terça-feira, 13 de junho de 2017

UM FILME DE 2000 QUE CAI COMO UMA LUVA PARA O BRASIL DE 2017: "CRONICAMENTE INVIÁVEL".

Escreveu o leitor José DeSouza: "Nesta fase de escancaramento amplo, geral e irrestrito das nossas contradições, sugiro um filme que bem poderia fazer parte da lista do Náufrago. Trata-se do filme Cronicamente inviável, de Sérgio Bianchi (2000), disponível no YouTube".

Tenho o maior prazer em atender o pedido. Mas, com o agravamento progressivo das minhas dificuldades de audição, que vêm desde o tímpano do ouvido direito estourado pelos torturadores da ditadura em 1970 (e o raio cairia pela segunda vez no mesmo lugar em 1993, quando um atropelamento comprometeu o outro ouvido), não assisto mais a filmes sem legenda. 

É que não compreender boa parte dos diálogos me exaspera e estressa muito. Os nacionais que posto aqui, quase sempre vi no passado, então a memória me ajuda a escrever sobre eles. Não sendo este o caso do Cronicamente inviável, o jeito será introduzi-lo mediante a reprodução de trechos da ótima crítica de Bruno Gawryszewski, publicada no site Tela Crítica (para quem quiser lê-la na íntegra, eis o link):  
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"Um Brasil caótico e hipócrita é o retrato pintado por Sérgio Bianchi em Cronicamente inviável. Um Brasil nojento em que ninguém se salva de sua culpa, onde as relações de opressor e oprimido estão expostas a toda prova tendo como ponto de interseção o restaurante de Luiz (Cecil Thiré).

Seis personagens centralizam o filme. Luiz é um homem refinado que acredita na civilidade e nas boas maneiras como forma de se resolverem os problemas. Amanda (Dira Paes) é a gerente de seu restaurante, uma mulher de origem pobre que incorpora a ética e os costumes burgueses. Adam (Dan Stulbach) é um sulista descendente de poloneses que vai trabalhar como garçom no restaurante. 

Maria Alice (Betty Goffman) é uma mulher de classe média alta que se compadece com as injustiças sociais. Seu marido Carlos (Daniel Dantas) é um economista que acredita na racionalidade e no pragmatismo do capitalismo. Por fim, Alfredo (Umberto Magnani) é um pesquisador que viaja pelo Brasil procurando compreender e refletir as relações de dominação e opressão.

...a importância de um filme como Cronicamente inviável se dá em convidar o espectador à reflexão sobre até aonde contribuímos para a manutenção do status quo, mesmo que assumamos posturas críticas ou revolucionárias frente à situação que constatamos à nossa frente todos os dias. 
O filme critica o pensamento tipicamente pós-moderno de não conferir nenhum grau de teleologia e objetivos às suas reflexões, mas a uma mera constatação da realidade. Até porque assim é mais fácil obter financiamentos dos órgãos de fomento e da iniciativa privada (também para suas campanhas políticas).

Por fim, Bianchi expõe a usurpadora ética burguesa de educar e preconizar a honestidade como um dos pilares necessários para o funcionamento harmonioso da sociedade, ao mesmo tempo em que seus representantes utilizam o Estado para obter concessões, subsídios, renegociações/calote de dívidas, refinanciamentos. 

Uma mendiga recita, sinceramente, o salmo 23 do Novo Testamento a seu filho. “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará” e explica que Deus nunca vai deixar que falte nada a ele. Apesar de serem pobres, acima de tudo devem ser honestos. Assim, o Brasil segue sendo uma crônica inviável".

Um comentário:

SF disse...

Vi o filme.
Me pareceu do estilo jogral entremeado por esquetes.

Revi a corrutela do garimpo Bom Futuro que connheci no final do ciclo. Os caras estavam processando o rejeito.

O que um cara vê como cronicamente inviável é uma visão folclórica do país.

Algo como se fossemos completamente estúpidos e icapazes de agir fora dos estereótipos que ele concebe.

Poucos lugares na terra são tão viáveis quanto essa terra.

Eu vi a floresta, o pasto e agora a mecanização.

Ví a criação de peixes desdes o começo até chegar a ser o maior produtor de pescado em cativeiro.
(Falo de Rondônia)

Mas pode ser que seja mesmo cronicamente inviável para quem não sabe pensar fora do estereótipo.

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