual, como tantos outros brasileiros ilustres, depositou sua melhores esperanças:

- O PT, como força transformadora, foi engolido pelo atraso... [suas políticas não] são políticas de ajustamento, não são políticas sociais transformadoras - elas se ajustam à realidade. O Bolsa Família é uma política de ajuste, uma política conformista. E isso reflete essa situação um tanto ambígua de uma classe que não é classe, desse enorme exército informal que representa mais de 50% da força de trabalho. Então, o PT foi engolido pelo atraso. A modernização das políticas sociais é uma regressão da classe para a pobreza, enquanto o movimento histórico vai da pobreza para a classe.

Engolido pelo atraso, o PT haveria deixado, segundo o sociólogo, de ser um partido dos trabalhadores para se tornar um partido dos pobres.

Além disto, ao profissionalizar-se e burocratizar-se, teria dado aos seus dirigentes a condição de se tornarem "uma nova fração de classe" (ou seja, eles estariam aburguesados).

Se tudo isso for verdade - na minha opinião, é - resta saber como deveremos lidar com o filho que geramos e formamos com imenso carinho, mas hoje só nos causa tristeza e decepção.

Uma coisa é certa: não merece mais ser encarado como o menos pior nas disputas eleitorais, que fazia jus, pelo menos, a nosso voto útil.

Pois, como bem ressaltou Francisco de Oliveira, as diferenças hoje existentes entre o PT e as demais forças conservadoras, "do ponto de vista das políticas decisivas, (...) são quase irrelevantes".

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