terça-feira, 28 de junho de 2016

DROGAS E ARMAS SÃO MERCADORIAS; AS MERCADORIAS SÃO UMA DROGA DE ARMA.

Por Dalton Rosado
"Se você é capaz de tremer de indignação 
cada vez que se comete uma injustiça no 
mundo, então somos companheiros."
(Che Guevara)
Retomando um argumento já exposto anteriormente, relativo à negativa adaptação humana a situações adversas (uma passividade que deve ser combatida!), quero dizer que a ação contra a injustiça deve ter uma característica de consciência revolucionária sobre o que fazer. Não basta nos indignarmos (o que já é um bom caminho, pois a indignação é um terreno fértil para a semente revolucionária), mas é necessário termos atitudes dentro de uma práxis consciente. 

Neste sentido, embora divergindo em muitos pontos de vistas políticos da deputada trabalhista inglesa Jo Cox, mas com ela convergindo no repúdio à postura ultranacionalista de intolerância contra refugiados desesperados (motivo de seu assassinato), devo considerá-la como companheira e lamentar-lhe a morte. Mas não podemos abrir mão de conhecermos o porquê do limite interno da expansão capitalista e de sua genocida capacidade destrutiva. 

Há uma insatisfação latente ou explícita entre a população mundial, que vem se manifestando sob as mais diferentes formas (negativas/positivas) e está prestes a explodir de uma forma coletiva avassaladora. Essa insatisfação, por si só, pode não representar uma saída consciente que resulte em formas de produção social e organização social emancipatória, de vez que há uma inconsciência da sociedade sobre si mesma. Há que se saber o que fazer e como fazer, sob pena de mudarmos muita coisa superficialmente mas continuarmos na mesma.  
Jo Cox: lutava contra a intolerância e foi por ela vitimada.

Os efeitos da inconsciência social podem ser desastrosos. A barbárie, p. ex., é uma rebeldia negativa, pois representa um exacerbado retrocesso civilizatório, remetendo o ser humano aos seus instintos animais mais primitivos. 

De modo contrário, a rebeldia contra a injustiça, qualquer que seja ela, é atitude imprescindível, pois ,ainda que não seja fruto da consciência sobre o que lhe é subjacente, representa uma tomada de consciência sobre o que é certo e o que é errado; o que é justo e o que é injusto, independentemente de discernimento científico-social. 

Entretanto, a consciência sobre o que está subjacente ao nosso sofrimento social é imprescindível. Não pode haver emancipação sem consciência social, e é por isso que o establishment domina a grande mídia e o sistema educacional, regulamentando, por meio de suas instituições estatais, a própria reificação das relações sociais (coisas que ganham vida e dão ordens aos humanos).

Inculcam, nas mentes dos indivíduos sociais, conceitos flagrantemente negativos, que são absorvidos como positivos e que terminam sempre em resultados nefastos para a humanidade. Os valores da sociedade mercantil positivam a negatividade própria de uma relação de coisas através dos humanos, e não dos humanos diretamente sobre as coisas. Vejamos alguns exemplos: 
Um grande empreendedor e sua mercadoria
a) o que motiva alguém a colher a folha da coca; processá-la de forma clandestina, com a adição de produtos químicos (e, em alguns países, nem tão clandestinamente assim); transformá-la em cocaína; e traficá-la com alto risco, fazendo-a chegar às mãos dos viciados, que serão levados à autodestruição psíquico/orgânica? O resultado financeiro dessa operação! A droga, substância alucinógena, é também uma mercadoria, ou seja, representa geração de valor de troca; de dinheiro; de riqueza abstrata. E, claro, a produção de mercadorias não visa à satisfação do consumo, mas, apenas, faz uso desse consumo para atingir o seu desiderato fundamental: a produção de valor e lucro; 
b) o que motiva alguém a produzir armas, cuja letalidade potencializa a criminalidade bárbara entre os indivíduos sociais ou entre países? O lucro mercantil, pois tanto faz se produzir um remédio ou uma prótese como se produzir cocaína ou uma bomba; o objetivo mercantil é o mesmo.
Há uma tendência cultural (estimulada) de se admitir a existência trans-histórica e ontológica da forma-mercadoria, ou seja, que desde sempre todos os bens servíveis ao consumo já eram mercadorias e serviam como valoração na troca; e que toda sociabilidade sempre se deu pela troca quantificada. 
Matar é errado. Vender armas? Business...

Tal conceito é equivocado e gera a passividade e incompreensão diante da negatividade intrínseca da sociabilidade da forma valor introduzida na humanidade num dado momento histórico com um fim segregacionista imanente: a acumulação individual tanto da riqueza material (o objeto em si), como, principalmente, da riqueza abstrata (o valor, representado pela mercadoria-objeto ou mercadoria-dinheiro).

Um pequeno agricultor que planta milho apenas para o consumo de sua família (pois seu nível de produtividade não mais lhe permite concorrer no mercado) não produz mercadoria, mas apenas milho; tal produção não entra para o mercado e nem entra na composição do PIB. Este simples exemplo desmistifica a ideia errada de que tudo é naturalmente uma mercadoria; que tudo tem um valor econômico natural; e não um valor-trabalho abstrato, substância e conceito de riqueza abstrata. 

A consciência sobre a natureza da vida mercantil nos dá a certeza de que podemos viver sem ela, desde que queiramos abolir a socialização através da sua existência negativa. O saber atual da humanidade pode proporcionar de modo saudável e cômodo a produção de bens de consumo para os 7 bilhões de habitantes do planeta (hoje travada por imposição do limite interno da lógica do sistema produtor de mercadorias) e sem a agressão suicida ao ecossistema.

Se quisermos acabar com a produção das drogas e armas, precisamos acabar com a droga da arma mercadoria.     

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