sexta-feira, 26 de novembro de 2021

CRISTO OUSOU NEGAR AS DIVINDADES ESTABELECIDAS PARA AFIRMAR UMA DIVINDADE DE JUSTIÇA SOCIAL – 2

 (continuação deste post)
A expulsão dos vendilhões do templo deve até
hoje causar pesadelos aos exploradores da fé
M
etaforicamente, dizia Jesus Cristo: ou se serve a César ou se é contra ele.

Atualmente, todos nós somos subjugados a viver e produzir sob regras capitalistas, trabalhando e produzindo o valor que vai ser apropriado pelo capital, sob pena de não podermos nos sustentar economica e materialmente. 

Mas podemos, tal qual fez o Cristo, subverter essa lógica de forma inteligente, conscientizando-nos da negatividade dos seus conceitos e condenando-a, solapando aquilo que hoje representa uma tragédia para a humanidade (a qual sequer se apercebe do razão do ser da mal que a aflige, transferindo para questões de mau gerenciamento político uma questão que diz respeito à natureza de um modo de mediação social que chegou ao seu limite de saturação). 

Defender o desenvolvimento econômico, como todos fazem, é, ou não ter consciência do mal em si; ou optar conscientemente pelo mal que isto é capaz de produzir (algo bem pior!).

É como se o Cristo dissesse: posicione-se, ou você é opressor e faz o jogo do império romano (agora o capitalismo), ou vai servir a outro Deus que contesta a riqueza abstrata (a emancipação sob um modo diferente de produção social). 

Os partidos políticos de esquerda não podem continuar servindo ao capital sob a alegação (sincera ou não) de o estarem combatendo.

A pretensa defesa dos interesses trabalhadores sob a institucionalidade burguesa, mantendo tal categoria sob a subjugação intrínseca ao capital sem questioná-la na sua essência, é a traição à verdadeira emancipação humana, pois apenas representa a servidão velada, consensual, útil à manutenção da opressão contida nessa relação.
A apropriação do cristianismo pelos ímpios 

É claro que o contexto social sob o qual viveu o Cisto era profundamente místico e o poder usava as crendices populares como forma de se afirmar supra-humano. 

A concepção divina de que seriam dotados os governantes era uma forma de impor-se obediência aos súditos diante de um poder sobrenatural capaz de punir quem a ele não se prostrasse.

Assim, Cristo ousou negar as divindades estabelecidas para afirmar uma divindade de justiça social, de amor ao próximo, de virtudes humanas coadunadas com o senso de justiça baseado numa moral atemporal, fazendo uma correlação disso com exemplos práticos por parábolas. 

Para tanto, criou a ideia de um reino no qual a verdadeira riqueza seria imperecível e impossível de ser roubada pelos poderosos, tratados por ele como vermes. 

Ora, numa sociedade da partilha da riqueza material produzida e apropriada coletivamente, de forma igualitária, como pregava Jesus Cristo, haveria uma imunização consistente contra a tirania de alguns poucos; tal ideia foi expressa metaforicamente na frase “procurai também vós o tesouro imperecível, que se encontra lá onde as traças não se aproximam para comê-lo nem os vermes o destroem”.

Os ensinamentos do Cristo eram de tal forma revolucionariamente fortes que apesar de toda a perseguição do Império Romano, o cristianismo se forjou em encontros furtivos, conspiratórios, marcados pela simbologia de senhas (como o desenho dos peixes), muitas vezes em lugares não vigiados (como as catacumbas dos cemitérios), e sobreviveu pela séculos seguintes à morte de Jesus, numa propagação missionária do bem. 
"O cristianismo se forjou em encontros furtivos, marcados pela simbologia de senhas"
A institucionalidade do poder escravista somente pode ser subvertida fora dela.

Daí a máxima "se não podes com o inimigo junte-se a ele". E foi assim que, 300 anos após a morte de Cristo, o cristianismo se tornou religião oficializada pelo poder institucional do Estado, e de modo a que os conceitos revolucionários contidos nas parábolas de Cristo pudessem ser eficientemente manipulados, como já o havia sido a sua própria condenação à morte por crucificação. 

Cristo foi o maior fenômeno da chamada moderna civilização (que ainda está fincada na pré-modernidade e no atraso moral e ético) e o conteúdo de suas parábolas, entendidas como metáforas libertadoras, têm conteúdo atualíssimo. 

Mas, sob o domínio das religiões, creio que, se ele pudesse reencarnar atualmente e voltasse a fazer as suas pregações revolucionárias contra a decadência atual, seria novamente crucificado, inclusive por aqueles que usam o seu nome em vão. 

Da mesma forma, entendo que, se Karl Marx pudesse ressuscitar, expulsaria do templo os deturpadores vendilhões de seus ensinamentos, e certamente seria mandado para o desterro pelo Partido Comunista. (por Dalton Rosado)

Um comentário:

SF disse...

A falácia do falso dilema está contida na famosa "quem comigo não ajunta, espalha" ou "não se pode servir a dois senhores"...
O mundo jaz nas falácias!
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São palavras atribuídas a Jesus, no entanto, eu duvido que ele tenha sido um falacioso.
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O que os cristos tem apontado é a possibilidade que todos seres humanos tem de ter a ideia do perfeito.
E isso é único e, como diria Heidegger, é o privilégio ontológico do homem. O de saber o sentido do ser.
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A bem dizer, nada mais distante da metafísica do que a economia política.
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A ideia do perfeito é um incômodo ao materialismo e, se a pessoa insistir em misturar os dois, enlouquece.
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Ouvi dizer...
Antes de conhecer o Zen as montanhas eram montanhas.
Ao estudar o Zen as montanhas deixaram de ser montanhas.
Ao conhecer o Zen as montanhas voltaram a ser montanhas e os rios voltaram a ser rios.
Assim, eu recolho lenha na montanhas e água nos rios.
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Satori não me deu nada.
Satori me acordou para o nada que alguma coisa é.
***

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