terça-feira, 9 de novembro de 2010

O WATERLOO DO PATRULHAMENTO CRICRI

O bizarro episódio em que uma integrante do Conselho Nacional de Educação afirmou existir racismo na obra de Monteiro Lobato, não se esgota na rejeição do seu parecer por parte do ministro Fernando Haddad. É hora de nos defrontarmos com o monstro, e não apenas com a mais chocante de suas monstruosidades.

O que havia para se dizer sobre o  politicamente correto, Karl Marx já disse, em 1845, nas Teses sobre Feuerbach:
"A doutrina materialista de que os seres humanos são produtos das circunstâncias e da educação, de que seres humanos transformados são, portanto, produtos de outras circunstâncias e de uma educação mudada, esquece que as circunstâncias são transformadas precisamente pelos seres humanos e que o educador tem ele próprio de ser educado. Ela acaba, por isso, necessariamente, por separar a sociedade em duas partes, uma das quais fica elevada acima da sociedade.

A coincidência do mudar das circunstâncias e da atividade humana só pode ser tomada e racionalmente entendida como praxis revolucionária." (3ª tese)

"Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo." (11ª tese)
Ou seja, os educadores que se arrogam o direito de decidir o que crianças (ou a sociedade como um todo) podem ou não ler, e com que ressalvas lhes devem ser apresentadas tais leituras, têm, eles próprios, de ser educados.

As mudanças das circunstâncias e da atividade humana só se dão por meio da prática revolucionária, não de uma educação mudada (ou expurgada, censurada, castrada, mutilada, maquilada, engessada, etc.).

Pois não basta a adoção de outras palavras para eliminar-se a carga de preconceitos com que as pessoas as impregnaram, nem fazer triagem de obras artísticas para extirparem-se os comportamentos condenáveis nela retratados.

Somente livrando a humanidade do pesadelo capitalista conseguiremos dar um fim a todas as formas de discriminação, pois uma das molas-mestras da sociedade atual é exatamente a busca da diferenciação, do privilégio, do status, da superioridade.

Enquanto os seres humanos forem compelidos a lutarem com todas as suas forças para se colocarem acima de outros seres humanos, será ilusório pretendermos tangê-los ao respeito mútuo por meio de besteirinhas cosméticas.

É desprezando os iguais que eles adquirem forças para a luta insana que travam, pisando até no pescoço da mãe para alçarem-se a outro patamar da hierarquia social.

Então, a verdadeira tarefa continua sendo a transformação do mundo, para que não haja mais hierarquia e sim a priorização do bem comum, com todos contribuindo no limite de suas possibilidades para que sejam atendidas as necessidades de todos.

Enquanto nos iludirmos com esses pequenos retoques na fachada do edifício capitalista, estaremos perdendo tempo: seus alicerces estão podres, para além de qualquer restauração.

Ou o demolimos e tratamos de erguer novo edifício em bases sólidas, ou ele ruirá sobre nós.

É simples assim.

2 comentários:

Humberto Carvalho Jr. disse...

Para derrubarmos o Capitalismo precisamos, antes, adquirir consciência de classe. Enquanto a maior parte do povo não entender que tudo se resume a luta de classes, os capitalistas continuaram fortes para atrasar a inexorável mudança.

É certo que o processo de deterioração do sistema capitalista é imparável. Mas o seu fim não vai acontecer sozinho. A população precisa entender os mecanismos de funcionamento e a quem esses mecanismos interessam. Só, então, poderemos falar em enterrar o capitalismo.

Abraço, Celso!

S.O.S. Educação Pública disse...

O "politicamente correto" é cortina de fumaça, lançada pelo neoliberalismo para ocultar as razões reais existentes por trás dos fatos. É uma tentativa de esvaziamento político das questões, tomando o efeito pela causa.

Enquanto ficarmos achando que o preconceito em nossa sociedade é produzido pelas "Caçadas de Pedrinho", a desigualdade social não é questionada e o preconceito continuará a ser fomentado.

Não considero os autores desta proposta como educadores, pois o verdadeiro educador é aquele que trabalha conscientizando seus alunos e mostrando que é possível se criar uma sociedade justa e igualitária.

Não concordo com a proibição,o importante é contextualizar historicamente a obra e discuti-la, enriquecendo a todos com o debate, pois não é possível apagar a história mas podemos e devemos mudá-la para melhor.

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