sábado, 30 de maio de 2009

CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE: TEMOS DE DESMONTAR A MÁQUINA DE MOER CARNE

Aleluia! Depois de longo e tenebroso inverno, encontro, finalmente, um editorial da Folha de S. Paulo que posso tranquilamente recomendar aos meus leitores: o da edição deste sábado (30), Israel persiste no erro.

Como não sou sectário, faço questão de reproduzi-lo na íntegra, até como incentivo para que a Folha produza outros com a mesma integridade jornalística:
Há 42 anos, desde que derrotou vizinhos árabes na Guerra dos Seis Dias e ocupou, entre outras áreas, o território palestino na margem ocidental do rio Jordão, Israel deslancha ali um programa de assentamentos injustificável, que agride o direito internacional. Sob Barack Obama, a Casa Branca volta a insistir no óbvio: o abandono dessa anexação sorrateira é crucial para a existência do Estado palestino.

O primeiro assentamento na Cisjordânia foi erguido sete meses após a vitória israelense. Implantaram-se outros 120 desde então, quer pela omissão, quer pela ação deliberada de diversos governos israelenses, sem importar a coloração partidária ou ideológica.

Foram vários os pretextos alegados para o que deveria restringir-se a uma ocupação militar temporária, pronta para ser desmobilizada mediante um acordo de paz. De saída, a propaganda dizia ser necessário consolidar, com a colonização civil, a conquista militar e assim garantir aquela margem territorial de segurança para futura barganha. Uma leva de colônias foi fixada no extremo leste da região.

Depois, no final dos anos 1970, governos de direita invocaram o risco de Israel ser dividido em dois e implantaram mais uma série de assentamentos, agora pulverizados por todo o território. A expansão continua em vigor.

De pretexto em pretexto, chegou-se ao paroxismo. Mais de 280 mil israelenses (4% da população de Israel) vivem hoje nos assentamentos da Cisjordânia, dificultando mais ainda o futuro estabelecimento de um Estado palestino. Para dar segurança aos assentados, o Exército israelense ali sustenta uma miríade de bloqueios rodoviários e postos de controle, que transtornam o cotidiano dos palestinos.

Decretar o fim da expansão desses assentamentos é o mínimo a exigir de Israel neste momento, a fim de que se abram perspectivas para a retomada de negociações com os palestinos. O premiê Binyamin Netanyahu, entretanto, afirma que vai permitir o "crescimento natural" dessas colônias. Uma provocação irresponsável, além de cinismo na perpetuação do esbulho.
De resto, discordo dos motivos (principalmente religiosos) alegados para a implantação de Israel onde está, mas não vejo como reverter o fato consumado sem um banho de sangue que não deve ser desejado por nenhum ser humano digno deste nome.

Então, o melhor caminho seria mesmo o recuo de Israel às fronteiras iniciais (de maio/1948), o estabelecimento de um estado palestino e um esforço sincero de todas as partes envolvidas para dar um fim à beligerância na região.

Se, entretanto, Israel mantiver sua intransigência quanto à devolução dos territórios de que apossou-se manu militari a partir da guerra árabe-israelense de 1948, e os árabes continuarem não admitindo a existência de Israel, o mínimo de sensatez manda que se descarte, de uma vez por todas, a estratégia sanguinária de exporem-se as populações civis a massacres, em iniciativas sem perspectiva nenhuma de êxito.

Vou explicar melhor. Nem coligados os países árabes conseguiram até agora derrotar Israel, então salta aos olhos e clama aos céus que nenhuma dessas nações obterá êxito isoladamente.

Teriam de combater o estado judeu todas juntas, sob um comando único e respeitado (as divergências entre elas são tão profundas que nunca seguiram verdadeiramente uma estratégia conjunta, apenas enfrentaram Israel ao mesmo tempo, mas como se lutasse cada uma por si).

O JOGO DUPLO DOS FEUDAIS ÁRABES - O que impede uma guerra santa dessas? O fato de os mandatários das nações árabes temerem muito mais revoluções em seus próprios paises do que odeiam Israel. São e representam privilegiados que empenham-se, acima de tudo, em manter seus privilégios.

Daí quererem mesmo é evitar qualquer possibilidade de que a mobilização contra Israel acabe se voltando contra eles; povo armado é povo perigoso. Daí virem sabotando-a e até reprimindo-a através dos tempos, embora mantenham a retórica antiisraelense da boca pra fora.

Movimentos fundamentalistas tentam virar o jogo com agressões insensatas a Israel, para provocar retaliações. Sonham com uma situação na qual os judeus provoquem tamanha indignação que os dirigentes das nações árabes, mesmo a contragosto, sejam obrigados a lançar uma nova guerra santa.

Isso nunca acontece. E o que essa gente faz é atrair desgraças para seu povo. Velhos, mulheres e crianças são dizimados por conta disso.

Então, a esquerda mundial deveria negar qualquer apoio a essa estratégia de provocações irresponsáveis.

O grande vilão pode ser Israel, mas quem impede o êxito de qualquer campanha militar contra o estado judeu são os dirigentes das nações árabes, com seu jogo duplo.

O caminho do enfrentamento vitorioso a Israel passa por revoluções prévias nos países árabes. A batalha tem de ser travada primeiramente em cada país, desalojando do poder essa elite nauseabunda (ainda feudal em várias nações) e estabelecendo governos populares. Estes, sim, travariam unidos a guerra contra Israel.

Caso contrário, fanáticos continuarão eternamente cutucando a onça com vara curta, Israel respondendo com as piores carnificinas (como forma de intimidação) e a esquerda fazendo discursos inflamados que não resolvem nada.

Temos de desmontar essa máquina de moer carne, de um jeito ou de outro.

Com o estabelecimento de uma paz duradoura seria bem melhor.

Mas, se tiver de ser pela guerra, que se crie, pelo menos, o cenário certo, para que o sangue não continue sendo derramado em vão.

4 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Celso,

Teu artigo e as charges do Cleuber estão impagáveis. Um casamento perfeito. Parabéns!

ISMAR C. DE SOUZA

Anônimo disse...

Guerra contra Israel?

Ora, se é preciso fazer revoluções nos países árabes num sentido progressista/socialista, por que não expandir a lógica dessa solução para Israel também?

Guerra entre nações não é guerra de classes. É o povo, o pobre, o trabalhador que se mata uns aos outros pelas elites.

Sobre o tema, por acaso foi publicado esta semana este importante artigo de João Bernardo: Marxismo e nacionalismo (I): O antieslavismo de Engels e de Marx

http://passapalavra.info/?p=4140

Kleber Augusto Gabriel disse...

Parabéns Celso!!! Tomara que possa ter a oportunidade de postar mais editoriais responsáveis como este... Tomara que repitam a dose mais vezes!!! Forte Abraço!!!

Anônimo disse...

Como o Haiti, Israel é uma extenção do território americano. Daí o apoio irrestrito.

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