TRAGÉDIA SÍRIA
O ataque deslanchado por Donald Trump contra um alvo militar sírio parece mais uma operação de marketing do que o início de uma ação consistente destinada a pôr um fim à guerra civil na Síria.
Ao disparar mísseis contra a base aérea de al-Shayrat, de onde supostamente o governo sírio lançou o ataque com armas químicas, Trump pode dizer que, ao contrário de Obama, agiu contra o sanguinário ditador sírio que mata "lindos bebês" e sinalizou que os EUA não tolerarão violações ao tabu contra a utilização de agentes químicos.
É pouco provável, porém, que Trump esteja disposto a envolver mais profundamente os EUA em outra aventura no Oriente Médio.
A espécie humana é meio esquisita. A guerra síria já consumiu cerca de 500 mil vidas, a esmagadora maioria dos óbitos produzidos por balas e bombas convencionais, mas são os poucos milhares de mortes provocadas por agentes químicos que geram a maior reação.
Por quê? Por algum motivo escondido nas profundezas de nossos neurônios, associamos o envenenamento deliberado à traição e o julgamos moralmente mais reprovável do que outras formas de matar.
Quanto ao conflito sírio, receio que ainda não será desta vez que assistiremos à sua resolução. Em setembro, o The New York Times publicou longa reportagem com acadêmicos especializados no estudo de guerras civis e eles traçavam um panorama sombrio.
A maioria dos conflitos acaba quando um dos lados é derrotado, o que em geral ocorre ou por causa de batalhas decisivas ou porque uma ou mais partes fica sem recursos para continuar guerreando. É improvável, porém, que alguma dessas circunstâncias aconteça em breve na Síria.
Os lados em guerra não são dois, mas pelo menos quatro, que dificilmente esgotarão seus recursos, já que recebem armas, dinheiro e apoio militar de estrangeiros. Mudar esse statu quo é muito mais tarefa para a diplomacia do que para mísseis.
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