A delimitação de fronteiras, conceito que envolve a existência de países e seus interesses nacionalistas, já é, em si, um ato de exclusão internacional patriótica. Embute, implicitamente, a convicção de que o conceito de cidadania faz com que existam indivíduos sociais de segunda classe (a maioria), os pobretões; e de primeira classe (a minoria), os ricaços.
Dependendo da capacidade financeira se pode tranquilamente conseguir visto de permanência nos chamados países do 1º mundo; entretanto, aos deserdados da sorte (social financeira) é negado o direito à cidadania.
Cidadania é isto: a formatação do homo economicus a partir da divisão explícita de classes sociais, na qual existe uma única unidade: a obrigação de pagar impostos. Assim mesmo, com alíquotas capciosamente diferenciadas (quem pode mais paga menos, quem pode menos paga mais).
O cidadão explorado pela extração de mais-valia é também espoliado pelo pagamento de impostos a um Estado opressor, gerenciado por políticos hipócritas e corruptos que se fazem passar por homens públicos.
A Fortaleza que os cartões postais mostram... |
Fortaleza conta hoje com cerca de 2,6 milhões de habitantes; a região metropolitana. com mais de 3 milhões.
Há duas Fortalezas.
Uma com cerca de 500 mil habitantes residindo em prédios urbanos de luxo, entre restaurantes refinados, hotéis cinco estrelas, a efervescência beira-mar e praias que são iluminadas pelo sol intenso ou pelas luzes de uma feérica e frenética vida noturna.
Outra, um cinturão de pobreza onde cerca de 2 milhões de seres humanos moram em ruas com pavimentação precária, casas majoritariamente não atingidas pelas redes de esgoto sanitário, sistema de iluminação pública ineficiente e de transporte demorado.
...e o bairro miserável que eles nunca mostrarão. |
Ou em favelas cuja alegria e tristeza é uma incógnita sociológica (talvez a despreocupação dos que nada têm a perder a não ser as suas atribulações diárias).
Há um ponto em comum entre estas realidades díspares: a violência urbana, pois os bandidos já se deram conta de que é compensador assaltar os ricos em suas residências isoladas e tristes.
Os bandidos devem ter concluído, com os políticos e com o próprio capital, que certo mesmo está o Millôr Fernandes: “Se disserem que o crime não compensa, você tem de lembrar que é porque quando compensa não é crime”.
Face à violência urbana constroem-se muros e os que podem pagar reforçam a coisa mediante a instalação de cercas elétricas com monitoramento de vigilância eletrônica e guardas armados (afinal, para os abastados é mais fácil pagar por segurança do que discutir a causa primária dela).
Ultimamente, os altos muros de alvenaria passaram a ser construídos com grades de ferro ou de vidros que permitem ver a beleza arquitetônica desses bairros ricos que abrigam os 20% da população com bom ou ótimo poder aquisitivo.
Como seria bom se existisse democracia urbana! Aí, abolida a riqueza abstrata, ao invés de tal apartheid social haveria simetria de aceso à riqueza material por todos produzida, com a alegria dos bairros pobres transpondo o muro que a separa da opulência triste dos bairros ricos. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)
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