Após 86 dias, chega ao fim a greve da educação pública federal com a assinatura de um acordo entre os sindicatos representativos dos trabalhadores e o governo Lula. O resultado final do acordo ficou muito aquém do que era pretendido, com uma recomposição salarial insuficiente, recomposição tímida do orçamento e promessas vagas sobre reestruturação de carreira e novas concessões para docentes e técnicos.
Lula cerrou fileiras junto aos capitalistas e não aceitou que se colocasse qualquer fissura na política de austeridade fiscal, cuja defesa foi elemento fundamental do pacto que permitiu sua saída da prisão e posterior eleição, na farsa da frente ampla pela democracia. Acuado pela fortíssima greve, emparedado pelas manifestações, Lula não teve outra alternativa que fazer prepotente discurso (veja aqui) exigindo que os líderes sindicais, seus paus mandados, colocassem fim à greve.
A indignação de Lula era porque esses líderes não tinham conseguido impedir a greve de acontecer. Tentaram, mas os trabalhadores os atropelaram. Uma vez a greve deflagrada, eles a boicotaram de todas as formas, seja poupando Lula das críticas, seja impedindo a realização de atos de rua, seja induzindo medo entre os trabalhadores. No fim, inclusive, foi esse discurso do medo o determinante para o fim do movimento, pois foi incutido na cabeça dos trabalhadores que se não aceitassem as migalhas concedidas por Lula, ele não daria nada, como já havia feito Dilma em 2011.
Com quase três meses de greve, muitas disputas, pressões e cansaço, os trabalhadores não tiveram outra opção que acatar o encaminhamento do fim do movimento paredista. Seus líderes, obedecendo a Lula, faziam o discurso do medo e o iam instando a retomar as atividades, e esses, em dúvida profunda, resolveram que o melhor era recuar e garantir a miséria concedida pelo governo.
Contudo, essa greve conseguiu avanços gigantescos, as maiores foram na organização e na consciência política. Foi desnudado o caráter conservador de Lula e sua mentira em relação a valorizar a educação. Ficou também claro seu papel de defensor intransigente dos interesses dos capitalistas, protegendo-os mesmo às custas da implosão de seu governo. Finalmente, os trabalhadores avançaram na compreensão de seu papel enquanto classe, na importância de sua organização e em que, ao fim das contas, são eles próprios os sujeitos da história.Lula derrotou a greve, mas junto condenou seu próprio governo ao fiasco, conforme já tínhamos alertado anteriormente em outro post. Depois de suas ações, não poderá nunca mais dizer que defende a educação ou os trabalhadores. Ao pisar na garganta de um setor historicamente aliado, enquanto valorizou os bolsonaristas, o presidente mostrou seu desprezo pelos aliados e seu delírio de onipotência. A conta já chegará nas eleições de outubro desse ano.
A greve se encerrou, mas a luta por um novo mundo continuará! (por David Coelho)
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