Roger Federer deu um grande passo em sua perseguição a Pete Sampras, de quem tenta arrebatar o cetro de principal colecionador de títulos dos quatro principais torneios do tênis mundial (o chamado Grand Slam).
São só quatro por ano e Federer, em aparente declínio, não ganhara nenhum em 2008. Mas, aproveitou bem sua última chance de não passar a temporada em branco: o Aberto dos EUA.
Tem, agora, um grande incentivo para confrontar o furacão Nadal em 2009: a perspectiva de, ganhando mais dois torneios, tornar-se o indiscutível maior tenista de todos os tempos.
Federer foi (definitivamente?) desalojado da posição de nº 1 das quadras por Nadal, mas ainda tem chance de fechar com chave de ouro sua carreira, superando os 14 Grand Slam de Sampras. Só que terá de fazê-lo logo, em 2009 ou 2010, pois a idade vai ser, cada vez mais, sua inimiga.
Sempre fui fascinado pelos dramas humanos no esporte. Duas situações, em especial, me atraem muito: os grandes veteranos em busca de um canto do cisne à altura e o rito de passagem (momento de afirmação) dos jovens talentos.
Na primeira categoria, claro, a principal proeza foi a vitória de Muhammad Ali sobre George Foreman na maior luta de boxe de todos os tempos.
Depois de passar anos fora dos ringues em razão da injusta pena que recebeu da máfia do pugilismo por se recusar a vestir a farda dos EUA na Guerra do Vietnã, teve de enfrentar um campeão jovem e poderosíssimo.
A apreensão generalizada era de que Ali, além de derrotado, sairia morto do ringue. Mas, com uma força de vontade incomum e um discernimento mais raro ainda entre boxeadores, encontrou a tática capaz de fazer Davi vencer Golias: deixar-se golpear nas cordas por intermináveis assaltos, confiando na sua guarda e esperando o cansaço minar Foreman.
No oitavo round o gigante vacilou e Ali, com uma energia da qual ninguém o julgava capaz, desferiu uma sequência fulminante de golpes em alta velocidade, fazendo Foreman desabar lentamente, como uma torre. Um momento épico.
Poucos notaram, entretanto, que o castigo contínuo a que Ali fora submetido lhe causou até um rápido desmaio durante a comemoração do triunfo. Talvez ele tenha sido o mais próximo que já vimos de um super-homem: um pugilista estilístico, que lutava de forma inteligente e artística mas, ao mesmo tempo, tinha extrema resistência à dor.
Certa vez sua mandíbula foi fraturada no 2º assalto por Ken Norton e, mesmo assim, ele resistiu até o final da luta, para perder apenas por pontos. Foi um assombro no mundo do boxe. Ali não só exibia um ego gigantesco, mas se mostrava sempre à altura do personagem que criara para si próprio...
Na categoria de rito de passagem, o mais exemplar foi o de Garry Kasparov. Ousado no xadrez e na vida, ele era visto como uma ovelha negra pelos trombas do regime soviético, pois não se prostrava à burocracia dominante.
Então, ao desafiar o conformista Anatoly Karpov pelo posto de nº 1 do xadrez mundial, os fatores esportivos e políticos se confundiram na disputa. Era um franco-atirador enfrentando o poderoso stablishment enxadrístico da URSS.
Burocrático no xadrez como na política, Karpov começou se defendendo bem e aproveitando os erros de Kasparov, que se lançava com volúpia ao ataque. Colocou 5 x 1 no marcador. Precisava só da sexta vitória para vencer o match.
Aí Kasparov resolveu responder na mesma moeda: retrancou o seu jogo e não correu mais risco nenhum. Deu-se, então, uma sequência infernal de empates, uns vinte, se bem me lembro.
O franzino Karpov tinha menos resistência física e mental: na 47ª partida começou a desmoronar. Perdeu essa e a seguinte. Como as regras não admitiam interrupção por decisão médica, só lhe restava entregar os pontos ou ir para o tabuleiro sofrer mais três derrotas. Estava inapelavelmente vencido.
Foi quando o presidente da federação, um filipino, anulou o match por "desumanidade". Decisão criticadíssima. E, quando nova disputa se travou a partir do zero, alguns meses depois, Kasparov, claro, massacrou Karpov.
Um enxadrista brasileiro (talvez Helder Câmara), comentando diariamente o match no Jornal da Tarde, avaliou: ao superar seu maior desafio, caminhando no fio da navalha, o menino Kasparov se tornara um homem. Perfeito.
Nos últimos anos, torci muito para que Andre Agassi e Zinedine Zidaine tivessem cantos do cisne fulgurantes; subi nas paredes quando uma maldita quebra do motor impediu Michael Schumacher de encerrar a carreira como campeão; e fiquei imensamente frustrado por Oscar Schmidt ter abandonado as quadras sem o reconhecimento oficial de que foi o maior cestinha de todos os tempos.
Agora, estou torcendo para Federer e Ronaldinho Gaúcho darem a volta por cima. E para o menino Messi sair-se bem no seu rito de passagem, tornando-se um novo Maradona.
Um comentário:
Caro Celso,
Concordo em quase tudo que tu disses neste texto. Mas, não acho que o Lionel Messi vá se tornar um novo Maradona.
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