quinta-feira, 19 de abril de 2018

SEMANA TIRADENTES/6 = O INCONFIDENTE CLÁUDIO MANUEL DA COSTA SUICIDOU-SE OU FOI 'SUICIDADO' COMO HERZOG?

Terá sido assassinado no cárcere...
No último dia de outubro de 2016, a revista Superinteressante trouxe este anúncio bombástico do jornalista Sérgio Amaral Silva, que já conquistou um Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos:
"Uma farsa que perdurou por mais de dois séculos na história do Brasil acabou de ser desvendada. Em 1789, um dos principais líderes da Inconfidência Mineira, o advogado e poeta Cláudio Manuel da Costa, foi encontrado morto na prisão. Segundo a versão oficial, ele havia se suicidado. 
Cerca de 20 anos mais tarde, surgiu em Vila Rica (hoje Ouro Preto) alguém que dizia ter sido um dos médicos que examinaram o corpo. Ele afirmava que o laudo original, de assassinato, havia sido mudado para suicídio a pedido do governador, o visconde de Barbacena. Como essa testemunha era conhecida apenas pelo apelido de Paracatu, o caso foi tratado como lenda por gerações de historiadores, até nossos dias. 
Depois de pesquisar o assunto por mais de 25 anos, descobri a chave do mistério em um livro de 1911, Igrejas e Irmandades de Ouro Preto, do historiador Joaquim Furtado de Menezes. Ele faz uma referência ao projeto de construir uma capelinha ao lado da casa do cirurgião-mor Caetano José Paracatu. Tratava-se de Caetano José Cardoso, um dos responsáveis pelo laudo cadavérico de Cláudio. Ou seja, o tal Paracatu existia mesmo.
...A exemplo do jornalista Vladimir Herzog em 1975, Cláudio não se matou, mas foi assassinado. O provável mandante foi o visconde de Barbacena, cujo envolvimento na Inconfidência é pouco conhecido, mas que temia ser incriminado se Cláudio fosse ouvido pelo vice-rei no Rio de Janeiro"
...assim como Vladimir Herzog?
É uma polêmica que perdura praticamente desde a morte de Cláudio Manuel da Costa. 

Filho de família abastada, aos 20 anos (em 1749) ele embarcou para Portugal, obtendo então o bacharelato em Cânones na Universidade de Coimbra. Retornou ao Brasil em 1753 ou 1754, dedicando-se à advocacia em Vila Rica (atual Ouro Preto). 

Jurista culto e renomado, ali exerceu o cargo de procurador da Coroa, desembargador, e, por duas vezes, o de secretário de Estado. Era conhecido e respeitado nos círculos literários.

Com a idade de 60 anos, teve uma participação colateral na Conjuração Mineira. Detido e interrogado uma única vez, morreu em circunstâncias obscuras, em Vila Rica, no dia 4 de julho de 1789. Oficialmente, teria cometido suicídio por enforcamento na prisão.

As dúvidas a respeito se baseavam, primeiramente, na relutância dos que o conheciam em aceitarem que ele fosse capaz de decisão tão extrema.

Depois, no fato de que o visconde de Barbacena só informou Lisboa da morte de Cláudio Manuel da Costa a 15 de julho, 11 dias depois de ter ocorrido; nesse meio tempo, mais exatamente no dia 11 de julho, deu conhecimento à corte de que ele fora interrogado, omitindo, contudo, que já estava morto. Isto se deveria a ser Manuel da Costa um personagem importante, cuja prisão poderia lhe causar embaraços, daí a necessidade de uma farsa ser montada.

Finalmente, desconfiava-se da posição em que foi encontrado o cadáver, de pé, encostado ao armário,  com a perna direita vergada e apoiada numa das prateleiras do móvel.

O chamado enforcamento por suspensão incompleta era então desconhecido. Só  depois de 1830, com o suicídio em Paris do príncipe de Condé, a Medicina Legal admitiu que ele possível, enfraquecendo a posição dos que acreditavam que Manuel da Costa fora vítima de homicídio.

Agora o quadro sofre nova reviravolta e a hipótese mais provável passa a ser a de que Tiradentes não tenha mesmo sido o único inconfidente assassinado pelos portugueses. 

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