domingo, 23 de dezembro de 2018

DALTON ROSADO E A ESTÉTICA DO MURO – 1

"O muro será pago muito facilmente,
pelo México" (Donald Trump)
A delimitação de fronteiras, conceito que envolve a existência de países e seus interesses nacionalistas, já é, em si, um ato de exclusão internacional patriótica. Embute, implicitamente, a convicção de que o conceito de cidadania faz com que existam indivíduos sociais de segunda classe (a maioria), os pobretões; e de primeira classe (a minoria), os ricaços. 

Dependendo da capacidade financeira se pode tranquilamente conseguir visto de permanência nos chamados países do 1º mundo; entretanto, aos deserdados da sorte (social financeira) é negado o direito à cidadania. 

Cidadania é isto: a formatação do homo economicus a partir da divisão explícita de classes sociais, na qual existe uma única unidade: a obrigação de pagar impostos. Assim mesmo, com alíquotas capciosamente diferenciadas (quem pode mais paga menos, quem pode menos paga mais).

O cidadão explorado pela extração de mais-valia é também espoliado pelo pagamento de impostos a um Estado opressor, gerenciado por políticos hipócritas e corruptos que se fazem passar por homens públicos.   
A Fortaleza que os cartões postais mostram...
Na cidade onde moro, a bela e trágica Fortaleza, ocorre o mesmo que em todas as cidades do mundo: uma cisão social mais ou menos acentuada, dependendo do grau de apropriação da riqueza abstrata por parte do capital sediado em um ou outro país.

Fortaleza conta hoje com cerca de 2,6 milhões de habitantes; a região metropolitana. com mais de 3 milhões.

Há duas Fortalezas. 

Uma com cerca de 500 mil habitantes residindo em prédios urbanos de luxo, entre restaurantes refinados, hotéis cinco estrelas, a efervescência beira-mar e praias que são iluminadas pelo sol intenso ou pelas luzes de uma feérica e frenética vida noturna.    

Outra, um cinturão de pobreza onde cerca de 2 milhões de seres humanos moram em ruas com pavimentação precária, casas majoritariamente não atingidas pelas redes de esgoto sanitário, sistema de iluminação pública ineficiente e de transporte demorado.  
...e o bairro miserável que eles nunca mostrarão.

Ou em favelas cuja alegria e tristeza é uma incógnita sociológica (talvez a despreocupação dos que nada têm a perder a não ser as suas atribulações diárias).

Há um ponto em comum entre estas realidades díspares: a violência urbana, pois os bandidos já se deram conta de que é compensador assaltar os ricos em suas residências isoladas e tristes. 

Os bandidos devem ter concluído, com os políticos e com o próprio capital, que certo mesmo está o Millôr Fernandes: “Se disserem que o crime não compensa, você tem de lembrar que é porque quando compensa não é crime”. 

Face à violência urbana constroem-se muros e os que podem pagar reforçam a coisa mediante a instalação de cercas elétricas com monitoramento de vigilância eletrônica e guardas armados (afinal, para os abastados é mais fácil pagar por segurança do que discutir a causa primária dela). 

Ultimamente, os altos muros de alvenaria passaram a ser construídos com grades de ferro ou de vidros que permitem ver a beleza arquitetônica desses bairros ricos que abrigam os 20% da população com bom ou ótimo poder aquisitivo. 

Como seria bom se existisse democracia urbana! Aí, abolida a riqueza abstrata, ao invés de tal apartheid social haveria simetria de aceso à riqueza material por todos produzida, com a alegria dos bairros pobres transpondo o muro que a separa da opulência triste dos bairros ricos.  (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

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