rui martins
SILAS MALAFAIA SE ENROLA NA CORDA DE LEDA NAGLE
E se tornou importante por permitir uma visão sem retoques do mais próximo conselheiro espiritual do presidente Bolsonaro.
Leda estimula o entrevistado a falar de maneira espontânea. E, tagarelando sem interrupções, o dito cujo pode sentir-se como na poltrona diante do psiquiatra, revelando seu eu interior sem retoques. Foi o que ocorreu com o Malafaia, a ponto de ele esquecer-se de suas autoproteções, incorrendo em diversas más falas (desculpem-me o trocadilho...). .
Quando se dá muita corda a alguém, nem todos enforcam-se, mas a maioria se prende, embaralha-se, amarra-se nos nós que vai criando com a corda, mesmo sem perceber.
Por que essa citação do velho ditado? Porque foi essa a impressão e mesmo a conclusão deixadas depois de se ouvir o Malafaia se enrolando na corda que lhe era dada pela entrevistadora.
O esperto líder evangélico, acostumado (ao que dizem) a falar com Deus e com seu humilde e fiel rebanho de ovelhas, embarcou com tamanha inocência na entrevista, revelando seu ego nada humilde e seu narcisismo, que provavelmente sequer percebeu ter chegado ao ponto de enforcar-se ele mesmo.
Nestes tempos de muita oração, de muita citação bíblica, de muito abraço de irmão sem máscara, essa foi a melhor entrevista do Malafaia, para quem estiver fazendo uma pesquisa sobre as posturas dos líderes evangélicos nestes dias estranhos em que vivemos, gravar e consultar.
A entrevista aconteceu no dia seguinte às manifestações do 7 de setembro, por ele consideradas as maiores já realizadas no Brasil (vimos que Bolsonaro também afirmou isso no seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, mas se trata de uma mentira deslavada).
Debaixo dessa emoção de ter presenciado uma suposta grande vitória, na avenida Paulista, junto no palanque presidencial com outros sete pastores evangélicos, o Malafaia enrolou ainda mais a corda no pescoço. Esquecendo-se das ponderações e dos conselhos do livro bíblico Provérbios (do Velho Testamento), deixou-se levar pelo entusiasmo e sua vaidade passou a ir num crescendo ao longo da entrevista.
No sentido inverso, quase no mesmo tempo em que o combativo pastor concedia sua entrevista, era o presidente Bolsonaro quem telefonava ao ex-presidente Michel Temer para ser orientado, preocupado com as prováveis consequências por ter usado uma linguagem desrespeitosa ao se referir ao ministro do STF, Alexandre de Moraes.
O Malafaia, àquela altura, ainda acreditava na narrativa mentirosa do grande sucesso das manifestações golpistas do messias.
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Ao tomar conhecimento, mais tarde, da Declaração à Nação de Bolsonaro, o Malafaia deve ter-se arrependido de seu fervor excessivo e deixado sua boca pronunciar um impropério.
Mas ainda embalado pelo entusiasmo, o Malafaia – que tem o dom da profecia, pois anda anunciando um próximo retorno de Cristo – predisse algo mais próximo: se houver fraude nas eleições de 2022 e Bolsonaro perder, Deus vai castigar e punir os responsáveis.
Haverá uma intervenção divina, disse o Malafaia, ou seja, interpretando-se, ocorreria um golpe praticado diretamente por Deus, o que será uma novidade mundial!
Diante de tanto entusiasmo de um Malafaia cheio de si mesmo, quase arrogante, Leda, preocupada, indagou se ele não tinha medo de ser preso por dizer isso.
Ao que o orgulhoso pastor respondeu: “Não tenho medo do ditador de toga, porque sou um líder religioso. Mas se vierem me prender, proibirei meu advogado de impetrar um habeas corpus e não colocarei nenhuma tornozeleira".
Será que o Malafaia acredita mesmo que Deus ou seus apoiadores, suas ovelhas ou seu gado, vão abrir a porta da prisão para libertá-lo?
Mesmo com a atual crise econômica, que está levando muitos a fazerem caldo de pés de galinha para substituir a carne? (por Rui Martins)
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