sábado, 9 de agosto de 2008

CONTINUA O BATE-BOCA SOBRE PUNIÇÃO DOS TORTURADORES

Tarso Genro reclama que a ficha a respeito de sua militância na resistência à ditadura de 1964/85, lida numa manifestação de militares favoráveis à impunidade eterna dos culpados por práticas hediondas, não conste dos poucos arquivos que as Forças Armadas entregaram ao Arquivo Nacional.

Patético. Ele, como ministro da Justiça, deveria, isto sim, tomar as providências cabíveis para o reconhecimento oficial, por parte do Estado brasileiro, de que houve aqui uma luta de resistência à tirania, na qual eram perfeitamente lícitos alguns atos que, em outras circunstâncias, constituem crimes comuns.

Ninguém acusa a Resistência francesa por trens descarrilados, pontes explodidas, quartéis mandados pelos ares e colaboracionistas executados. Aqui também tínhamos um regime fantoche, como o de Pétain, mancomunado com interesses estrangeiros e impondo o terrorismo de estado aos cidadãos brasileiros.

De Genro espera-se mais que a convocação de audiências públicas e o bate-boca com jurássicos desqualificados.

Por enquanto, o que ele fez de concreto foi recomendar à Advocacia Geral da União que reconheça a prática de torturas, no caso movido por promotores contra os antigos comandantes do DOI-Codi.

Foi um passo na direção correta... mas muito tímido.

Continua devendo medidas mais efetivas para desencadear o esclarecimento das atrocidades e a punição dos responsáveis.

E não apenas de alvos fáceis como o Brilhante Ustra, mas também dos mandantes -- aqueles a quem os defensores do esquecimento do arbítrio querem realmente preservar. Ustra é sacrificável.

4 comentários:

fotos do doi-codi rj disse...

Isso eu mandei.
Excelentíssimo Senhor
Ministro Nelson Jobim
DD. Ministro da Defesa


Excelência,

Com os meus cordiais cumprimentos, peço permissão para utilizar a liberdade de prerrogativas de auto-expressão.
Tenho diante de mim o jornal “O Estado de São Paulo” datado de 04/08/2008, página A4.
Senhor Ministro, fui militar em 1966, também, tive prisão efetuada na Rua dos Inválidos e conheço muito bem os fatos dessa época.
São fortes as lembranças dos afastamentos de generais de divisão, brigada, coronéis que não compactuava com as ordens do então Ministério da Guerra e os clãs que deram um jeito de eliminar o Marechal Castelo Branco, daí, fizeram a maior devassa para eliminar os seus opositores e criaram os AI´s para embutirem todos os sistemas de policiais como forças auxiliares sobre o comando do Exército.
Como civil em novembro de 1970, fui protagonista dos anos de chumbo e acusado de terrorista como membro do VPR (Vanguarda Popular Revolucionaria) do então, Capitão Lamarca. Passei pelas torturas do DOI-CODI da Rua Barão de Mesquita da cidade do Rio de Janeiro.
Como se fosse possível resumir os acontecimentos, cabe dizer que dói muito a consciência de que os algozes gozaram e ainda gozam de privilégios até os dias de hoje com essa anistia; que foi um truste muito bem armado em proteção ao bem estar desses monstros enfurnados no conforto do berço esplêndido da nação que é do povo.
De um lado, nós lutamos até os dias de hoje nos hospitais com os tratamentos para suportarmos as muitas dores das seqüelas que herdamos e por outro, através das demandas na Comissão de Anistia e tribunais de justiça pelo reconhecimento de um direito que nos foi negado, o de lutar por um País mais justo e mais humano. O irônico disso tudo Senhor Ministro, é que eles se acham no direito diante da AGU (advocacia geral da união) de se defenderem e lhe digo o incrível, é que nenhum deles compareceu diante do juiz nas audiências as quais foram convocados.
Portanto, é de Justiça que necessitamos! Para podermos continuar acreditando naquele sonho que tínhamos em 1970, que esse País ainda tem jeito.

Atenciosamente,

Espedito de Freitas


São Paulo, 8 de agosto de 2008

William Wollinger Brenuvida disse...

Das catacumbas emergem nossos guerreiros mais valorosos. O silêncio apresentado como regra começa a ser quebrado, principalmente em sites, blogs, e espaços virtuais como esse. Nosso amigo Celso Lungaretti é pessoa honrada que sobreviveu ao porão do DOPS.

Nesse texto, cobra a efetiva condição constitucional e democrática de nossa pátria, qual seja revelar os horrores de nosso holacausto latino e tupiniquim. Mais que isso! Punição aos covardes que se encontram e se guardam em fardas, medalhas, títulos. Não fugirão e e nunca de suas memórias, da história...

O Ministro Tarso Genro deve tomar uma postura mais dinâmica e audaz. Deve buscar investigar e revelar que em dado momento, homens e mulheres dignos desse país, foram torturados e silenciados.

Saudações Fraternas,
William Wollinger Brenuvida
http://acangatu.blogspot.com/

celsolungaretti disse...

Espedito, diante das injustiças, uma ação, qualquer ação, é sempre melhor do que a omissão.

Mas, essa sua ação só produzirá resultados se você a encarar como uma carta aberta e a divulgar por todos os meios ao seu alcance.

Do Jobim não espere nada, pois dele nada obteremos. Só quer apaziguar os milicos, para conservar sua boquinha... digo, Pasta.

celsolungaretti disse...

William, se um veterano como eu (minha mulher, brincando, me chama de "sobra de guerra") serve de algo, é para motivar os jovens que deverão empunhar a tocha doravante.

Eu estou mais ou menos como o personagem daquela música do Jethro Tull, velho demais para o rock'n roll, jovem demais para morrer. Então, continuarei por um bom tempo (espero...) plantando minhas sementes aqui e acolá.

E algumas já estão frutificando: os companheiros que vêm trazer sangue novo para nossa luta.

O futuro a vocês pertence.

Um forte abraço!

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