sábado, 30 de julho de 2016

DEPOIS DO "FANTÁSTICO"

Há mais de dez anos, este foi o título de um texto que escrevi, no qual apontava que as medidas dos governos para combater algum problema só vinham após denúncias no famoso programa da TV Globo. Isso se aplicaria ao governo federal, aos estaduais e aos municipais, bem como para quaisquer instituições, mesmo as organizações não governamentais, ligadas direta ou indiretamente à administração pública. 

Pois, após dez anos, tudo continua na mesma: não há problema que seja detectado antes pelas autoridades; as medidas só vêm depois de denúncias na imprensa. O caso de um menino baleado, já há algum tempo, por policiais em Manaus o exemplifica. As autoridades só tomam alguma medida, sempre tímida, sempre recheada de desculpas, depois de os erros e desmandos se tornarem públicos.

Logo após as denúncias pela imprensa, as primeiras negativas são dos envolvidos. Eles negam afirmações gravadas há poucos dias, ou até há algumas horas. Depois, vêm as explicações das autoridades, tentando justificar por que nada fizeram antes. A população encaminha inúmeras cartas às seções dos jornais e revistas, telefonemas indignados às emissoras de rádio e de televisão; nada mais. As famosas sindicâncias são abertas e os resultados todos já conhecem.

Anteriormente, as denúncias costumavam recair apenas sobre os funcionários do baixo clero. Mas a corrupção foi galgando postos e já chegou a derrubar dois ministros da Casa Civil. Os casos são tantos que talvez ninguém mais se lembre de Waldomiro Diniz, José Roberto Arruda e de Maurício Marinho, que desencadeou o escândalo do mensalão, assim como tantos outros, cujos superiores nunca sabiam de nada.

Existem fatos mais amplos que causam prejuízos e mortes sem nunca haver punição alguma. Em 2007, um pedaço do estádio da Fonte Nova voou e 8 vidas se foram. Na final do Campeonato Brasileiro de 1992 outros tantos morreram em voos filmados no Maracanã. Assassinatos de torcedores viraram rotina e por muito tempo só se ouviram desculpas. Depois de muitas mortes, algumas medidas óbvias foram tomadas, mas praticamente não resolveram o problema.

Somente um jeito brasileiro de administrar explica por que as providências só são encaminhadas após quando a ocorrência está sob holofotes.

Deveriam servir de parâmetro os exemplos caseiros. Quando os filhos mudam de comportamento em casa, seus pais ou responsáveis percebem. Quando um funcionário de empresa privada muda de comportamento, seu chefe percebe. Quando um departamento vai mal, os diretores da empresa logo desconfiam. Apenas nos serviços públicos a percepção vem de fora, quase sempre da mídia.
Charge de jornal local ironizando reportagem do Fantástico

Não pode ser razoável que haja necessidade de a imprensa mostrar as condições das estradas ou a qualidade do ensino público fundamental e médio; de mostrar o atendimento médico em postos e hospitais públicos, os ônibus lotados, a sujeira das cidades. Bastaria que as autoridades superiores exigissem dos seus subalternos que cumprissem suas funções a contento. Bastaria que os órgãos fiscalizadores tomassem medidas preventivas, bem como que a Justiça punisse imediatamente.

Efetivamente criou-se a cultura de que tudo pode, desde que não venha a público. Dela decorre a constância com que punições, em tais casos, só ocorrem sob vara da opinião pública. Afora o fato de que muitas vezes as vítimas é que acabam sendo punidas, com o objetivo de alimentar a cultura do medo e para não denunciarem as investidas dos transgressores.

Ainda não é fácil ter acesso a dados estatísticos sobre as diversas atividades dos governos, como também é complicado saber o andamento de procedimentos e de processos relativos a desvios ocorridos na administração pública.

Já a Rede Globo precisaria ser mais consciente de seu papel de órgão fiscalizador e aumentar a vigilância, ampliando a exposição de deslizes públicos mal resolvidos.

Resta, pois, esperar a próxima denúncia no Fantástico e as explicações nada convincentes das nossas autoridades. (por Pedro Cardoso da Costa)

Exemplo de denúncia importante e necessária

Um comentário:

Valmir disse...

aqui em minas já tomaram as medidas necessárias:
1- assalto ao cliente que acaba de sair do banco (proíbem uso de celular)
2- morticínio nas estradas causadas por loucos e bêbados em geral (farol aceso de dia)
3- violência em geral (proíbem motoristas de caminhão usar a faquinha de picar fumo e descascar laranja)
4- assassinatos em geral (o publicitários oficiais recomendam a todos contar até dez antes de matar alguém)
como alguém pode duvidar do empenho do governo em resolver os problemas???

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