quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

BESTEIROL FEMINISTA: O SEXO SIMULADO DO CINEMA VIROU ESTUPRO...

Encontrei num blogue de cinema inflamada discussão sobre o incrível, fantástico e extraordinário estupro que a atriz Maria Schneider teria sofrido durante as filmagens de O último tango em Paris (1972), a obra-prima de Bernardo Bertolucci.

Vale a pena esmiuçar este episódio, pois dá uma demostração cabal da inconsequência e puerilidade de certos círculos feministas. Antes, eram os moralistas rançosos que grasnavam perversão!, por causa da rápida cena em que Brando sodomizava Maria utilizando manteiga como lubrificante; agora são as caçadoras de fantasias de violação que grasnam estupro! Durma-se com um barulho desses...

Comecemos pelo que realmente importa no filme, a história (pois as controvérsias que ele desde o início despertou se ativeram a um trecho ínfimo no contexto da obra).

Logo após o suicídio da esposa, viúvo (Marlon Brando) procura onde ficar por uns tempos, pois no antigo domicílio do casal as lembranças dolorosas o deprimem ainda mais. Ao visitar um apartamento disponível, cruza com uma jovem (Maria Schneider) que também o está avaliando. Depois de trocarem umas poucas palavras, fazem amor furiosamente.
Brando: no auge da depressão.

Paul (Brando) aluga o apê e Jeanne (Schneider) passa a frequentá-lo para transarem e curtirem suas fantasias. Ele lhe impõe a regra de não revelarem seus nomes, nem falarem sobre suas vidas.

Ela, portanto, não tem consciência do quanto a relação entre ambos está sendo determinada pelos remorsos e tormentos de Paul. Ser viúvo(a) de suicida é atroz para qualquer ser humano sensível. 

Quando, finalmente, ele sai da fossa e se propõe a iniciar um relacionamento convencional com ela, quebra-se o encanto e Jeanne o repudia; o desfecho é trágico.

Impossível não nos comovermos com o sofrimento de Paul, um homem dilacerado, em parafuso (a performance de Brando é magnífica!); nem deixarmos de admirar a maestria com que o grande diretor italiano retratou, em Jeanne, uma juventude frívola, superficial, disposta aos prazeres e até às humilhações sexuais, mas bloqueada para os sentimentos mais profundos, incapaz de verdadeiramente amar.

Como na época ainda havia muita hipocrisia com relação ao sexo, produziu-se um sucesso de escândalo. E quem fez de tudo para surfar nessa onda foi Maria, atriz francesa que estava com 20 anos e nada fizera de importante na carreira.

Ela passou, nas entrevistas que concedia e nas frases enviadas à imprensa por seus divulgadores, a dar declarações próprias de uma piranhinha, ou seja, nelas havia sempre uma intenção evidente de chocar leitores e espectadores com espalhafato sexual . 

Que, p. ex., trombeteasse toda hora haver transado com mulheres, vá lá, embora  fosse oportunismo utilizar relações homoeróticas (verdadeiras ou inventadas) como um trunfo para seu marketing artístico. 
Bertolucci dirigindo o par central
Mas algo que, na época, me enojou muito foi sua baixeza promocional de afirmar que o Marlon Brando, da barriga para cima, continuava bonitão; mas, da barriga para baixo, não impressionava mais...

O tempo passou, a moeda que caiu em pé não se repetiu na carreira de Maria (depois do Tango, só foi atriz principal de mais um filme importante, o Profissão: repórter de Michelangelo Antonioni, o qual, contudo, obteve sucesso artístico mas não comercial) e ela foi ficando cada vez mais esquecida.

Em 2007, quando só lhe restavam esporádicos papéis secundários em produções de segunda linha, foi entrevistada pelo jornal britânico Daily Mail e saiu-se com esta:
"Deveria ter chamado meu agente ou fazer meu advogado vir ao set porque não se pode forçar alguém a fazer algo que não está no roteiro, mas, naquela época, eu não sabia disso. Marlon me disse: ‘Maria, não se preocupe, é só um filme’, mas durante a cena, embora o que Marlon fizesse não fosse real [não houve penetração], eu chorava de verdade. Senti-me humilhada e, para ser honesta, um pouco violentada por Marlon e Bertolucci. Pelo menos foi só uma tomada".
Trocando em miúdos, propuseram-lhe que filmasse uma cena inicialmente não prevista, na hora ela aceitou, não passou de sexo simulado como tantos que atores e atrizes rotineiramente interpretam, mas, 35 anos depois, veio lamuriar-se de haver sido humilhada. 
As pessoas vão estranhar? É o que queremos!

Por que não disse isto antes? Porque, naquele tempo, a imagem que o público tinha dela ( e seus agentes se esforçavam ao máximo para projetar) era de uma moça sem pudor, desbocada a ponto de fazer comentários grosseiros sobre o pênis do ator famoso com o qual contracenara. Seu chororô de humilhada, naquela época, teria sido recebido com gargalhadas.

Maria morreu de câncer em 2011. Dois anos depois, Bertolucci comentou o episódio na Cinemateca Francesa, com a franqueza de quem falava com outros artistas, não adivinhando que sua declaração impactaria fortemente nos patetas do inferno pamonha, se dela tomassem conhecimento.
"Queria sua reação como menina, não como atriz. Não queria que Maria interpretasse sua humilhação e sua raiva, queria que sentisse".
Mas, nestes tempos bicudos, a indústria cultural está sempre atenta às oportunidades para fazer com que seus produtos bombem entre os patetas, alavancando o faturamento. Então, coube à revista Elle dar enorme quilometragem a tal besteirinha. 

Alertadas, patrulhas feministas no cinema e na mídia fizeram uma verdadeira tempestade em copo d'água, em cima de um estupro que não houve. Mas que, confundidas pela picaretagem e desonestidade intelectual, muitas pessoas crédulas acabaram tomando como real.

O planeta indo pro vinagre, a economia mundial derretendo e essa gente nada tem de melhor para fazer do que soprar trombetas nas batalhas de faz-de-conta...
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Para baixar o filme com legendas em português, clique aqui.

2 comentários:

LIANE FERREIRA HEIDEMANN disse...

E a opiniao do Bernardo Bertolucci?
https://youtu.be/021jNOEVytQ

celsolungaretti disse...

Opinião? Ele apenas fala do seu mal-estar com a situação que se criou, mas em nenhum momento admite ter havido a penetração física. Nem isto seria possível sem que a equipe (certamente haveria pelo menos umas 10 pessoas no estúdio durante a filmagem) espalhasse aos quatro ventos tão logo que a jornada daquele dia terminasse.

A humilhação a que ele se refere é o fato de a Schneider ter aparecido nas telas do mundo inteiro como uma jovem sendo sodomizada, e ainda por cima com o o uso da manteiga como lubrificante, um detalhe vulgar, presente em muitas piadas "sujas" que eu escutava na adolescência.

Pessoas fanatizadas, que ficam atacando moinhos de vento como se fossem dragões, correram a interpretar as declarações do Bertolucci de uma maneira conveniente para suas cruzadas preconceituosas. Todo homem é um estuprador em potencial, certo? Então a atriz foi mesmo estuprada, certo?

Errado! O que houve foi constrangedor, evidentemente, mas não um estupro como é tipificado na lei. Marlon Brando e Bertolucci jamais seriam condenados em tribunal nenhum do mundo, pois qualquer juiz teria um ataque de riso se lhe apresentassem uma denúncia de estupro sem penetração.

A Maria Schneider, uma atriz de segunda categoria cujo único trunfo para contracenar com um Marlon Brando tinha sido a anuência em participar de cenas ousadas, não iria jogar a melhor chance de sua carreira no lixo. Portanto, sentiu-se obrigada a concordar com a sequência acrescentada ao roteiro.

Mas, nem o Bertolucci nem ninguém que estava no estúdio jamais confirmou ter havido verdadeira penetração. Foi uma mera simulação, como já se fazia a torto e a direito naquela época. Provavelmente a Schneider jamais supôs que viraria símbolo mundial de mulher sodomizada... e isto deve ter mexido com a cabeça dela MAIS TARDE.

Pois, naquele momento, ela estava é preocupada em capitalizar ao máximo a imagem de sexualmente liberada. Lembro-me muito bem das entrevistas deliberadamente chocantes que ela dava. Numa delas afirmou que o Marlon Brando era um espetáculo da barriga para cima, mas da barriga para baixo não impressionava ninguém. Ou seja, nas entrevistas ela fazia o gênero "escandalosa e desbocada".

Vocês, que não viveram a época nem conhecem o ambiente do cinema, engoliram gato por lebre. Eu acompanhei todo esse falatório porque era jornalista e porque havia imensa curiosidade sobre aquilo que a censura nos impedia de ver. Quando algum conhecido viajava para país civilizado, na volta era obrigado a nos contar tintim por tintim como eram aqueles filmes proibidos, tanto os vetados por moralismo rançoso quanto os por motivos políticos.

De resto, eu conhecia como a palma da minha mão o meio cinematográfico. Fui crítico, repórter, redator e editor de revistas de cinema, convivi com muita gente importante da época (1979 a 1984), assisti a filmagens (inclusive de sequências eróticas, não de pornochanchadas, mas do respeitado Walter Hugo Khouri), tudo isso.

Então, quando tomei conhecimento desse samba do crioulo doido armado uma eternidade depois, minha primeira reação foi rir da ingenuidade e desconhecimento de quem estava trombeteado tamanha besteira.

E a segunda foi lamentar que uma obra-prima como "O Último Tango" ficasse em evidência de forma tão bizarra, e não pelos seus méritos artísticos: a direção magistral do Bertolucci, os desempenhos inesquecíveis do Marlon Brando e do Massimo Girotti, a trilha musical incrível do Gato Barbieri, etc.

Foi um crime de lesa-arte.

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