quarta-feira, 6 de abril de 2016

DALTON ROSADO: "A CORRUPÇÃO, OS IMPOSTOS E AS CRISES".

Por Dalton Rosado
Dinheiro é corrupção; corrupção é dinheiro. Não há dinheiro limpo (embora seja o objeto de desejo de 100% dos indivíduos socais); e nem o dinheiro é, como nos ensinam os manuais de história, um mero instrumento neutro, facilitador das saudáveis relações mercantis. Não. 

O dinheiro é a representação materializada, numérica, da forma-valor; é a abstração forma valor [para melhor compreensão deste conceito de economia política, recomendo a leitura do seguinte trecho de O Capital, de Karl Marx] hipostasiada, tornada real; é a substância constitutiva de uma forma de relação social negativa, subtrativa, segregacionista, mas que de tão positivada historicamente como algo bom, não deixa que nós nos apercebamos de que se trata de uma corrupção original.

A corrupção com o dinheiro do Estado, por sua vez, é apenas um subproduto dessa corrupção original, prejudicial ao andamento cambaleante do próprio capitalismo, mas impossível de ser dissociada de tudo que corresponde à busca fratricida, mesquinha e tautológica da mecânica da necessária reprodução contínua e aumentada da forma valor.

Entretanto, as pessoas em geral atribuem a crise do capitalismo apenas à corrupção com o dinheiro dos impostos e à má gestão da administração pública, sem se aperceberem de que é o próprio Estado o regulamentador e estimulador da corrupção original que infelicita a todos.

A corrupção original se consubstancia na apropriação pelo capital do trabalho excedente do trabalhador (as horas de trabalho não remuneradas na produção de valor), que sacrifica 80% da população mundial, e se soma à crescente carga tributária cobrada pelo Estado ao trabalhador graças à crise do capital.

Assim, o trabalhador subtraído na sua carga de trabalho abstrato, é também subtraído na aquisição de mercadorias necessárias ao seu sustento quando paga impostos ao Estado, que tem a função de mantê-lo sistemicamente explorado, e deste recebe péssimos e insuficientes serviços públicos, para os quais na maioria das vezes tem que pagar com seus próprios recursos para obtê-lo (por isso a corrupção com o dinheiro estatal é nociva ao capitalismo, pois enfraquece o seu protetor, o Estado).  

O capitalismo, portanto, é a contradição em processo (Marx), pois nasce de uma corrupção original e, portanto, não tem capacidade de eliminar seu subproduto: a corrupção derivada da busca fratricida pelo dinheiro. A consequência dessa contradição se expressa nas suas crises cíclicas históricas, que agora, atingido seu limite interno absoluto de reprodução (Marx), evidencia-se como crise terminal.

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