terça-feira, 10 de janeiro de 2012

ZUMBIS DO CRACK: O HORROR, O HORROR!

Mãe de 38 anos foi presa em Goiânia sob a acusação de haver tentado trocar a filha de 2 meses por pedras de crack. Policiais militares a encontraram num terreno baldio, depois de receberem denúncia anônima.

Testemunhas afirmaram que ela ofereceu a criança a várias pessoas num bar por 20 reais, além de haver proposto a barganha a um traficante.

Uns 15 anos atrás, morei próximo a um local onde uma instituição católica distribuía alimentos, roupas e cobertores aos viciados. Muitos acabavam ficando por lá mesmo.

Era deprimente ao extremo: fumavam seus cachimbos com a maior naturalidade, tinham acessos de agressividade contra transeuntes e motoristas, berravam frases desconexas, faziam sexo e defecavam em público.

Episódio grotesco. Certa vez, uma dessas  moradoras de rua  (como são ridículos tais eufemismos!) entrou no prédio e roubou uma colcha do varal do zelador. 

Este alcançou a dita cuja na rua, mas ficou com vergonha de usar violência. Puxava a colcha e a fulana resistia. Os bêbados do boteco se deliciaram, zoando o Reginaldo com gracejos tipo "aposto na mendiga"...

Na sexta-feira passada, a caminho da rua Santa Ifigênia (centro velho de São Paulo), cruzei com uns 20 seres que pareciam tudo, menos humanos. Provavelmente, estavam procurando novo local para instalar-se, afugentados pela operação policial na Cracolândia.

Incrivelmente, seu aspecto era pior, bem pior que o de meus vizinhos indesejáveis do passado. Pareciam os zumbis dos filmes do George Romero: mortos se arrastando em câmera lenta, sem forças para mais nada. Duvido que algum deles veja o ano de 2013.

Por mais que me repugne a colocação de qualquer ser humano, contra a sua vontade, sob a tutela do Estado, os viciados em crack estão além de qualquer possibilidade de salvarem-se por si mesmos. Ou são recolhidos na marra e submetidos a tratamento na marra, ou morrem. É simples assim. É doloroso assim.

O horror, o horror!

P.S.: notícia de hoje do Agora, nos revela o que acontece com os que ainda querem salvar-se e aceitam ajuda médica. "Levados em vans da Secretaria Municipal da Assistência Social para a Assistência Médica Ambulatorial Boracea, usuários de crack esperaram ontem por oito horas para serem transferidos para clínicas de tratamento. Como não conseguiram vaga, voltaram para a cracolândia". Sem comentários.

2 comentários:

Cláudia Lemes disse...

Concordo que o tratamento, infelizmente, tem que ser forçado, e é um processo doloroso, sei bem porque já tive familiares viciados. E no final, a maioria das pessoas acaba esperando que esses viciados morram logo, em vez de desejar por um sistema que funcione e os recupere. Mas eu trabalho com "moradores de rua" que estão longe de serem viciados e ajudo com doações para eles. Eu não acho que ao fazer isso estou contribuindo com a situação. Eles moram nos mesmos lugares há anos e se não for meu grupo de ajuda a distribuir um prato de comida ou roupas de vez enquando, eles vão achar outra forma de comer, como sempre fizeram. São grupos e famílias que não usam drogas, que tem mais educação do que a maioria dos adolescentes de classe média e alta que conheço, e a fome deles não espera um governo que os tire das ruas e dê educação aos seus filhos. Existem viciados, zumbis, serem que se encontram numa situação subhumana, e existem pessoas não tão diferentes de nós nas ruas. Meu irmão, inclusive, que morou no exterior, fala duas línguas e é louro de olhos azuis já morou nas ruas. O perfil do "morador de rua" (também não gosto da expressão, exageradamente politicamente correta) mudou muito recentemente, e nas ruas encontramos todos os tipos de pessoas. O episódio do bebê é aburdo, mas será que comove algum político com verdadeiro poder para mudanças, no nosso país?

luzia disse...

Meu caro Celso, certa vez atravessei a cracolândia a pé. Foi uma das experiências mais devastadoras da minha vida. As imagens, o cheiro, a cor, os sons, nada saiu de minha retina. Se Dante tivesse conhecido esse espaço, teria material para compor mais um círculo do inferno. Como você bem colocou: O horror! O horror!

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