O GOVERNO É CIVIL
O futuro das incertezas e dos temores com o governo Bolsonaro depende, a rigor, de um fator dominante sobre todos os demais. E ausente das cogitações atuais por ainda faltarem motivos que o tornem perceptível.
Em todas as possíveis circunstâncias que não sejam de aceitação majoritária com o andar de tal governo, os outros Poderes e a legislação dispõem de variadas medidas corretivas. Aplicá-las, porém, não decorre só de existirem.
As injunções políticas e os interesses representados no Legislativo e no Judiciário combinam-se como força decisória. Não, porém, no caso de Bolsonaro.
Se as coisas desandarem, o importante para antever o seu rumo será desvendar quanto os militares estarão dispostos a empenhar em barragem de proteção a Bolsonaro. O que dependerá da identificação, ou confusão, entre o Exército e o governo conduzido por ex-ocupantes das suas casernas.
O trabalho para criar essa identificação vem desde a campanha, à qual deu contribuição por certo significativa.
O trabalho para criar essa identificação vem desde a campanha, à qual deu contribuição por certo significativa.
...hoje força a identificação de sua imagem com a do Exército |
Mas sua intensificação pós-resultado eleitoral ganha proporções mais do que inadequadas.
Fazer tocar o hino do Exército, p. ex., no saguão do hotel onde ocorrem as reuniões do círculo de Bolsonaro é abusivo.
Até que se constate o contrário, se isso acontecer, o governo será poder civil.
Mesmo os generais reformados que vão para ministérios administrativos estarão em cargos civis, sem diferença do advogado e do político em outro ministério.
E, com a forçada identificação, o que o Exército ganha não lhe convém, nem ao país: é o risco de ser identificado com possíveis insucessos de Bolsonaro e seu governo.
Além do mais, há uma contradição que inclui todos os modos de explorar a imagem do Exército utilizados agora e desde os primeiros passos de Bolsonaro na vida política. Se preza tanto o Exército, por que não agiu de modo a ser bem aceito nele?
Citada várias vezes em dias recentes, a frase de Geisel é terminante: "Bolsonaro é um mau militar". Indesejado por desordem e insubordinação, foi induzido e conduzido à reforma.
É sintomática a manchete de hoje! |
A identificação é buscada, em parte está atingida, mas não é autêntica nem legítima.
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Observações do editor de forma sutil, como se fazia necessário num artigo para a grande imprensa, o veterano Jânio de Freitas veio ao encontro de uma preocupação minha de primeira hora: a tendência de o novo governo fracassar de forma retumbante e a importância da postura que os altos comandantes militares adotarão quando tal acontecer.
Eis como, com a liberdade de um blogueiro que não é obrigado a aparentar um um distanciamento que verdadeiramente inexiste na vida e na mídia, abordei o assunto logo no dia seguinte àquele domingo maldito no qual 39% dos eleitores brasileiros resolveram fechar os olhos e dar um salto no escuro (bota trevas nisso!):
"A primeira lição de sobrevivência nos dias difíceis que nos aguardam em 2019 é: não atirarmos as Forças Armadas nos braços do inimigo.
O altos comandantes militares estão cientes de que a situação brasileira é extremamente delicada, de que não há soluções fáceis para fazer a economia voltar a crescer e de que desembestar o uso da força de nada servirá, como nada resolveu na intervenção no Rio de Janeiro (por eles desaconselhada desde o primeiro momento).
Ademais, não estão dispostos a atrelarem-se a projetos pessoais (conforme Carlos Lacerda constatou em 1964), nem a comprometerem seu prestígio associando-se aos desatinos de um personagem que veladamente excluíram do seu circulo. Quando dão golpes de Estado, põem no poder generais, não capitães.
Radicalização dos marinheiros ajudou golpistas de 1964 |
Mas, se as turbulências gerarem uma situação insustentável, forçando os militares a escolherem entre o governo (que terá se tornado) impopular e os que o estiverem enfrentando nas ruas, os fardados tendem a tomar o partido do primeiro, ainda que a contragosto.
Precisaremos evitar a qualquer preço um confronto fora de hora, com uma correlação de forças totalmente desfavorável a nós, pois isto só beneficiaria nosso pior inimigo". (por Celso Lungaretti)
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