hélio schwartsman
NA QUESTÃO DAS URNAS, MILITARES ABRAÇARAM O PASTAFARIANISMO
Para o pastafarianismo (*), o Universo foi criado pelo Monstro do Espaguete Voador, uma entidade invisível e indetectável, depois de um megaporre.
Os pastafarianos também sustentam que o aquecimento global é consequência direta da redução do número de piratas em atividade nos sete mares.
Para as Forças Armadas brasileiras, embora nenhum indício de fraude tenha sido detectado durante as eleições, "não é possível afirmar que o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento".
Qual a semelhança entre os pastafarianos e as Forças Armadas brasileiras? Ambos buscam refúgio em sutilezas da epistemologia.
A afirmação pastafariana sobre a criação explora o problema dos juízos infalseáveis (se a entidade é invisível e indetectável, não há experiência possível que me levaria a rejeitá-la).
A dos piratas brinca com as noções de correlação e causação.
Já a conclusão dos nossos solertes militares faz picadinho de vários elementos da epistemologia, da lógica e do bom senso.
Vejam que eu não posso provar que não há um gênio maligno adulterando minhas frases à medida que as digito, mas, convenhamos, essa é uma hipótese exótica, para não dizer abstrusa ou mesmo ridícula.
Qual a diferença entre pastafarianos e militares brasileiros? O físico Bobby Henderson criou a igreja do Monstro do Espaguete com o nobre propósito de demonstrar que é um erro tratar o discurso religioso como científico.
Os militares criaram sua fabulação sobre as urnas eletrônicas com o ignóbil objetivo de bajular o ainda presidente da República.
Lula diz que, nessa história de fiscalização das eleições, Bolsonaro humilhou os militares. Discordo. Foram os fardados que se acovardaram e se humilharam, já que poderiam, perfeita e constitucionalmente, recusar-se a desempenhar esse papel.
Ao presidente eleito não convém dizer isso, mas eu posso. (por Hélio Schwartsman)
* o pastafarianismo é uma pseudo-religião criada em 2005, com fins satíricos, por um físico dos EUA para protestar contra a decisão do conselho educacional de uma escola da Pensilvânia obrigando professores de ciência a ensinarem a fábula criacionista como alternativa à teoria darwiniana da evolução das espécies.
O termo funde as palavras pasta (macarrão em italiano) a rastafarianismo (culto jamaicano que estava em evidência graças ao sucesso mundial do músico Bob Marley).
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