quinta-feira, 21 de agosto de 2025

ULTRADIREITISTAS REIVINDICAM O DIREITO À PERNADA E QUEREM AS SUAS MULHERES USANDO CINTOS DE CASTIDADE

rui martins
MULHERES NÃO DEVEM VOTAR
Abusadas as mulheres eram, mas é discutível que 
amos desfrutassem suas súditas na noite de bodas
  
D
ois anos atrás, quando li a distopia do escritor Douglas Kennedy sobre uma secessão nos Estados Unidos em 2045, graças à vitória dos retrógrados numa nova guerra civil, achei um tanto excessivo. 

A história começa com uma atriz de teatro nova-iorquina, trans e judia, sendo queimada viva por haver proferido em cena reflexões consideradas blasfemas sobre Jesus, que estaria morrendo de medo antes de ser crucificado.

Donald Trump já era um possível pesadelo, porém ninguém poderia então imaginar nem um terço do que vem sendo por ele praticado nestes primeiros meses de governo.

Com a eternidade que ainda lhe resta, nada parece impossível em termos de rompimento com a tradição democrática estadunidense. 

Ninguém pode se considerar seguro num país sem garantia por tempo de serviço nem garantia de função, onde ministros, professores, reitores, altos funcionários públicos são demitidos e onde Trump parece empenhado em limpar da história os lados negros da escravidão com uma triagem nas bibliotecas. 

Em breve haverá uma revisão nos programas escolares e já se pode prever censura política nos cenários de filmes e na edição de livros.

Estarei também sendo excessivo como critiquei o escritor Douglas Kennedy? Talvez não, infelizmente.
Os chaveiros torcem para esta moda
voltar: ela os tornaria riquíssimos!
A Idade Média chegou ao fim, entre outros fatores, com a invenção da prensa de Gutenberg, facilitando o acesso ao conhecimento pelos livros e principalmente à livre interpretação dos textos sagrados. Uma importante consequência foi a Reforma acabando com a primazia da Igreja Católica e permitindo a prática independente do culto cristão, sem submissão aos dogmas papais.

Pouco a pouco, o poder religioso de Roma foi se esvaecendo, enquanto o fim do feudalismo, transformações sociais, revoluções e crises econômicas impulsionaram na direção de formas democráticas de governo, até sobrevirem as atuais grandes concentrações econômicas, oligarquias,  convivendo com ditaduras políticas e teocracias.

Isto sem esquecermos das novas tecnologias de comunicação, das high tech geradoras das redes sociais e de novos tipos de comunicações humanas imediatas, tudo conectado à inteligência artificial.

Serão  os albores de um novo mundo e de novas conquistas sociais? Aparentemente não. Ao contrário, esses albores parecem anunciar o advento de tempos piores ainda do que estes que já vividos.
 
Sucessos de livraria na Europa, os livros do escritor italiano Giuliano da Empoli A Hora dos Predadores e Os Engenheiros do Caos também não são obras de premonição, mas tratam da nossa realidade.

Um mundo de populistas da laia do Trump e do Bolsonaro, cuja incompetência e erros se transformam em qualidades para seus eleitores, é o que nos espera, segundo as apresentações desses dois livros.

Porém, eles teriam sido  incapazes de ir mais longe se não fossem apoiados pelos especialistas do Big Data. Pessoas desconhecidas do grande público estão mudando as regras da política que, paradoxalmente, parecem provocar ou ameaçam provocar uma enorme marcha-a-ré nas relações internacionais e sociais do nosso mundo. 
O lar de um homem é mesmo o seu castelo?

Por que essa forte dose de descrença? Vale atentarmos, p. ex., para mais um dos projetos retrôs do governo Trump, anunciados pela imprensa-- o de retirar das mulheres o direito ao voto. 

Num comunicado trocado com pastores evangélicos dos EUA, o ministro da Defesa Giuliano da Empoli mostrou-se favorável ao fim do voto feminino e a volta à sujeição das esposas ao seu marido.

Isso no contexto de declarações do pastor Dough Wilson, das Igrejas Reformadas Evangélicas, sobre os EUA existindo num mundo cristão sem mulheres participando das Forças Armadas. 

Para reforçar essas tomadas de posição contra a liberdade e igualdade das mulheres com os homens, outro pastor declarou à CNN que, numa sociedade cristã ideal, o voto seria por família representada pelo marido. 

Com esse tipo de regressão, as estadunidenses evangélicas acabarão perdendo seus direitos e se tornarão como as mulheres iranianas e islâmicas (que podem votar), cidadãs de segunda classe. (por Rui Martins)

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