segunda-feira, 10 de outubro de 2016

UM CONTUNDENTE ALERTA DE DALTON ROSADO: "O CENÁRIO APOCALÍPTICO DO CAPITALISMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS".

“Devemos dizer NÃO à economia de
exclusão e desigualdade social. 
Esta economia mata.” 
(Papa Francisco)
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Desde que me desencantei com a política; com o marxismo tradicional que tanto me entusiasmou na juventude; e com a gestão pública sob o capitalismo, na qual atuei como secretário de Finanças da prefeitura de Fortaleza, eu venho estudando com afinco maior a essência da lógica capitalista sob a ótica da crítica da economia política marxiana do que a empiria dos fatos sociais pelos quais as sociedades mercantis são cindidas em classes sociais, coisa mais fácil de ser compreendida superficialmente.

O estudo da crítica da economia política de Karl Marx me fez ver como o politicismo do marxismo tradicional exotérico (que foi enfaticamente complementado pela doxa socialista de Lenin, respeitadas as circunstâncias do atraso da Rússia czarista na 1ª guerra mundial) nos ensina o contrário de tudo o que a esquerda fez e até hoje continua fazendo. 

O estudo da teoria marxiana do valor e sua crítica da economia política resgatou em mim o respeito pelos ensinamentos de Karl Marx, o esotérico. A consistência da crítica marxiana mais profunda é um instrumento capaz de contribuir para tirar a humanidade do atoleiro em que ela se encontra.
   
Há muito venho escrevendo livros (que, infelizmente, ainda não foram publicados) e artigos em jornais e blogues sobre o colapso social que se avizinha.

Mas a coisa é bem diferente quando vemos acontecer próximo de nós os graves fatos sociais dele (colapso) decorrentes e quando a realidade se aproxima dessa mesma teoria, até porque tememos o que pode vir a acontecer conosco; com nossos familiares; com as pessoas que conhecemos e amamos; e com a humanidade de um modo geral. 

A preocupação deixa de ser uma abordagem apenas teórica e passa a ser real, imediata, pois agora a tragédia social bate à nossa porta, como nunca antes acontecera na nossa história recente. Daí a responsabilidade que temos, de agir para que seja superada a crise atual, condição possível de se realizar desde que extirpemos as causas das catástrofes anunciadas. A luta pela emancipação social consiste:
na repulsa aos pregoeiros populistas das soluções fáceis, que não questionam toda a lógica que está na base dos nossos infortúnios, mas, ao contrário, rogam pelo aperfeiçoamento dela e das práticas dos seus fundamentos, os quais são a causa dos males que nos penitenciam. É como se eles quisessem apagar uma fogueira com álcool; 
– na superação de toda a lógica do sistema produtor de mercadorias e de suas instituições, pari passu à adoção de medidas que redirecionem a produção de bens e serviços, no sentido de que passem a satisfazer as necessidades de consumo da sociedade; 
 – na superação do Estado e de suas instituições (poderes executivo, legislativo e judiciário, este na forma atual), dos partidos políticos, dos políticos e do próprio direito burguês legiferado;   
– na adoção de modos de produção com o uso da tecnologia e de recursos renováveis, a partir de organizações sociais que visem à supremacia dos indivíduos sociais (e não o contrário, como nas sociedades mercantis, capitalistas, nas quais os indivíduos sociais, transformados em cidadãos, visam uma produção alheia de si mesmos, além de voltada para algo abstrato e que lhes é exterior e opressivo).  
Evidentemente, não é tarefa fácil, mas a realidade nos imporá a busca da compreensão das causas da crise e das saídas possíveis a partir da nossa consciência sobre a natureza da sua gravidade. A autoridade dos nossos propósitos deverá ser maior do que a intransigência dos que quiserem manter os seus privilégios a despeito da barbárie instalada (o incitamento à morte dos outros como modo de defesa da vida individual, ao invés da defesa da vida de todos).
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UM INSTANTÂNEO DOS CARROS-CHEFE 
DA ECONOMIA MUNDIAL (EUA E CHINA)
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O Fundo Monetário Internacional, em seu relatório do último dia 4, fez um comentário sobre as dificuldades decorrentes do reduzido crescimento da economia mundial, alertando que “a estagnação vai alimentar mais sentimento populista contra o comércio e a imigração, o que sufocaria a atividade, a produtividade e a inovação”.

Segundo o FMI “as economias avançadas como um todo vão sofrer um enfraquecimento do crescimento em 2016, uma queda de 0,2% ante julho, para 1,6%.” 

A forma-valor que rege toda a lógica capitalista necessita de crescimento contínuo, num patamar que justifique a autovalorização do valor, tal qual uma bicicleta necessita de velocidade para manter-se em pé. Se abstrairmos da avaliação do FMI a inclusão dos serviços, que não produzem valor (apenas transferem de mãos valor já existente), o rombo é muito maior do que o anunciado. Este é o motivo de os Bancos Centrais estarem emitindo dinheiro sem valor, que causa inflação, e os Estados vendendo títulos da dívida pública que, num futuro próximo, evidenciar-se-ão como insolváveis.

A resultante desta realidade varrida para debaixo do tapete será uma catástrofe social sem precedentes num futuro próximo. Ela se traduzirá em fome, desespero e barbárie, agravados pelo desequilíbrio ecológico decorrente do aquecimento global, cujos efeitos já se fazem sentir na forma de secas, inundações, terremotos, furacões, tufões e tornados cada vez mais violentos. Quem informa sobre tais acontecimentos é a própria mídia empresarial capitalista

Embora a economia estadunidense tenha desacelerado no último semestre graças a um fraco desemprenho empresarial, o Federal Reserve (o Banco Central de lá) reluta em promover a necessária elevação das taxas de juros como forma de remuneração do capital, com medo dos reflexos negativos que tal medida pode causar a uma economia já emperrada. As contradições se tornam explícitas e ameaçadoras na locomotiva da economia mundial.

Por sua vez a China, segundo maior PIB mundial, vem reduzindo as suas previsões de crescimento (outrora vertiginoso!), com queda de 6,6% em 2016 e queda para 6,2% em 2017. Isto sem considerarmos que o crescimento da China representa um decréscimo da massa global de valor e de mais-valia na economia mundial, uma vez que são os seus baixos salários e uso da tecnologia transplantada pela globalização o que a torna competitiva no mercado mundial. 

A China promove o crescimento rabo de cavalo, para baixo. É que o consumo tem limite, e a economia chinesa não poderia crescer a taxas elevadas por todo o tempo. O limite chegou.  
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UM INSTANTÂNEO DA ECONOMIA DO BRASIL
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Nosso país é importante do ponto de vista da economia mundial, situando-se entre as 10 maiores. Assim, a débâcle da economia brasileira, cujos níveis de concentração de renda são absurdos, significa não apenas uma tragédia para o povo brasileiro, mas um componente negativo na economia mundial, causando preocupações ao mundo econômico em depressão. 

O Brasil é uma das nações relevantes da econômica mundial, tanto em função do seu PIB (previsão de decréscimo de -3,3% para 2016), quanto de sua extensão territorial continental; trata-se de uma das locomotivas econômicas das Américas. 

Destarte, os seus números negativos são preocupantes tanto para os brasileiros como para a economia mundial. Vejamos alguns dados extremamente preocupantes do Brasil:
– o déficit da nossa previdência social prenuncia um colapso no pagamento de pensionistas que significaria uma tragédia nacional sem precedentes;  
– as taxas de juros praticadas no Brasil como forma de contenção da inflação, correspondem ao crescimento suicida da dívida pública, muito alta para os padrões da nossa capacidade de obtenção de crédito a juros altos e prazos exíguos;   
– renitente decréscimo do PIB, que continua dando sinais negativos (no mês de agosto/2016 houve uma redução do crescimento industrial da -3,8% com relação a julho/2016, valendo lembrar que é o setor da economia que produz substancialmente valor novo, ou valor válido); 
– desemprego crescente, admitindo-se que já atinge cerca de 12 milhões de pessoas da chamada mão-de-obra economicamente ativa;  
– inflação beirando os dois dígitos, apesar de todas as restrições de crédito e da queda do poder de compra da população;  
– aumento vertiginoso da criminalidade e suas consequências, com o Estado perdendo a capacidade de prender; 
– alguns Estados sem capacidade de pagamento sequer da folha salarial dos funcionários públicos e aposentados, com a consequente greve em setores vitais como segurança pública, saúde e educação. 
Quem é o culpado deste quadro nacional e mundial? A lógica capitalista em parafuso, e não apenas a má gestão e a corrupção dos administradores públicos. 

A questão que se coloca, pois, não é mudarmos as peças do governo, mas a própria existência da lógica capitalista e do seu poder governamental. (por Dalton Rosado)

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