hélio schwartsman
RADICALIZAÇÃO DA DIREITA ABALA CÁLCULO DA DEMOCRACIA
Uma coisa com a qual não precisávamos nos preocupar antes da extremização do país era a reação dos candidatos derrotados nas urnas.
Quando a democracia funciona em seu ritmo normal, os perdedores se conformam em passar um tempo na oposição, aguardando uma chance de retorno.
O cálculo político é o de que sai mais em conta entregar pacificamente o poder e passar um período sem acesso direto a suas benesses do que tentar impor-se pela força. Perdas momentâneas são preferíveis à possibilidade de eliminação definitiva.
Nosso problema, hoje, é que Jair Bolsonaro não faz essa conta. E ele não está de todo errado. Em seu caso, a perda da Presidência pode significar mais do que apenas uma temporada longe do poder, pois há uma chance não desprezível de que ele vá para a cadeia –e isso abre as portas da incerteza.
A única coisa de que estamos razoavelmente seguros é que, em caso de derrota no domingo, Bolsonaro não vai telefonar para Lula parabenizando-o pela vitória.
Na melhor das hipóteses, ele apenas prepara uma narrativa para sua base. A eleição não teria sido justa: STF, TSE, imprensa e comunistas em geral lhe teriam garfado o pleito, tirando-lhe até inserções publicitárias garantidas por lei.
Se for só isso, podemos nos dar por satisfeitos. Ele teria uma história para manter seus mais fiéis apoiadores energizados, mas não esboçaria maiores resistências a entregar a faixa. É a hipótese que me parece mais provável, a confirmar-se a derrota.
Não dá, porém, para descartar um cenário em que o atual mandatário tente algo mais na linha de um golpe clássico, com estímulo à desordem e à violência.
Não vejo como triunfaria, pois o grosso do PIB nacional já deu sinais de que não chancelaria a aventura. A reação da comunidade internacional também seria vigorosa. Um líder racional e razoável jamais embarcaria nessa.
Mas, se Bolsonaro fosse racional e razoável, não seria Bolsonaro. (por Hélio Schwartsman)
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