josias de souza
RIVAL DE PAULO GUEDES É BOLSONARO, NÃO MARINHO
Criticado pelo colega Rogério Marinho num encontro com operadores do mercado, Paulo Guedes bateu abaixo da linha da cintura: "Furar teto para ganhar eleição é irresponsável com as futuras gerações".
A frase contém um acerto e um erro. Guedes acerta ao condenar o populismo eleitoral. Erra no endereçamento da mensagem. Chama-se Jair Bolsonaro o destinatário correto da resposta. É ele quem força o teto para colocar em pé o programa Bolsa 2022.
Segundo a superstição bolsonarista, Guedes é um superministro. Bolsonaro reiterou na sua live de 5ª feira: "Ele é o cara da política econômica. A palavra final é dele."
Cuidou de esclarecer: "O Paulo Guedes continua com 99,9% aí de confiança comigo. Eu deixo 0,1% porque quando eu quero mudar uma coisinha eu digo: 'PG, não é 100%, não, porra; 0,1% é meu. Qual é? Você quer 100%? Você está muito guloso'".
A boa notícia é que a taxa de empulhação presente no discurso do presidente da República não sofreu nenhum acréscimo. Continua nos mesmos 100%. Assim como Sergio Moro dispunha de carta branca e a política do toma lá, dá cá com o centrão era coisa do passado, a palavra final na economia é do Posto Ipiranga.
Sim, mas há a porra do 0,1% que permite a Bolsonaro mudar uma coisinha. Que diabos, ninguém é de ferro!
É nesse redutor que se encaixa o segredo de polichinelo que Rogério Marinho contou em reunião fechada com a turma do mercado.
De acordo com o ministro do Desenvolvimento Regional, o programa Renda Cidadã, versão vitaminada do Bolsa Família, será lançado em janeiro da melhor ou da pior maneira.
Ficou entendido que Bolsonaro, operando no modo reeleição desde o dia da posse, não exclui a hipótese de furar o teto de gastos.
Se houver uma segunda onda do coronavírus, "nós vamos furar o teto de novo", respondeu Guedes, evocando a emergência pandêmica deste ano de 2020. "Agora, sem doença, furar o teto pra fazer política... É outro governo, não é o nosso."
O ministro da Economia ainda não percebeu, mas ele e Bolsonaro vivem há algum tempo em governos diferentes. Há três mundos em Brasília: o de Guedes, o de Bolsonaro e o mundo real.
No mundo de Guedes, nós temos o compromisso de manter o teto de gastos.
No mundo de Bolsonaro, quando eu quero mudar uma coisinha eu digo: 'PG, não é 100%, não, porra; 0,1% é meu. Qual é?'.
No mundo real, um Brasil submetido à mortandade do coronavírus e à recessão vê-se submetido a um terceiro flagelo: a falta de governo.
Acusado por Rogério Marinho de ser o autor do ciclismo fiscal que previa financiar o Bolsa 2022 com um calote na dívida dos precatórios e uma mordida no Fundeb, Paulo Guedes chamou o colega de Esplanada de despreparado, desleal e fura-teto.
Num telefonema a Bolsonaro, pediu providências. Exceto por uma nota anódina emitida pela pasta do Desenvolvimento Regional, nada sucedeu.
Se Marinho chegar à 2ª feira com a cabeça equilibrada sobre o pescoço, restará a Guedes uma de duas alternativas: ou pede para sair ou se muda da Granja do Torto, onde reside atualmente, para a casa descrita na célebre canção de Vinicius de Moraes.
Os versos relatam que "Era uma casa / Muito engraçada / Não tinha teto / Não tinha nada / Ninguém podia / Entrar nela, não / Porque na casa / Não tinha chão".
A casa descrita pelo poeta fica na Rua dos Bobos, número zero. (por Josias de Souza)
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