domingo, 3 de novembro de 2013

SPIELBERG FOI GRANDE... ANTES DE CAPITULAR AO CINEMÃO

A engrenagem capitalista nas artes tem o toque de Sadim (Midas ao contrário): todo ouro que toca vira cascalho. É interminável a lista de grandes talentos que minguaram por se prostituírem ao cinemão, limitando-se a prover as banalidades inócuas que os espectadores medianos apreciam.

Steven Spielberg ocupa lugar de destaque na relação. Poderia ter feito cinema de verdade, a julgar pelo pique inicial. Mas, o primeiro grande sucesso, Tubarão (1975), foi o último grande filme. Nunca mais deixou de bajular os consumidores em troca de um punhado de dólares. 

Estreou com um filme de TV tão bom que acabou nos cinemas: este Encurralado (1971), a que vocês podem assistir na janelinha abaixo.

O título original, Duel, é mais apropriado. Caminhoneiro antipatiza com um caixeiro viajante (Dennis Weaver) que buzinou insistentemente pedindo passagem. Por este único motivo passa a persegui-lo e a hostilizá-lo desmedidamente ao longo da estrada, até o pacato sujeito se convencer de que não tem como escapar do duelo. Só sobreviverá se assumir o desafio.

Afora a maestria com que Speilberg faz crescer o suspense a cada segundo do seu estranho road movie, há todo um simbolismo por trás da ação, remetendo-nos à história bíblica de Davi e Golias: o vendedor tem o alusivo nome de David Mann e confronta um gigantesco monstro mecânico cujo condutor nunca é visto. 

Indo mais além, eram tempos de Guerra do Vietnã e da contestação jovem, que desestabilizavam o mundinho careta (segundo o jargão da época) no qual David Mann se acostumara a viver. Assim como ele, a chamada maioria silenciosa sentia-se repentinamente ameaçada, tendo de travar duelos para os quais não se havia preparado. Encurralado flagra tal desconforto.

Situação semelhante é mostrada no filme que representou um divisor de águas na carreira de Spielberg, Tubarão, quando o perigo inesperado se corporifica num monstro marinho, que também surge do nada e atrai para um duelo mortal o xerife prosaico e sem porte de herói (Roy Scheider).

Maior faturamento da história do cinema até então, tonteou Spielberg, tornando-o um obcecado por bilheterias. A partir de então ele realizaria um sem-número de besteirinhas caça-níqueis, além de recorrer a uma apelação manjadíssima (fazer coro com a cantilena dos judeus, os magnatas que comandam Hollywood) quando se dispôs a obter, custasse o que custasse, o seu primeiro Oscar.  

Seu A lista de Schindler desperdiçou uma ótima história e um personagem histórico exemplar ao satanizar demais os nazistas, enfatizar demais suas bestialidades e vitimizar demais suas vítimas, acabando por se tornar esquemático, repetitivo e tedioso .

Essencializado, poderia ter sido uma obra-prima. Não consigo lembrar de um filme mais carente de cortes, tantas são as excrescências (pieguices e redundâncias) a clamarem por exclusão.

7 comentários:

Anônimo disse...

"Seu A lista de Schindler desperdiçou uma ótima história e um personagem histórico exemplar ao satanizar demais os nazistas, enfatizar demais suas bestialidades e vitimizar demais suas vítimas, acabando por se tornar esquemático, repetitivo e tedioso."
Meu Deus! Tem hora que a sua viseira ideológica bloqueia o pensamento. Neste caso o antisionismo...
Antes da solução industrial para o problema dos indesejados, que tal aprender como se fazia um massacre artesanal? Na ravina de Babi Yar, na Ucrânia, a estimativa mínima para fuzilamentos em massa no local é de 100.000 vítimas, feita quando o Exército Vermelho retomou Kiev em 1943.
Imagine dia após dia milhares de civis sendo fuzilados? Quem sabe existia algum humano no Einsatzgruppen C? Para mim não é preciso satanizar nenhum nazista que participaram diretamente dos extermínios, seus atos o fizeram.

Anônimo disse...

nunca pensei que fosse possível "satanizar demais" os nazistas...isso me soa como "afinal os nazistas não são tão maus assim"..
Não devemos ter visto o mesmo filme: No que vi tem judeus avarentos, preocupados somente em carregar riquezas, mesquinhos comerciando a própria morte, policiais judeus no campo trabalhando para os nazistas..então definitivamente não vimos o mesmo filme.

celsolungaretti disse...

Rebola,

transformar os nazistas em vilãos caricatos não ajuda em nada a compreensão desse fenômeno histórico: a exacerbação da desumanidade capitalista.

Não é nada de novo, nem nada de diferente; não passa da bestialidade extrema a que a burguesia pode chegar na defesa dos seus privilégios.

Os sionistas fingem que se tratou de uma aberração. Bobagem, várias vezes a defesa do status quo foi perpetrada da mesmíssima maneira. Inclusive aqui

E eles próprios, os sionistas, não estão imunes a se tornarem aberrações. Afinal, o Gueto de Gaza só se diferencia do Gueto de Varsóvia na QUANTIDADE de truculência e no NÚMERO de massacrados; QUALITATIVAMENTE, é a mesmíssima coisa.

Ignoro se os nazistas também atacaram alguma frotilha humanitária. Talvez Israel os tenha conseguido superar nesse quesito...

O verdadeiro e único vilão é o capitalismo, Rebola. Nazismo, fascismo, franquismo, salazarismo, ditadura do Pinochet, dos generais brasileiros, etc., foram apenas as embalagens adotadas em diferentes países e épocas. O produto não muda nunca.

celsolungaretti disse...

Anônimo,

uma função da arte é nos ajudar a compreender os fenômenos históricos. Quando você simplesmente transforma seu inimigo num demônio, como 99% dos filmes de Hollywood fazem quando abordam o nazismo, não está fazendo arte, só PROPAGANDA.

A propaganda também repisa várias vezes o mesmo conceito, igualzinho ao Spielberg martelando o tempo todo como os nazistas eram monstruosos. Em cinema, basta mostrar uma vez que você já deu seu recado.

Não sou da linha de que "os nazistas não eram tão maus assim". Mas sim da de que o nazismo acabou há quase sete décadas e há muitas monstruosidades atuais a serem repudiadas e combatidas.

Hollywood acabará fazendo um filme para cada um dos 5,9 milhões de judeus que os nazistas mataram. No entanto, não vi um único sequer dedicado aos ciganos exterminados, que podem ter totalizado até 1,5 milhão.

Nem aos 12,5 milhões de eslavos (só de prisioneiros de guerra soviéticos foram exterminados entre 2 milhões e 3 milhões). Nem aos aproximadamente 2 milhões de poloneses. Nem mesmo aos maçons (entre 80 mil e 200 mil).

Outra besteirinha é inculpar apenas os nazistas e fingir que os cidadãos comuns alemães não concordavam com eles. ISTO NÃO PASSE DE UMA MENTIRA DESLAVADA: a maioria das ditaduras, em algum momento, têm o apoio quase unânime da população, e a de Hitler não foi exceção.

Nem a do Médici, aliás. "Ninguém segura a juventude do Brasil". "Ame-o ou deixe-o".

Quem vem neste blogue, é para travar contato com algo diferente dos clichês dominantes. Quem quer ser enrolado e manipulado, deixa que a Veja, a Folha de S. Paulo e a Rede Globo lhe façam a cabeça.

Anônimo disse...

Faltou os Triângulos Vermelhos (comunistas) ,porém eram stalinistas e mereciam mesmo morrer. Não é Rebolla

Anônimo disse...

Afinal, qual a sua idade Lungaretti> Pelo seus artigos deve ser mais velho que a morte e apesar disto nada aprendeu com a vida, pois continua sem noção exatamente como quando criou o blog. Você vive no passado, meu velho, cheio de rancor contra o PT e seus governos que, apesar dos lungarettis da vida, estão mudando, para melhor, o nosso sofrido Brasil. Passando a mão na cabeça dos canalhinhas black blocs, se metendo a critico de cinema, entre outras maluquices, só desperta o sentimento da tal vergonha alheia. Sempre em caixa alta você se auto elogia relembrando seus tempos de lutas contra a ditadura e menosprezando a história de lutas dos Petistas como Zé Dirceu, Zé Genoino, LULA, Dilma e muitos outros. Mas afinal, o que é que você fêz de efetivamente prático para o nosso país, tal qual o Dirceu, Genoino e LULA> Fácil criticar invejosamente as realizações deles, né verdade>

celsolungaretti disse...

Tenho 63 anos e peguei em armas contra a ditadura militar aos 18. Na minha opinião o PT não está mudando o que precisa ser mudado no Brasil, já que desistiu de confrontar o capitalismo, a raiz de nossos principais problemas. Vou continuar passando a mão na cabeça dos que têm coragem de lutar pela justiça social, mesmo que incidam em alguns erros em função da imaturidade. Já exerci profissionalmente a crítica cinematográfica e musical. Nunca menosprezei a história de luta dos personagens citados, mas sim o que eles têm feito desde que abdicaram da revolução e se tornaram meros reformistas. E considero importantes minhas lutas em defesa dos direitos humanos e da revolução, mas isto cabe aos outros e aos historiadores julgarem.

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