O humilde Delúbio, vítima de sua submissão canina aos líderes. |
Como sabem os que acompanham este blogue, eu considero a permanência de Dilma na Presidência da República ruim para o povo brasileiro e péssima para a esquerda brasileira.
Mas, esta é a conclusão eu tiro de minhas análises políticas e econômicas. Não tem nada a ver com meus sentimentos.
Causam-me pesar as desventuras de muitos personagens importantes do petismo. "Pai, afasta deles esse cálice!" Se pudesse escolher-lhes o destino, eu talvez os condenasse à perda dos direitos políticos, mas nunca ao cárcere.
Delúbio Soares, p. ex. Um eterno liderado. Cumpriu ordens erradas e foi leal a quem deu tais ordens. Quando o mundo desabou na cabeça dele, exibia uma expressão de perplexidade, de "não estou entendendo nada". Dava dó.
Sempre antipatizara com o José Genoíno, um homem arrogante. Mas, sua via crucis me comoveu. Conseguia imaginá-lo assinando aqueles documentos com a auto-suficiência costumeira, sem sequer os ler, certo de que não passavam de irrelevâncias burocráticas e confiando cegamente nos bons companheiros.
O Zé em 68, diante da atual Galeria do Rock. |
Todas as informações que tenho a seu respeito coincidem no sentido de que seja pessoalmente honesto e não haja lucrado um centavo com a roubalheira nas estatais. Merecia ter um final de vida menos deprimente.
O Zé Dirceu é de quem estive mais próximo, quando ele era líder universitário aclamado e eu dava meus primeiros passos no movimento secundarista. Mesmo assim, não nos fazia, a mim e aos meus jovens colegas, sentirmo-nos como 2ª divisão. Tratava-nos com respeito.
Fiquei triste, não só por conservar vívidos na memória esses velhos tempos, como também porque sua cabeça era uma das mais cobiçadas pelos ultradireitistas da veja (a outra é a do Lula). Se estivesse no lugar do Zé, eu teria preferido mil vezes sumir no mundo de que dar tal gostinho à corja da Marginal.
Agora, finalmente, vêm à baila na Operação Lava-Jato dois nomes que não me despertam a mais remota solidariedade ou compaixão. Pelo contrário, há muito tempo sonho com sua desgraça.
Um deles é Antonio Palocci, por eu nunca ter conseguido engolir que um trotskista houvesse se tornado o que ele se tornou: um me(r)dalhão que usou todo o poder do Estado para esmagar um mísero caseiro. Foi para que caseiros não continuassem sendo esmagados por milicos e ministros que os melhores da minha geração entramos na luta contra a ditadura e comemos o pão que o diabo amassou! É chocante como o poder vira do avesso quem não tem convicções sólidas...
Qual destes dois Trotsky quereria como camarada? |
O outro é Delfim Netto, que para mim é um símbolo dos civilizados que se tornaram intrinsecamente bárbaros durante os anos de chumbo.
Sua infame assinatura no AI-5 me fez vê-lo como um similar dos sofisticados oficiais da 2ª seção do Exército (Inteligência) que vinham me aporrinhar no DOI-Codi, curiosos por conhecer o equivalente a eles no campo contrário, num momento em que eu ansiava desesperadamente por ficar sozinho e poder refletir sobre as melhores formas de lidar com os interrogatórios seguintes.
Eram articulados, expressavam-se bem, tinham lido autores importantes e vestiam fardas impecáveis, sem um respingo sequer de sangue. No entanto, cabia a eles analisarem as respostas que dávamos sob os mais terríveis suplícios e, concluindo que estávamos ocultando informações, indicavam aos paus mandados o que deveriam tentar arrancar de nós nas sessões de pancadaria subsequentes.
Nunca detestei tanto os descerebrados do tipo Ustra e Fleury quanto aos engomadinhos que pensavam por eles, preparando o roteiro do show de horrores.
Da caneta do Delfim jorrou muito sangue |
Pois, piores do que as bestas-feras entregues a seus instintos primários eram, na minha maneira de ver e de sentir, aqueles que sabiam muito bem que estavam cometendo crimes contra a humanidade e não davam a mínima. Aqueles que tinham plena consciência do que se podia esperar dos pitbulls e, ainda assim, lhes retiraram as coleiras.
Caso, evidentemente, do Delfim Netto. Não sei nem quero saber das investigações policiais em curso, mas, por ter sido signatário do AI-5, ele merece tudo que possa acontecer-lhe de pior.
Tomara que Deus escreva certo por linhas tortas!
5 comentários:
Um dos políticos mais arrogantes que orbitavam a figura do Lula, segundo amigos petistas, foi José Genuíno.
Houve época que alguns direitistas diziam "que com ele dava para conversar". Outros reacionários diziam que a conversa dele "era palatável". Estavam ensaiando a conciliação com os exploradores do povo.
Contou-me um dos seus eleitores que, no processo de privatização de um banco estatal, na era FHC, foram procurar Genuíno, que na época era deputado federal, para dar uma força ao movimento de resistência dos pobres trabalhadores que estariam desempregados com o plano de de missão "voluntária" [não havendo voluntariedade do empregado a dispensa era compulsória].
José Genuíno recebeu a comissão dos futuros desempregados e logo de início disse arrogantemente, sem trazer esperanças àqueles desesperados: "NÃO VENHAM ME PEDIR EMENDAZINHA. EU FAÇO POLÍTICA. EU FAÇO POLÍTICA."
Anos mais tarde, depois do apogeu de passar pelo governo, e já atrás das grades mostrava aquela fisionomia de cumpungido.
Quem o conheceu [Genuíno] é difícil ter compaixão pelo seu infortúnio, assim será de Palocci se tiver a mesma sorte.
Eu me referia, especificamente, ao fato de o Genoíno ter entrado de alegre nessa história. Que eu saiba, nunca se provou que ele tenha se beneficiado pessoalmente daquelas malfadadas assinaturas. É um cara que passou a vida inteira fazendo o que acreditava ser melhor para os brasileiros e vai ser tido pelos desatentos como mais um dos beneficiários do saque das estatais.
Eu tenho sérias restrições a ele, de outro tipo, mas eram ao personagem público. Como ele parece ter deixado de sê-lo, prefiro deixar pra lá.
Caseiro Francenildo, zelador do prédio do triplex demitido, Sinhá Dilma humilhando, assediando moralmente e ameaçando motorista e piloto,PIDV,PL 257. E a militância aplaudindo Desse Ki-Suco eu não bebo. A foto de militantes cobrindo o nome do Temer na bandeira da campanha é emblemática.
Juliana,
é reconfortante você expressar aqui a solidariedade para com os humildes. Este era um valor muito forte na minha geração e agora parece esquecido.
Eu fico indignado ao ver a rede chapa branca demonizando coitadezas sempre que estes atrapalham de alguma forma os hierarcas do partido! É mentalidade de bajuladores dos poderosos, não de revolucionários.
Sempre me lembro do que o Lamarca nos dizia, quando travávamos uma luta extremamente desigual contra a ditadura:
* que tínhamos nos esforçar ao máximo para evitar baixas, pois estava cada vez mais difícil preencher as lacunas que elas abriam;
* mesmo assim, não deveríamos jamais atrair a repressão para cima do povo indefeso e, em circunstâncias extremas, se tivéssemos de optar entre colocar em risco os cidadãos comuns ou arriscarmo-nos nós mesmos, o nosso dever era agirmos como combatentes revolucionários até o sacrifício final, se necessário.
Que diferença!
Celso, essa disposição para o sacrifício é o que vamos precisar daqui por diante, e vai ser complicado para um país que tão facilmente se acostumou ao consumo conspícuo. Abraço
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