quinta-feira, 25 de novembro de 2021

CRISTO OUSOU NEGAR AS DIVINDADES ESTABELECIDAS PARA AFIRMAR UMA DIVINDADE DE JUSTIÇA SOCIAL – 1

dalton rosado
JESUS CRISTO, O REVOLUCIONÁRIO DE DEUS
S
im, Jesus Cristo era filho de Deus! Assim como eu e você que neste momento lê este artigo, além de tantos outros que já não estão mais entre nós. 

Para mim o Universo é Deus e, como sou uma ínfima partícula deste universo, sou também filho de Deus. Os demônios são os erros meus. 

Em assim sendo, todos nos constituímos em partes, numa constante mutação, desse universo cósmico cujo mistério da criação e existência não nos é permitido formatar de modo absolutamente preciso (ou até mesmo em conjetura).

As religiões, nos seus mais diversos dogmas e doutrinas teológicas, encarregam-se de formatar Deus e seus critérios existenciais; a mim, no primarismo teológico de incredulidade materialista, não me cabe adentrar por esta seara.   

Mas o nascimento do Cristo é o fenômeno social mais significativo da humanidade desde a civilização greco-romana, tanto no campo religioso (criação da religião monoteísta) como no campo social, de vez que contestou as relações sociais escravistas de produção vigentes para refletir sobre a subjetividade da vida e valores comportamentais então vigentes.

Cristo foi um revolucionário, ainda que se queira abstrair o conteúdo tido pelos cristãos como sagrado do seu surgimento, até porque a religião e a vida social (desde há muito e ainda agora) andam de mãos dadas, definindo regras comportamentais e modos de relações sociais humanas.   

Então, aqui vou ater-me ao conteúdo revolucionário de Cristo diante da poderio bélico romano, contra o qual insurgiu-se com teorias de partilha da produção social e convivência pacífica e tolerante .
[Pregações em razão das quais foi condenado à morte e crucificado, com o beneplácito de uma multidão manipulada pelo poder imperial romano.]

O que dizer do conteúdo metafórico desdenhoso de quem dizia que o poder de César, representado pela força bélica, pela propriedade (o direito romano já era capaz de criar firulas jurídicas injustas e opressoras) e pelo dinheiro dos impostos, lhe era estranho?

[E o era justamente porque o conceito de vida que queria exaltar era diverso daquele e propunha fraterna partilha da riqueza socialmente produzida, daí a frase "dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".]

O que dizer de quem chegou a condenar a hipocrisia machista de então, que permitia aos homens o direito a um harém de mulheres e concedia aos ditos cujos o direito de apedrejar a mulher adúltera?

O que dizer de alguém que pugnou pela proteção das crianças quando disse "deixai vir a mim as criancinhas, pois é delas o reino dos Céus"?

O que dizer de alguém que, consciente tanto do poderio militar das legiões romanas que a todos subjugavam (na cidade de Roma, p. ex., 80% dos habitantes eram escravos) quanto da impotência militar dos oprimidos, pregou uma teoria pacifista? 
Tema da ópera-rock e filme Jesus Christ Superstar em que Simão, o
zelote, exorta Cristo a incluir nos seus sermões um pouco de ódio a Roma 
.
[Ao recomendar que alguém agredido desse o outro lado da face, ele apostou na emergência de uma nova força, oriunda da consciência libertadora que estava a pregar...]

O que dizer de alguém que colocou desconfiança na cabeça dos opressores, num mundo marcado pela crendice religiosa, quando disse que "é mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no reino dos Céus"?

O que dizer da inteligente metáfora sobre a hipocrisia na parábola sobre o cisco no olho ("Por que vês o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que tens no teu? Ou como poderás dizer a teu irmão: 'Deixa-me tirar o argueiro do teu olho', quando tens a trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, então verás claramente para tirar o argueiro do olho do teu irmão”)?

Nada é mais hipócrita na atualidade do que o conceito de honestidade, uma vez que sob a sociedade do capital vige uma desonestidade oficial amparada por lei.

[Lei esta que permite a alguém acumular para si toda a riqueza abstrata produzida pelos trabalhadores que emprega e ainda se jactar de benfeitor que estaria proporcionando empregos salvadores, mas que pune quem rouba comida para alimentar um filho faminto!] 

Há uma parábola do Cristo que critica a ambiguidade de quem quer servir a todos os lados, até os aparentemente antagônicos, e que na realidade somente serve a um deles.  Aponta tal pessoa como alguém que ganha a confiança de um dos lados para servir verdadeiramente ao outro.  

No sindicalismo se popularizou a qualificação pejorativa de 
pelego para o dirigente sindical que posa de defensor dos direitos do trabalhadores, mas apenas amortece o choque na disputa pelo dinheiro que envolve a relação capital/trabalho dentro de um mesmo espectro de natureza existencial.

Os sociais-democratas burgueses, que se dizem anticapitalistas, são o melhor exemplo da ambiguidade nociva condenada pelo Cristo ao afirmar: "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza". (por Dalton Rosado  continua neste post)

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