quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O filme do dia: "ENCURRALADO". Qualquer semelhança com o ENCALACRADO Delcídio do Amaral é mera coincidência...

A engrenagem capitalista nas artes tem o toque de Sadim (Midas ao contrário): todo ouro que toca vira cascalho. É interminável a lista de grandes talentos que minguaram por se prostituírem ao cinemão, limitando-se a prover as banalidades inócuas que os espectadores medianos apreciam.

Steven Spielberg ocupa lugar de destaque na relação. Poderia ter feito cinema de verdade, a julgar pelo pique inicial. Mas, o primeiro grande sucesso, Tubarão (1975), foi o último grande filme. Nunca mais deixou de bajular os consumidores em troca de um punhado de dólares. 

Estreou com um filme feito para a TV, tão bom que acabou passando antes pelos cinemas: Encurralado (1971). Vocês podem assisti-lo na janelinha abaixo.

O título original, Duel, é mais apropriado. Caminhoneiro antipatiza com um caixeiro viajante (Dennis Weaver) que buzinou insistentemente pedindo passagem.

Por este único motivo passa a persegui-lo e a hostilizá-lo desmedidamente ao longo da estrada, até o pacato sujeito se convencer de que não tem como escapar do duelo. Só sobreviverá se assumir o desafio.

Afora a maestria com que Speilberg faz crescer o suspense a cada segundo do seu estranho road movie, há todo um simbolismo por trás da ação, remetendo-nos à história bíblica de Davi e Golias: o vendedor tem o alusivo nome de David Mann e confronta um gigantesco monstro mecânico cujo condutor nunca é visto. 

Indo mais além, eram tempos de Guerra do Vietnã e da contestação jovem, que desestabilizavam o mundinho careta (segundo o jargão da época) no qual David Mann se acostumara a viver. Assim como ele, a chamada maioria silenciosa sentia-se repentinamente ameaçada, tendo de travar duelos para os quais não se havia preparado. Encurralado flagra tal desconforto.

Situação semelhante é mostrada no filme que representou um divisor de águas na carreira de Spielberg, Tubarão, quando o perigo inesperado se corporifica num monstro marinho, que também surge do nada e atrai para um duelo mortal o xerife prosaico e sem porte de herói (Roy Scheider).

Maior faturamento da história do cinema até então, tonteou Spielberg, tornando-o um obcecado por bilheterias. A partir de então ele realizaria um sem-número de besteirinhas caça-níqueis, além de recorrer a uma apelação manjadíssima (fazer coro com a cantilena dos judeus, os magnatas que comandam Hollywood) quando se dispôs a obter, custasse o que custasse, o seu primeiro Oscar.  

Seu A lista de Schindler desperdiçou uma ótima história e um personagem histórico exemplar ao satanizar demais os nazistas, enfatizar demais suas bestialidades e vitimizar demais suas vítimas, acabando por se tornar esquemático, repetitivo e tedioso .

Essencializado, poderia ter sido uma obra-prima. Não consigo lembrar de um filme mais carente de cortes, tantas são as excrescências (pieguices e redundâncias) a clamarem por exclusão.

4 comentários:

axel_terceiro disse...

Ei, Celso, já assistiu a ''O Lobo de Wall Street'', do Scorsese? O que achou?

Valmir disse...

Celso...algumas coisas vc precisa me explicar melhor: como é possível "satanizar demais os nazistas"??? nem os neonazistas poderiam dizer uma coisa dessas..como alguém poderia fazer isso??? (quando Stalin acusa trotskistas de mancomunados com os nazistas a gente até fica com a pulga trás da orelha é ou não é?)
Esquece que em a A Lista de Schindler Spielberg não refresca em momento algum para os Judeus?
ele os mostra negociando o tempo todo, sua imensa covardia de não reagir, a ação dos Kapó, presos judeus escolhidos pelos nazistas para policiar os outros presos...vou te confessar uma coisa: eu te acompanho, o que publica, pq vc é unica voz que destoa do ramerrão da "esquerda" chapa branca, governista..mas não está isento dos vícios e perversões da esquerda geral: antissemitismo, (pq aqueles árabes loucos seriam preferíveis à hegemonia dos hebreus naquelas bandas lá deles??) e montes de desvios lógicos que as vezes desanimam...

celsolungaretti disse...

Valmir,

filmes não são redundantes como os sermões religiosos. A LISTA DE SCHINDLER insiste em martelar a crueldade dos nazistas, repetindo um montão de vezes o que só precisaria ser mostrado uma vez. A desumanidade e a bestialidade não podem ser omitidas quando enfocamos o nazismo, mas também não devem ser enfiadas sob nossos olhos a cada 10 minutos. São desagradáveis.

Depois, é claro, isso fazia muito mais sentido quando os judeus eram só vítimas do que agora, quando sabemos que fazem coisas semelhantes com os palestinos. Aí, então, a coisa nos impacta como se eles fizessem questão de nos mostrar tanto o que sofreram para que nos esqueçamos o sofrimento que estão causando agora.

E a inclusão dos pecados dos próprios judeus me pareceu também um álibi, para fingir uma isenção que uma produções hollywoodescas desse porte jamais têm. Encontramos filmes equilibrados sobre o nazismo no cinema europeu (até RETRATOS DA VIDA, do Claude Lelouch, dá de goleada em A LISTA DE SCHINDLER!). Os do EUA têm sempre maior ou menor ranço panfletário.

Abs.

Unknown disse...

Muito bom!

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