sábado, 18 de março de 2017

AS 15 VOZES FEMININAS MAIS REPRESENTATIVAS DA MPB

Por Dalton Rosado
Complementando a relação das 30 vozes mais representativas da música popular brasileira, iniciada pelos destaques masculinos, parto agora para a indicação de 15 nomes de grandes cantoras. 

Isto, num universo de centenas de outras igualmente talentosas, representa tarefa de critério pessoal de gosto e preferência que, certamente, causará discordâncias. Assim, fica combinado: as escolhidas representam todas as outras que, com seu brilho, fazem a riqueza musical brasileira e tornam nossos dias mais agradáveis, além de frequentemente selarem relações afetivas como cenários inesquecíveis. 

Em qualquer reunião musical de pessoas em lazer são sempre as mulheres que sabem as letras das músicas de cor e se atrevem a cantar numa demonstração de quão profundas são as relações da música com suas vidas. 

Desde muito cedo as mulheres às suas vozes acrescentaram os seus requebros e graças, enchendo de beleza nosso universo musical.
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A primeira voz feminina a obter maior destaque surgiu juntamente com a difusão radiofônica, que possibilitou o conhecimento em larga escala das músicas: Aracy de Almeida, grande intérprete de Noel Rosa (compositor inesquecível de sambas e outros ritmos brasileiros que, mesmo vivendo apenas 27 anos, deixou-nos um quantitativo, qualitativo e imortal legado musical). 

A música emblemática de Aracy de Almeida é “Último desejo”, composta pelo poeta da Vila Isabel.
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Quase que simultaneamente surgiu o fenômeno Carmen Miranda, que com a sua música “Taí” (de Joubert de Carvalho), ainda nos anos 30, foi responsável pelo primeiro hit musical brasileiro, com a rápida vendagem de dezenas de milhares de cópias de discos. 

A imensa popularidade de Carmen Miranda no Brasil chamou a atenção da emergente indústria fonográfica estadunidense, que a contratou e a transformou num fenômeno musical mundial, com o reforço do rádio, televisão e indústria cinematográfica. 

A pequena notável fez escola aqui e alhures.
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A cena musical feminina dos anos 40 ganhou uma intérprete com voz inconfundível: Dalva de Oliveira, o rouxinol do Brasil

Casada com o compositor Herivelto Martins, obteve grande sucesso com a música “Segredo”, de autoria deste, de quem posteriormente se separou de modo tumultuado (o que, inclusive, serviu como mote para grandes sucessos abordando a separação do casal). 

Foram pais do cantor Peri Ribeiro, o primeiro a gravar “Garota de Ipanema”. Dalva, por sua vez, interpretou clássicos como “Bandeira branca”.
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Ângela Maria, por quem o ditador Getúlio Vargas tinha grande admiração (tanto que a apelidou com o sugestivo epiteto de sapoti), representa uma das vozes mais originais da cantoria feminina do Brasil, tendo alcançado grande sucesso, ainda no início dos anos 50, com a versão da música “Babalu”. 

Posteriormente ela se manteve como intérprete de grande sucesso e, no início dos anos 70, gravou a bela e sentimental música “Gente Humilde” de Chico Buarque, que é uma crônica musicada da vida do povo brasileiro.
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Elza Soares é a representante mais destacada da voz negra brasileira, com recursos jazzísticos aplicados ao samba. A sua música “Se acaso você chegasse”, composição do grande gaúcho Lupicínio Rodrigues, é um exemplo de sua capacidade vocal e indispensável nos seus shows até hoje. 

Elza Soares é uma guerreira da vida. No início, ao apresentar-se no programa de auditório de Ary Barroso, ainda adolescente e com jeitão de refugiada de alguma guerra, assim respondeu à pergunta sobre de que lugar ela vinha: "Do planeta fome!".
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Elizeth Cardoso, a divina, foi uma das musas da bossa nova na sua fase inicial (como se constata em "Rua Nascimento e Silva, 107", "Você ensinando pra Elizeth" e "As canções de canção do amor demais", que são cantadas por Toquinho e Vinícius em trechos da “Carta ao Tom" de 1974 do poetinha). 

Dona de uma voz maravilhosa e suavemente eloquente, ela tem como carro-chefe do seu repertório o clássico “Canção de amor” (de Chocolate e Elano de Paula, irmão do Chico Anísio), que é uma descrição poética do significado da palavra saudade.
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Dolores Duran, que viveu apenas 29 anos, era menina pobre e desenganada pelos médicos na adolescência. Mas, apesar de sofrer da cardiopatia que terminou por vitimá-la precocemente, teve tempo de se firmar no cenário musical brasileiro. 

É uma das poucas mulheres cantoras que, à sua época, compunha músicas. Suas composições são de grande qualidade. Caso da "Estrada do sol", parceria com o maestro Tom Jobim, cujos versos ela criou em poucos minutos, com o lápis de fazer maquiagem, num estúdio (a letra era para ser feita por Vinícius, que abdicou da tarefa diante do que viu). 

Foi casada com o compositor Billy Blanco que compôs para ela “A banca do distinto”, como desagravo a um burguês típico gastador que frequentava a boate onde ela se apresentava e a tratava com prepotência. A conhecidíssima “A noite do meu bem” é um dos seus melhores momentos musicais.
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Maysa Matarazzo, a rainha da dor de cotovelo, teve uma vida tumultuada e nos deixou aos 40 anos. Além da expressiva voz e beleza física, era uma grande compositora. 

Capixaba de nascimento, filha de tradicional família política do seu estado natal (os Monjardim) e casada ainda jovem no seio da elite industrial paulistana (com André Matarazzo), abdicou da vida de socialite para se firmar na vida artística. Suas composições “Ouça” e “O meu mundo caiu” são clássicos da MPB e ela integrou o rol das musas da bossa nova interpretando o clássico “Eu sei que vou te amar”, de Tom e Vinícius.
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A gaúcha Elis Regina é considerada por muitos como a maior voz feminina dentre todas as cantoras brasileiras. O seu recurso vocal aliado à expressão de verdade de sentimentos com que interpretava as suas músicas e os seus trejeitos de palco (a Eliscóptero dos tempos dos festivais de música dos anos 60) consagraram essa grande cantora prematuramente falecida. 

Seu repertório é recheado de grandes músicas, dentre as quais “O bêbado e o equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc (um hino à luta dos brasileiros pelo fim do regime de exceção e consequente volta ao estado de direito) e “Como nossos pais”, de Belchior, são inesquecíveis. Mas “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, é imbatível.
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Nara Leão, a capixaba mais carioca do sudeste brasileiro, foi a principal musa da bossa nova. A menina do Bairro de Ipanema na zona sul do Rio de Janeiro cedo se enturmou com os precursores da bossa nova como Roberto Menescal, Carlos Lira e Ronaldo Bôscoli (de quem foi namorada) para pontear com uma voz adequada ao gênero de samba intimista e feito para embalar o amor à vida. 

Tornou-se conhecida interpretando os afro-sambas do histórico Show Opinião, espetáculo com que o Teatro de Arena reagiu, em dezembro de 1964, ao golpe militar. Mas foi com “A banda” de Chico Buarque, vencedora do festival da Record de 1966, que Nara Leão se projetou em escala nacional. Sua partida precoce nos encheu de saudades.
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Maria Bethânia veio da Bahia pelas mãos de Nara Leão para substitui-la na temporada popular do Show Opinião; e com a força do seu drama interpretativo e brilho intenso de voz interpretando “Carcará”, de João do Vale, mostrou ali, ainda com 19 anos, que seria uma das grandes cantoras brasileiras. 

O resto já se sabe, pois terminou por ser tema vitorioso da Mangueira no Carnaval de 2016, recebendo uma homenagem apoteótica. Bethânia é uma das vozes mais expressivas da música brasileira e empresta brilho adicional a qualquer composição. A impactante “Explode Coração”, do Gonzaguinha, ganhou na voz de Maria Bethânia uma interpretação que evolui num crescendo e termina num explodir de deslumbramento.
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Maria da Graça Costa Penna Burgos, ou simplesmente Gal Costa, foi a musa do tropicalismo. Baiana de São Salvador, desde a juventude era amiga de Sandra e Dedé Gadelha (que casariam com Gilberto Gil e Caetano Veloso, respectivamente). E foi Dedé quem a apresentou, em 1963, ao Caetano. No ano seguinte já participava ao lado dele, do Gilberto Gil, da Bethânia e do Tom Zé, dentre outros, do espetáculo Nós, por exemplo..., que inaugurou o teatro Vila Velha. 

Depois de gravar alguns compactos sem sucesso e de não ser notada em 1965 no 1º Festival Nacional de MPB da TV Excelsior, no qual defendeu "Minha senhora" (de Gilberto Gil), lançou o primeiro LP em 1967, a duas vozes: o acústico Domingo, no qual ela, ainda usando o nome de Maria da Graça, desfiou juntamente com Caetano Veloso um repertório de músicas suaves.

No final de 1968 tudo mudaria, com Caetano e Gil decidindo não defender pessoalmente a música que haviam inscrito no Festival da Record. Delegaram a missão de representar o tropicalismo a ela, que o fez com o novo nome  artístico de Gal Costa, um visual muito agressivo e uma interpretação explosiva como a de Janis Joplin. 

Paradoxalmente, a cantora que no ano anterior quase que sussurrava as canções possuía uma das poucas vozes capazes de alcançar as notas musicais mais altas – e passou a utilizá-la com força total! Mas, dentre o seu vasto repertório, a música que mais faz a minha cabeça é “Baby”, de Caetano Veloso.
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Beth Carvalho é a grande madrinha dos sambistas. Botafoguense e Mangueirense, filha de músicos pelo lado materno (o pai, advogado, foi cassado pelo golpe de 64), ela representa a força do samba com sua voz marcante. 

Apareceu com destaque no Festival Internacional da Canção de 1968, interpretando a música “Andanças” (de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi), que obteve o 3º lugar. É responsável pelo resgate de compositores de samba como Nelson Cavaquinho e Cartola, além de nos ter apresentado o grande sambista Zeca Pagodinho. 

“Coisinha do pai”, de Jorge Aragão, é um dos seus grandes sucessos e está tocando até no espaço sideral, para o deleite dos alienígenas...
    
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Clara Nunes é a bela guerreira mineira filha de Oxum com Yansã. Adepta do Candomblé ela é a representante do sincretismo religioso musical afro-brasileiro.  

Portelense de coração, pertencia à ala dos compositores da escola e deve estar feliz lá no Céu (onde foi cantar aos 40 anos) com a vitória da das suas cores neste ano de 2017. 

Dona de repertório inerente às suas crenças, a sua interpretação de “Morena de Angola” (do Chico Buarque) não nos permite ficar indiferentes.
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Por fim, fechamos a lista com Marisa Monte, que alia beleza física a uma voz personalíssima, bom gosto musical e capacidade de compor e tocar violão. Uma artista completa, que ganhou espaço de destaque na constelação musical feminina brasileira. Sua música “Infinito Particular”, em parceria com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brawn, é emblemática de suas múltiplas qualidades. 

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