Nestes últimos dias vieram à tona vazamentos a respeito de ações questionáveis por parte de Alexandre de Moraes em sua atuação à frente do TSE -Tribunal Superior Eleitoral. Forçando a mão em alguns momentos, não cumprindo o rito jurídico em outros e mesmo apelando à imaginação, as revelações mostram algo de conhecimento até das pedras da Praça dos Três Poderes: acima de tudo, as ações contra Bolsonaro e sua turma eram políticas, visando sua neutralização.
Na linguagem empolada da esquerda liberal brasileira, com o lulopetismo à frente, tais ações visavam salvar a democracia. Na linguagem concreta da política revolucionária, é simplesmente a justiça como ela é, com o perdão da cacofonia. A justiça não é algo neutro dentro da realidade social, mas é antes parte intrínseca da dominação burguesa, estrutura do Estado para a hegemonia de classe, em defesa da propriedade privada e do capital. Assim, os interesses da burguesia e de suas frações estão sempre ali presentes, se expressando ora de um modo, ora de outro.
Alexandre de Moraes sempre foi o vetor de expressão dos interesses da burguesia, particularmente se ligando aos setores conservadores da política de São Paulo, seja integrando o governo de Gilberto Kassab na prefeitura de São Paulo, seja enquanto secretário de segurança pública de Geraldo Alckmin. Nesse posto, inclusive, teve atuação importante na repressão às ocupações estudantis de escolas ocorridas no estado e na leniência às manifestações direitistas em prol do impeachment de Dilma. Pelo seu serviço, foi guindado ao posto de ministro da justiça do governo Temer, de onde acabou guindado ao STF.Alexandre de Moraes no TSE.
No obscuro acordo político pactuado entre lulismo, tucanato decadente e setores da burguesia que retirou Lula da cadeia e garantiu seu retorno à presidência, Moraes foi figura de proa, cumprindo a função de Xerife-Mor, homem todo poderoso capaz de iniciar processos ex officio, mandar prender e mandar soltar, sempre em decisões monocráticas posteriormente, em alguns casos, submetidas para serem referendadas por seus colegas. É preciso dizer franca e verdadeiramente que o inquérito das Fake News não passa de uma Lava Jato de sinal invertido, dessa vez sem sequer a participação do Ministério Público, tornado supérfluo.
O objetivo foi e é conter o bolsonarismo e seu líder, os quais se tornaram disfuncionais para uma parte da burguesia brasileira. O grande acordo nacional, nas imortais palavras de Jucá, seguia seu caminho irresoluto, mas algo parece ter mudado. Resta perguntar porquê.
A hipótese mais clara é que a burguesia está mandando sinais a Lula e ao PT no sentido de enquadra-los no programa econômico e político acordado em 2022. De um lado, o aprofundamento do financismo, mais reformas, mais ataques aos direitos sociais e trabalhistas. De outro, sintonia mais afinada com posições políticas do imperialismo, não sendo gratuito ter essa movimentação acontecido no contexto da polêmica das eleições venezuelanas. Não nos esqueçamos de suas origens.
Ao bombardearem Moraes, a burguesia brasileira, através de sua imprensa, envia recado claro que, se for preciso, pode ressuscitar Bolsonaro e sua turma desconstruindo o grande salvador da democracia, tal como fizera anteriormente com Sérgio Moro e seus apaniguados do MPF. Estamos diante de um ensaio geral de uma ação que poderá ser acionada caso o lulopetismo não cumpra fielmente sua parte do pacto. Alexandre de Moraes nisso tudo é apenas mais um serviçal, tão dispensável quanto qualquer outro.
E isso vem acontecer em um contexto em que Trump poderá voltar à Casa Branca, algo a ser considerado na equação geral. As turbulências apenas estão começando. (por David Coelho)
Um comentário:
Luís Nassif: Xadrez do segundo tempo do golpe da ultradireita
https://www.jb.com.br/brasil/politica/2024/08/1051508-luis-nassif-xadrez-do-segundo-tempo-do-golpe-da-ultradireita.html
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