Deixando um pouco de lado os feios, sujos e malvados da política institucional brasileira, vou falar de algo muito mais agradável nos dias atuais: a enorme chance que nossa seleção tem de conquistar o hexacampeonato mundial de futebol, depois das frustrações de 2006, 2010, 2014 e 2018.
Isto porque conta com o melhor técnico brasileiro em atividade, um elenco acima da média e dois foras-de-série: Neymar e Pedro.
Se nenhuma contusão no pior momento ou apagão inesperado atrapalhar (como aconteceu na última edição, quando jogadores que haviam brilhado nas eliminatórias tiveram acentuada queda de rendimento, principalmente Gabriel Jesus, irreconhecível!), não vejo nenhum outro selecionado melhor do que o brasileiro. Está, sem dúvida, lado a lado com os favoritos.
Mas os possíveis desequilibrantes são os que citei, além, talvez, do Raphinha do Barcelona, que às vezes me lembra o Garrincha, seja pelos dribles desconcertantes, seja pela risada sempre estampada no rosto (era assim o saudoso Mané, merecidamente chamado de alegria do povo).
Neymar parece ter tomado um susto quando foi dado como dispensável pelo PSG, tentou e não conseguiu transferir-se para outro gigante da Europa, acabando por se resignar ao papel de bom profissional para recuperar o prestígio abalado no clube francês.
E não é que está conseguindo?! Tem sido o melhor dos três craques, enquanto Messi se reinventa como articulador das jogadas de ataque e garçom que cansa de dar assistências preciosas para os companheiros, ao passo que Mbappé atravessa péssima fase.
Pedro é o homem do momento, ofuscando até Arrascaeta e Gabigol no estrelado Flamengo, disparado o melhor time brasileiro da atualidade (um oportuno contraponto ao futebol calculista e sem brilho do Palmeiras, cujo superestimadíssimo técnico apenas repete o intragável resultadismo de José Mourinho e Diego Simeone).
Walter Casagrande Jr., que é fã de Pedro desde o Fluminense e o compara ao cracaço holandês Marco van Basten, não tem dúvidas quanto à sua condição de nosso centroavante mais talentoso, "um camisa 9 com várias alternativas para fazer gols", destacando estas qualidades:
"...ótimo posicionamento dentro da área, sai para a tabela, sobe e cabeceia muito bem, consegue dar um tapa forte de fora da área tanto com a direita quanto com a esquerda, tem grande facilidade para girar e bater, uma ótima matada de peito e muito domínio de bola".
Eu acrescentaria seus verdadeiros malabarismos para desviar, com o bico da chuteira, bolas (inclusive aéreas) que outros atacantes nem sequer tentariam alcançar; e a sutileza de rolar a redonda mansamente para o fundo das redes, ao invés de dar chutões imprecisos, nas situações em que uma finalização forte é desnecessária.
Afora aquele atributo indispensável para os futebolistas de sucesso: sorte.
Todo mundo atribui a magnífica fase atual do Pedro à chegada de Dorival Jr., que ousou o que os técnicos anteriores do Fla garantiam ser impossível: escalá-lo para jogar junto com Gabriel Barbosa. Mas, não é só isto.
Quando em todo jogo tinha gol do Gabigol, isto em grande parte se devia à perfeita sintonia dele com Bruno Henrique, cujas assistências preciosas alavancavam ao máximo suas qualidades.
A vaga é uma certeza. E titularidade se torna cada vez mais inescapável. |
Mais: provavelmente frustrado por nunca ter conseguido repetir na seleção suas atuações no Mengo, Gabriel talvez tenha se conformado com ficar de fora da Copa e passou não a competir com Pedro, mas sim a ajudá-lo a firmar-se no time.
O bom entendimento entre os dois, as assistências do Gabriel e o perigo que ele representa (atrai a atenção dos zagueiros adversários, abrindo os espaços de que Pedro necessita para seus hat-tricks) são trunfos fundamentais desse Flamego goleador.
Muitos esquerdistas torcem contra a seleção brasileira por julgarem que suas conquistas serão capitalizadas por governantes execráveis como Médici e o Bozo.
Nesta linha, eu quero lembrar que a ojeriza do carniceiro de 1970 ao comunista Saldanha teve papel fundamental, nos bastidores, para a derrubada do João sem medo e sua substituição por um lobo domesticado.
Já o palhaço que tornou o Brasil um circo de horrores, capaz de afastar ministros populares como Mandetta e Moro, até flertou com a ideia de fazer o mesmo com Tite no ano passado, mas sentiu o cheiro de queimado e refugou. Teve de engolir o Adenor, pois um fracasso acachapante do selecionado era tudo de que ele não precisaria num ano eleitoral.
Eu sempre preferi ver nossa gente com um quinhãozinho de felicidade e um mínimo de auto-estima. Se dependermos de derrotados que se aceitam como tais, votam no mal menor, vão buscar consolo na fé mercantilizada e se deixam exterminar como moscas numa pandemia, continuaremos dormindo em berço nada esplêndido até o dia do Juizo Final.
Os brasileiros precisam voltar a crer que são capazes de arrancar algo melhor da vida. (por Celso Lungaretti)
3 comentários:
Pode ser que o oblívio iminente faça o (eterno menino) Neymar jogar e não se jogar no chão.
Olá, CL
Até concordo com sua análise.
Mas já que você não encerrou o texto com algum vídeo como de costume, então tomo a liberdade (sem ufanismo):
https://www.youtube.com/watch?v=1hx5-XoRCVw
Túlio,
tive de sair e a internet estava lerda demais, então editei pela metade e pus no ar faltando vários detalhes.
Ao voltar, fui logo terminar o post e encontrei exatamente o vídeo no qual já havia pensado no ônibus, uma seleção de gols do Pedro.
Só então fui abrir as mensagens e encontrei a sua, lamento. Até que o Tom Zé teria caído bem nesse contexto, mas o trabalho já estava feito.
Um abração e ótimo fds, companheiro!
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