terça-feira, 29 de dezembro de 2020

OS ESCRAVOS DA MODERNIDADE ESTÃO COM UM SÉRIO PROBLEMA: NÃO HÁ TRABALHO ESCRAVO SUFICIENTE PARA TODOS! – 1

C
onvenhamos, os escravizadores de todos os tempos são astutos, pois, minoritários, conseguem manter o seu jugo sobre a maioria. 

A que se deve tal domínio? À inconsciência dos escravizados, que aceitam a escravidão por não conhecerem a sua própria força!

Infelizmente ainda estamos no estágio do desenvolvimento do escravismo, agora numa fase mais sofisticada e qualificada, que exige trabalhadores profissionalizados (que são poucos) e na qual o indivíduo social transformado em cidadão é livre apenas para escolher o seu escravizador. 

Trata-se de uma espécie de portabilidade da escravização, pois os despossuídos têm apenas a sua força de trabalho para vender ao capital que o subjuga, conforme aprofundaremos numa breve análise histórica desse processo. 

O itinerário nada racional da racionalidade dos seres humanos é marcado pela tensão entre os elementos próprios ao estágio inferior da racionalidade e a evolução para o estágio superior, mas a ruptura de uma condição para outra é um processo historicamente lento. 

O processo de escravização na humanidade é coisa recente se considerarmos o tempo de existência dos humanoides sobre a face da terra, sendo, portanto, fato histórico, não ontológico; como tal, teve começo, vida e dá sinais do esgotamento que prenuncia sua morte.

A libertação do ser humano de suas amarras fetichistas é um processo vagaroso se considerarmos o tempo de vida do dito cujo nos dias atuais (e era ainda mais curto há algumas centenas de anos, quando durávamos, em média, bem menos).   

Terminado o período de vida comunitária solidária circunscrito a pequenos grupos de humanos que se protegiam contra as intempéries do clima,  as feras, etc., dispondo rudimentares conhecimentos de sobrevivência, no qual preponderava a coleta de frutos, a caça e a pesca, sobreveio a produção agrícola, que demandava o domínio sobre a terra a ser explorada. 

Enquanto no estágio comunitário preponderava a partilha comunitária da produção, sem a menor ideia do que fosse valor abstrato de bens necessários ao consumo, na fase da exploração agrícola veio sobreveio a acumulação dos bens que representavam poder para os seus detentores.

A terra apossada passou a ser a grande fonte da riqueza de quem a detinha, representada pela capacidade de produção dos bens (cereais, frutas, animais, etc.) e da cobiça de outros seres humanos. Estava deflagrado o processo de conquista territorial e guerras.

A posse da terra (ainda sem o instituto jurídico da propriedade, algo mais sofisticado) e dos bens ali produzidos, ao proporcionar poder a quem a detinha, ensejou a escravização de seres não possuidores de terra mas aptos à produção. Iniciava-se, assim, a escravização direta de uns seres sobre outros.

O excedente de produção agrícola a ser trocado de modo a que houvesse a possibilidade de abastecimento variado de produtos agrícolas produzidos em cada lugar, levou ao surgimento do escambo.    
Este proporcionou a ideia de valor e do seu equivalente geral (ainda sem a representação numérica abstrata posterior) capaz de facilitar as trocas baseadas e quantificadas pelo tempo de esforço físico de produção de cada produto.

Assim ganhava importância a mão-de-obra escrava destinada à produção de excedentes, de vez que isto empoderava os senhores de escravos. A terra, portanto, passou a ter importância e isto gerava cobiça. 

A formação de mercenários militares capazes de proteger as terras e subjugar os escravos gerou a necessidade de urbanização em torno de uma estrutura incipiente de formação urbana de poder (algo parecido com os núcleos urbanos denominados de burgos que só viriam a se formar na Idade Média).

As guerras de conquistas territoriais, que datam dos últimos milênios (no Egito dos faraós já se escravizava), concomitantes à formação de núcleos urbanos desenvolvidos como Atenas e Roma, marcam o recrudescimento da escravização direta voltada para a produção. 

A palavra tripalium (que designava um instrumento de tortura usado contra os escravos) está na origem do termo trabalho, hoje impingido sub-repticiamente pela sociedade do capital como fonte da dignidade cidadã.  

Os institutos jurídicos formatados pelo direito romano, criado para dar sustentação legal à ordem militarizada daquele império (Roma tinha 1 milhão de habitantes e 80% destes eram escravos, tal como hoje ocorre sob a forma dita moderna), foi a base da posterior ordem feudal. 

O feudalismo, do escravismo dos servos, era baseado no absolutismo monárquico-eclesiástico (a era da cooptação do cristianismo revolucionário, anti-Império Romano, que acabou sendo colocado a serviço da opressão escravista).

E, do ponto de vista ideológico, pode ser definido como fisiocrata (doutrina segundo a qual a riqueza provinha da terra e a propriedade da riqueza material por ela representada seria a fonte da vida e do poder. 

Sob o feudalismo, o capital incipiente ainda não dava as cartas.

Paulatinamente, o aumento substancial do número dos mercadores (tidos pela sociedade feudal como párias sociais) aos poucos foi ganhando importância e respaldando a criação de núcleos urbanos sedentários de comercialização, alterando nos fundamentos das relações sociais de então.

Tal processo dialético histórico milenar provocou a evolução para o fenômeno do mercantilismo, momento histórico que criou a sociedade burguesa (derivada dos burgos urbanos) e a aperfeiçoou ,criando nova estrutura de poder:(o republicanismo burguês, cujo desenvolvimento e correspondente processo dialético histórico vivemos atualmente, e que está a pedir passagem para uma nossa ordem social. (por Dalton Rosado – continua neste post)
Vídeo de Ano Novo do grupo Crítica
Radicalnarrado pelo Dalton Rosado

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails