segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

O QUE VOCÊ VAI SER DEPOIS DE MAIO, QUANDO O SONHO ACABAR?

OS 50 ANOS DA PRIMAVERA DE PARIS
Cineastas dando fim prematuro ao Festival de Cannes de 68 
Há na internet uma infinidade de posts listando os filmes mais sintonizados com a Primavera de Paris.

Para quem compartilhou os sonhos da geração 68 e foi fundo no empenho de tornar-se, de corpo e alma, um homem novo, amargando depois os terríveis retrocessos dos anos 70, os dois filmes mais emblemáticos são A chinesa (1967), do parisiense Jean-Luc Godard, uma espécie de trailer de tudo que estava para acontecer; e Jonas, que terá 25 anos no ano 2000 (1976), do suíço Alain Tanner,  aquele que mais poeticamente acenou com a esperança de que um novo 1968 estaria inscrito em nosso futuro.

Depois de maio (2012), do parisiense Olivier Assayas, não é nenhuma obra-prima, mas dá ao leitor de hoje uma boa nação do que era estar no meio do turbilhão de 1968 e ter de reconstruir-se quando o sonho acabou, daí minha decisão de postá-lo também.

Para introduzi-lo, aproveito trechos da boa crítica de Érico Borgo no site Omelete:

"Olivier Assayas (...), retorna ao tema de seu primeiro filme aclamado, Água Fria (1994): as revoluções culturais e políticas buscadas pela juventude estudantil na França no início dos anos 1970.

A obra começa em 1971, nos arredores de Paris, onde o aspirante a pintor Gilles (Clément Métayer) e seus amigos Alain (Félix Armand), Jean-Pierre (Hugo Conzelmann) e Christine (Lola Créton), trabalham na disseminação de ideias revolucionárias e anarquistas. 

Quando um protesto dá errado, porém, eles precisam afastar-se da cidade em que vivem. Iniciam então jornadas distintas de conhecimento, de busca por ideias, inspiração e aprendizado.

...A trama acompanha Gilles enquanto ele amadurece sutilmente seu apreço pelo cinema, arte que no começo do filme é motivo de debates acalorados entre os movimentos de esquerda, que a enxergam como 'pequeno-burguesa' e rechaçam até mesmo essa linguagem ('do inimigo') como maneira de narrar histórias importantes para seus movimentos.

...o filme tem uma estrutura solta, orgânica, sem arcos de personagens ou uma trama convencional estabelecida. A história interessa-se apenas em acompanhar pessoas em busca de quem são – que mudam de amizades, relacionamentos e ideologias a cada passo. 

Os personagens não têm grande profundidade, mas isso funciona favoravelmente ao filme, já que ele está muito mais interessado em mostrar o processo dessa construção de personalidades do que o resultado em si.

Assim, ao final, Depois de Maio é sobre o desejo de experimentar, de descobrir-se e deixar sua marca no mundo. 

'Você tem sorte, sabe o que vai ser', diz um dos personagens a Gilles. Mas saber o seu desejo não significa conhecer todas as etapas do processo e as fascinações que podem desviá-lo do caminho.

É justamente isto que interessa a Assayas".

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